Herdeiros de Theia

XXI- Planos para a viajem -II-

Calmante, finalmente encerrei a pausa do almoço. Naukar teve que re-esquentar a comida, felizmente a qualidade permaneceu a mesma.

Ao acabar de comer me lavo e me fecho em meu quarto. Como sempre estava limpo e fresco, em resumo extremamente confortável. Estava prestes a cair no sono quando um grito agudo e desafinado me acorda. Não era um alarme e definitivamente não vinha do meu quarto. O ruído lentamente desvanece para voltar com mais força, finalmente reconheço o som como um grito. E eu só conheço uma pessoa que possui a capacidade de produzir um ruído tão alto. Algo deixou o nosso normalmente barbaramente pacífico herdeiro barbaramente bárbaro. Eu fecho as janelas e portas. Tampo minhas orelhas. Nada adianta, eu ainda posso o ouvir.

A torre do sino. Ouvi rumores de que ele costumava gritar de lá ser ouvido por toda a capital, mas nunca imaginei ser possível. Bem agora sei ser irritantemente possível.
Teoricamente falando é impossível alguém gritar tão alto, mas conhecendo as propriedades do corpo de vossa alteza tenho certeza que com uma boa localização e as condições certas ele seria capaz de espalhar sua voz por toda Camelot. Por exatos dez minutos ele gritou. Por cerca de meia hora ele chorou.

Quando a barulheira infernal finalmente acaba percebendo que os sinos batiam uma hora da tarde. Sinto que cada dia que passo aqui desgasta anos do meu corpo.
Naukar perguntou quais são meus planos. Sinceramente, atualmente eu não tenho ideia. Foi ainda hoje que recebi em mãos os documentos de minha adoção, logo em seguida uma proposta de viagem. O sol está forte demais para sair em busca de mais respostas, mesmo com a "sombrinha".

Eu me deito na cama. Meu quarto é escuro e confortável, sinto lentamente minha consciência se tornando mais fraca. Levanto em um pulo para me manter acordado. Não posso dormir antes de revisar meus planos para amanhã.

Me sento em minha escrivaninha e começo a rabiscar meu caderno de notas. A pesquisa tem como finalidade provar se as profecias são ou não verdade. A ideia é usar meu patrocínio para financiar os fundos para a viagem. Eu e o herdeiro estamos na profecia e procuramos respostas, essas são as únicas duas qualidades que se precisa para encontrar o sucessor do profeta. Teremos de estar sozinhos... Estou começando a repensar esta ideia.

De qualquer modo, não posso sair do jogo de Rômulo. Se sua pesquisa for um sucesso e conseguirmos provas de que o profeta é falso. Terei não só meus direitos como herdeiro de volta como o rei terá que repensar minha proposta. E, claro, Rômulo ficará mais rico e famoso do que já é. Mas ainda me parece estranho, uma pessoa tão devotada a seu país, capaz de se infiltrar no território inimigo e arriscar sua vida pela sua cultura, querer provar que a própria está errada. Dinheiro com certeza não é seu objetivo e eu duvido que ele seja tão devoto a sua pesquisa quanto diz ser. A única outra resposta é que ele ficou mole e está fazendo isto por mim. . . Fora de questão.

Respiro fundo e deixo o caderno de lado, não será produtivo continuar assim. Olho mais atentamente para me quarto. A parede de trás era uma estante coberta de livros. Nossa rota provavelmente será pré estabelecida, mesmo assim, é bom checar nosso destino. Me aproximou e examino os livros melhor até achar o que estava procurando. "livro de registro das atividades das casas nobres e afiliados da Europa (1708-1713)", o mais novo volume importado da Inglaterra. Esse livro foi minha única condição para aceitar o decreto do rei, uma oportunidade bem usada. Mas voltando ao livro... Dês da aparição de Nabee esses livros começaram a contar "profeta" como um título nobre e a registrar cada um de seus passos. O capítulo dedicado ao novo profeta era curto em meio as ações dos nobres pelos últimos cinco anos. Incrivelmente até eu tinha uma seção com mais informação. Nenhuma surpresa já que profecias costumam ser segredo nacional.

A única coisa útil que pude extrair do livro foi um mapa da Europa com alguns pontos e datas espalhados que informavam quando e ande o profeta foi visto. A data mais recente foi de cerca de um mês atrás, o verdadeiro problema era a localização, Gibraltar. Uma cidade que mesmo antes da guerra já tinha fama por toda Europa. Uma fortaleza de mais de 600 anos que supera qualquer ataque surpresa, um ponto estratégico na guerra marítima com portos para às três direções. Um território recém dado para Inglaterra em forma de selar um tratado de paz. Em outras palavras um lugar cheio de guardas ingleses armados e civis espanhóis furiosos. Chances de voltar vivo, 68%. Distancia, cerca de cinco dias de barco e nove dias de carruajem no pior caso.15 dias de ida e 15 para a volta. Duração total de um mês de vigem com pausas para reabastecer suprimentos mais uma semana para achar o profeta. Clima, horrendamente quente. Minha vontade de ir para la? Zero.

Mas já que não tenho escolha é melhor começar a arrumar minha bagagem. Olhando para meu quarto agora me lembro que não trouxe comigo nada de Kreg além das roupas do corpo e do meu baú de documentos que agora serve melhor de banco do que para guardar algo. Também não tive muito tempo já que os soldados castelhanos anos insistiram em me carregar em seus braços assim que me viram.

Voltando a estante escolho dez livros de temas como psicologia, história e política que ainda não li e os separo em minha escrivaninha. Isso deve ser o bastante, ou deveria pegar mais uns dois? Não só o trajeto será demorado como eu tenho que considerar que talvez passemos dias sem fazer nada além de esperar o profeta se revelar...

QUE RAIOS EU ESTOU FAZENDO? Levanto o herdeiro para uma viagem de campo? Falando de forma realística, minhas chances de ter uma vida pacífica e luxuosa são mínimas.
Estou realmente disposto a ter que usar um banheiro público pelo resto da minha vida? E andar por aí com aquela sombrinha de senhora? Brincando de ser a marionete de Rômulo?!
Definitivamente não!

Preciso de um plano para sair dessa situação. Não, mesmo se eu ficasse rico aqui ainda não seria suficiente para me livrar desses incômodos. Eu necessito de um modo de fugir deste país.

A viagem foi planejada sem minha permissão, o que significa que também é irrecusável. Mas eu provavelmente conheço nosso destino melhor do que a pessoa que planejou essa viagem.
Abro meu bau pela primeira vez desde que o fechei em Kreg. Tudo continuava ali, um pouco bagunçado pelos soldados quem capturaram. Do fundo tiro um dos únicos livros que trouxe da biblioteca de Kreg. "Cidades importantes do continente europeu" Era um atlas pesado de mais de 20 anos, mas um dos únicos que continha a planta de 74% das fortalezas da Europa, e isso incluía Gibraltar.
Cuidadosamente rasgo o mapa para fora do livro. Estava em boas condições então não havia tanto risco de danificar o livro. Disto a página quatro vezes até caber em um dos livros de história da minha bagagem. Em seguida volto para o "livro de registro das atividades das casas nobres e afiliados da Europa (1708-1713)", dessa vez reviso as casas nobres das cidades vizinhas a Gibraltar.

A cerca de quatro corações hipotéticas da qual posso me aproveitar e uma aonde terei que abortar meu plano.
Na primeira uma rebelião dos civis contra a guarda armada está em curso quando chegamos. Nessa hipótese nós teríamos que deixar a carruagem antes de entrar na cidade para averiguar a situação. Na segunda hipótese a rebelião acontece enquanto estamos na cidade. Essa é a melhor situação onde eu posso facilmente "morrer". Na terceira hipótese a rebelião começa quando saímos da cidade. Nesse caso posso simplesmente cogitar que ajudemos os civis inocentes, o herdeiro nunca recusaria. Na quarta a rebelião não acontece. Não é a situação ideal, mas eu poso facilmente convencer um líder religioso a lutar pela liberdade do povo ou coisa parecida. Em todos os casos eu posso me perder na confusão e usar a rota comercial para pagar uma caravana me levar a cidade ao lado. Terei no total dinheiro suficiente para três pessoas se sustentarem por 15 dias, ou seja, um mês contando despesas extras como transporte e disfarce. Um dos lordes da região tem uma esposa estreia e o outro é, na verdade, uma viúva sem filhos.  Buscam um bom herdeiro. A Espanha é uma pais economicamente e politicamente estável que oferece boas oportunidades para jovens nobres escalarem títulos. Se eu der um jeito de colorir me cabelo já posso dar como desaparecido ou morto e recomeçar me registrando na cidade como um jovem órfão. O dinheiro dará para uma residência suportável e começar a financiar alguns jovens comerciantes, se eu dar sorte posso recuperar a quantidade original em um mês. O próximo passo é entrar em uma academia e esperar ser notado pelos nobres. A única situação onde eu falarei será se encontramos o profeta antes de chegar a cidade... Além de quase impossível já me arrisquei em Planos maiores.

Alguém bate na porta. Naukar havia voltado. Tranco meu caderno de notas e os livros rapidamente no baú e vou atender a porta.

- Pensei ter dito que não quero ser incomodado. A que assunto urgente devo a interrupção?

- com sua permissão cavaleiro, trago a rota e lista de suprimentos para a viagem. Pensei que seria de seu agrado as revisar antes da viagem.- diz a voz atrás da porta fechada.

- obrigado, pode os deixa em minha cama.- assim que acabo de pronunciar tais palavras Naukar silenciosamente entra no quarto d deixa uma pilha de papéis soltos sobre minha cama. Sem demora ela abandona o aposento novamente.
Lanço um olhar sobre o primeiro papel da pilha. Não pude conter de sorrir. A rota é exatamente a que previ.