Me foram oferecidos dois pares de roupas novas que se ajustavam perfeitamente ao meu corpo. Mas honestamente, elas são ambas simples e de um horrível vermelho gritante o que me faz sentir como se tivesse usando uma blusa branca como a de qualquer aldeão, mas que foi manchada por sangue fresco.
Por esta causa, me satisfiz vestindo meu velho, porem recém lavado e reparado, conjunto azul e branco de Kreg decorado com detalhes em preto e dourado.
Um casaco simples, um lenço branco no pescoço, shorts azuis-marinhos e uma meia-calça preta, simples, mais ainda infinitas vezes melhor do que as roupas que me foram oferecidas.
Assim que acabei de me vestir notei que Moli continuava no lugar em que eu a deixara, na frente da minha porta aberta. Bem, as chances de evitá-la eram poucas mesmo.
— Está pronto cavaleiro? — dizia ela com o mesmo tom educado e zombeteiro ao mesmo tempo.
— Há bons modos aqui governanta? Meu quarto não possui nenhuma fonte de luz, sou obrigado a deixar a porta aberta para poder ler, no mínimo gostaria de um pouco de privacidade. — Posso ter soado um pouco rude, mas ela foi quem começou isso.
— Castiçais em quartos fechados não fariam bem para o seu delicado corpo cavaleiro, além disso, a luz do dia é forte suficiente, tudo esta sendo feito para o seu bem. — Seu sorriso parecia uma muralha, frio e calculado para ser gentil, nem um pingo de hesitação.
— Entrando no assunto sobre fortes fontes de luz, espero que esse "tour" se resuma a uma exibição dos salões de bailes e quartéis, pois, me recuso a andar por uma muralha ou simples praça com essa manhã luminosa.
— Estamos cientes de sua alergia a sol, por esta causa encomendamos da França um aparato que pode te ajudar a superar esta pequena limitação. — Superar uma limitação? É o mesmo que dizer "arranjar um jeito para que ele pare de usufruir de seus benefícios" Esta mulher está fazendo isso de propósito e nem tenta esconder suas intenções!
— E o que seria?
— Um sombreiro, originário dos países orientais é um utensílio ornamentado que protege a alta classe de bronzear suas peles. — Seu tom de voz parecia tão sério quanto o de um mercador vendendo sua melhor seda, se não fosse por um detalhe, que me dava certeza de que ela estava zombando de mim.
— Uma sombrinha, penso que se refira ao item que as damas da corte usam para se enfeitar? Esta a tentar zombar de mim em plena luz do dia?
— Ao contrário, tento ajudar, pois, o cavaleiro pode andar exposto e voltar desposto de pele se preferir. — Um bom argumento, eu devo admitir que não tenho muita escolha, aliás, duvido que um simples"cavaleiro" possa possuir uma carruagem pessoal que o leve aonde for necessário 12 horas por dia.
— Nesse caso suponho que não há outra opção, então me faria o favor de apresentar o tal sombreiro? — Posso ter deixado escapar um pouco de frustração em minhas palavras, mas olhe só! Terei que desfilar por aí com um assessório de beleza feminino até que o conselho finalmente tome esta maldita decisão!
— Claro, ela foi feita sob medida para o cavaleiro e para o seu agrado, não é vermelha, a customizamos com detalhes simples para que não se sinta embaraçado e contém as cores da bandeira de Kreg, acredito que ira agradá-lo. — Ela podia ser uma ótima vendedora, sua voz era calma confiante e muito convincente, mas eu nunca ficarei satisfeito com um assessório feminino, principalmente um feito especialmente para mim! Há maior vexame?
Ela me apresenta uma sombrinha que esteve o tempo todo deitada ao lado da porta, eu simplesmente não tinha notado-a. Ela era exatamente como a governanta a descrevera. Simples e ornamentada com preto e azul-marinho além de simples linhas em dourado, não tinha rendas nem babados, pegando o cabo de suas mãos, notei que era mera madeira pintada de branco, confortável, e servia a minha altura perfeitamente. Mas ainda era vergonhoso.
Com a sombrinha aberta no ombro e todos os serviçais me observando, eu e a governanta saímos dos dormitórios ao encontro do príncipe. Ou era isso que eu esperava. Nós não fomos ao encontro do Príncipe, nos fomos encontrar ele.
Por primeiro estranhei que estivéssemos andando por tanto tempo, mas quando perguntei a governanta onde exatamente o príncipe se encontrava ela respondeu um simples, em algum lugar.
Saímos dos dormitórios e passamos pelos longos corredores dos ateliês de ofício do castelo, a governanta me explicava calmamente o objetivo de cada cômodo e o significado das raras estátuas que decoravam as paredes. O Castelo de Castela era muito maior do que qualquer outra fortaleza de Kreg, mas, em contrapartida, era simples e objetivo. Como já disse antes, algumas estátuas de cavaleiros e mestres de ofício eram as únicas decorações nos imensos corredores. As oficinas eram práticas e arquitetadas somente para ajudar o mestre de ofício em suas tarefas. A carpete vermelho em contraste com as paredes de tijolos de barro branco, era a única coisa que sempre me lembrava que ainda estávamos em um recinto da nobreza.
Depois de muitas curvas e portas o corredor se abriu em uma escada que levava a um grande salão de festa, ele era tão grande que não seria exagero dizer que ali cabiam todos os moradores daquele castelo com espaço de sobra. Além de imenso e vermelho, esse tinha magnificas pinturas que cobriam todo o teto e metade das paredes. Em cores vivas e a típica arte rústica de Castela, as pinturas contavam toda a história da fundação daquele país.
A governanta ficou finalmente em silêncio enquanto atravessamos os salões como se fizesse um ritual de respeito ela não pronunciou uma palavra o trajeto inteiro. Aliás, os quadros contavam sua história por si só. O primeiro salão tinha uma atmosfera fria e séria, retratando o abuso de Kreg a seus cidadãos e a formação da resistência.
O Segundo salão tinha cores mais claras e uma atmosfera mais leve enquanto revelava a criação do "paraíso" que não era nada mais do que o quartel da resistência no norte da ilha onde hoje é Castela, os aldeões eram atraídos pela promessa de uma terra livre dos antigos lordes.
O terceiro salão era o maior, e muito mais vermelho. A batalha de 2 anos entre a resistência e os lordes, era estampada com cores vivas e a figura de importantes generais conduzindo tropas formadas por nada mais do que camponeses e fazendeiros contra os soldados de armadura de Kreg. Terrível e, ao mesmo tempo, lindo. O final do salão que levava ao próximo cômodo mostrava a coroação do jovem primeiro cavaleiro rei, Teodoro.
O último salão não era tão grande quanto o restante, mas também não menor que os outros, ele revelava a morte do primeiro rei e a coroação de seu primo Arthur primeiro além da construção da capital.
Meus pés já estavam doendo e eu estava chegando no limite de quanto um homem pode ser humilhado quando a governanta decidiu passar na padaria para pegar nosso chá e biscoitos antes de descermos para o pátio do castelo.
O pátio era tremendamente de descomunal, brilhante, e, vermelho. Haviam plantas com folhas vermelhas, decorações de vidro, vermelho. Estátuas vermelhas decoravam o jardim. Em outras palavras, desagradavelmente casteliano.
E até agora, nem uma noção da onde o príncipe poderia estar.
A governanta não parecia incomodada ou no mínimo impaciente, ela meramente estava cansada. Se dirigindo a uma mesa de pedra ela deixou a bandeja de chá e biscoitos ali e surpreendentemente soltou um alto chamado enquanto olhava em direção as árvores.
— Meu Pequeno Príncipe! Tenho chá e biscoitos, venha comer!
Estava tentando calcular a efetividade de tão ação vulgar quando repentinamente uma grande sombra vermelha caiu de uma árvore bem na minha frente.
— Eu recuso! — gritou o que agora era identificável como um garoto da minha idade envolto no uniforme militar vermelho gritante de Castela.
— Aí esta você, está atrasado para o chá com o cavaleiro de Kreg. — disse a governanta tão calma como sempre, como se tivesse previsto tudo aquilo.
— Eu me recuso! — bradou novamente o garoto ainda cheio de folhas em seus cachos loiros, nada higiênico, esperado de um príncipe de um reino tão bárbaro.
— Vossa alteza faria a honra de responder a esse mero cavaleiro o porquê da repentina revolta?
— A tudo! Sua presença, seus planos, seu jeito esquisito de falar e a sua própria existência!
Isto será uma longa irritante e inconfortável discussão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Herdeiros de Theia
Ficção HistóricaAlamex tem somente 5 anos, mas este pequeno gênio não se importara em destruir algumas vidas pela própria paz. Prince não passa de uma criança, o único que fará de tudo para deter um pequeno ditador cruel de assumir suas terras. Essa historia é um r...