Nosso posto ficava no lado oeste de Castela. Banu não estava nada satisfeita com isso, já que Kreg estava atacando o lado leste. Sinceramente eu estava muito aliviado com a minha entrada no campo de batalha sendo atrasada. Banu e os irmãos Tabo, tem aulas de exercício militar desde que podiam segurar uma espada, mas eu só tive dois anos desastrosos de aula de combate! Quando finalmente chegamos já era noite, a primeira coisa que notei ao sair da carruagem foi o cheiro. Sopa de legumes e cordeiro feito na fogueira. Eu não comia desde manha e aquele cheiro estava me matando. Fomos conduzidos ao que parecia uma pequena cidade feita de cabanas vermelho e branco.
Haviam homens correndo para todo lado, forjas eram acendidas e armaduras polidas. Parecia que todos os homens tinham tarefas para fazer toda a noite. Fomos conduzidos para uma espécie de pátio improvisado com bancos feitos de troncos e terra batida. Finalmente fomos servidos com uma tigela cada, mas eram tigelas servidas até a borda de sopa concentrada e um pedaço de carne em cima. Tínhamos que usar as mãos para comer(fomos obrigados a as lavar), mas isso não afetou o sabor da comida.
Após satisfeitos e revigorados da viagem esperamos no pátio os últimos recrutas chegarem. Eu estava tranquilamente tirando um cochilo no meu tronco quando o nosso general se levantou e subiu em uma pedra e começou a discursar:
— Atenção! — Todos se levantaram e ficaram em posição, naturalmente eu não tive uma reação tão rápida e fui do tronco direto ao chão. Assim que todos estavam em silêncio e posicionado ele continuou:
— Todos os cadetes respondam quando seu nome for chamado, mas antes da chamada gostaria de fazer um pequeno discurso. A guerra já começou, Kreg já conquistou metade da zona neutra. — Murmúrios começaram a se espalhar.
— Você sabia? — Tado II a minha direita cochichou para Banu na minha esquerda.
— Não, mas tinha um palpite, meu pai parecia ter envelhecido anos antes de irmos para aqui. Agora sei a causa.
— Não sanguifica que estamos em grande desvantagem? — Perguntava Tabo I ao lado de Tabo II, Tabo I era calmo quieto, até agora não tinha o visto perder sua compostura. Posso não entender de militarismo, mas sei que as coisas não estão boas para nos.
— Silencio. A ordem do general ecou pelo acampamento.
— Sim, como todos já perceberam estamos perdendo, mas isso é a guerra. Perdemos uma batalha, a guerra ainda não começou. De acordo com os estrategistas Kreg já esta se movendo para uma segunda investida no lado leste. Ficaremos aqui... Pelo menos por uma semana. — Oye! Bradaram os soldados. — Não posso dar mais detalhes, mas vocês já sabem, Castela é um reino de Guerreiros respeitáveis! Os soldados de Kreg são preguiçosos e desorganizados, lutam pelas suas vidas e não para proteger sua família. Um guerreiro tem o dobro de força quando tem algo a proteger. Tenham medo e o usem para tomar ações prudentes, mas não se deixem dominar. Eu lhes asseguro meus casaleiros. Aproxima batalha sera nossa! — Uma segunda vaia de vivas foi vaia. Fiquei quieto e aterrorizado, era tarde demais para mim, o medo já havia tomado conta.
Depois da chamada fomos direto para cama. Era um monte de palha coberto com um lençol, me sentia de volta aos meus dias na zona neutra. Os Tabo pareciam extremamente desconfortáveis com isso, pelo menos em uma coisa eu me sobressaio!
Banu não se incomodou, estava cansada e assim que acabou de se trocar se deitou e não se mexeu mais. Isso difere esse lugar da zona neutra. Nunca que uma garota dormiria na mesma cabana que três garotos crescidos. Os irmãos, Tabo agiam normalmente como se ainda nem tivessem notado que Banu era uma garota, caíram no sono pouco depois. Eu não consegui dormir, não pela Banu claro. Eu estava em uma zona de guerra. Na minha bagagem tinha uma cota de malha. Ao lado de todas as camas uma espada estava deitada. Eu estava na guerra, e estava apavorado.
Para minha satisfação, não tive muito tempo para pensar nisso ou em Banu. Fomos acordados às quatro e meia da manhã para nos lavarmos e tomar café da manha. Depois recebemos nossas armaduras e lanças. Assim que acabamos de arrumar nossas coisas nas barracas nos foram distribuídas diferentes tarefas. Caçar, cortar lenha, erradicar pragas, polir e afiar armas, além de milhares de outras. Às onze da manhã tinha o "aquecimento" que não passava de um dos meus treinos completos quando estava no castelo. Corrida, puxar barras de ferro e combate. Pelo menos eu tinha os Tabo e Banu para pegar leve comigo. Depois almoçamos e voltamos as nossas tarefas. Às duas da tarde houve uma conferência com todos do acampamento sobre a situação do lado leste e centro.
Às três e meia tínhamos treino de formação, marchamos e aprendemos os comandos básicos. Nessa hora a diferença dos cadetes para os soldados veteranos ficaram obvia. Eles reagiam instantaneamente a qualquer ordem do general, como se fossem uma só pessoa. O resto do dia passou pacificamente. Aqueles que já haviam acabado suas tarefas podiam escolher o que quiser para fazer pelo resto do dia. A maioria de nós escolheu treinar combate. Aliviava nosso espirito saber que cada dia estaríamos mais fortes caso o inimigo atacasse de repente. Também me deixava muito mais calmo em questão a minha força. Talvez eu alcance o pequeno príncipe próxima vez que nos encontrarmos! Ao cair da noite Tabo I ainda não havia acabado suas tarefas. Em combate ele podia ser o melhor, mas em lavar roupas, costurar, cozinhar e limpar ele era um completamente inexperiente! Tabo II Banu e eu ficamos ao seu lado conversando e o motivando a acabar suas tarefas logo para que pudéssemos fazer algo juntos. Naquela noite ele não conseguiu. Acabamos por ir dormir primeiro porque já estava ficando tarde.
Quem diria que Tabo teria muitas mais oportunidades de recuperar o atraso! No dia seguinte repetimos a rotina. As coisas do lado leste pareciam cada vez piores. Tirando isso os treinos puxados deixavam meu corpo dolorido o dia inteiro. Serei capaz de lutar até a morte nesse estado? De acordo com o nosso general até a avozinha dele pode vencer um homem de Kreg quando se trata de uma luta até a morte. Morte, esse nome tem me assombrado cada vez mais. Não foi só Tabo I que aprendeu novas coisas. Eu também aprendi muitas coisas uteis como carpintaria, curtir couro e moldar armaduras. Perfumaria(alguns cheiros do acampamento eram indissipáveis de se tirar da pele), como cuidar de gado, consertar carroças e muitíssima outras tarefas aleatórias no eram dadas todos os dias. Tabo as terminava um pouco mais cedo todos os dias. No nosso tempo livre eu podia praticar minha esgrima, Banu era surpreendentemente uma ótima professora! Quando ficávamos exaustos jogávamos jogos e contávamos histórias uns aos outros, para falar a verdade, parecia mais que eu estava em um treinamento intensivo do que em um campo de batalha. Pelo menos até o final da primeira semana.
Às duas da tarde do domingo não foram notícias do lado leste que recebemos, mas sim o rei em pessoa. Castela havia decidido qual atitude tomar. Em vez de recuperar o território perdido, os estrategistas optaram por uma ofensiva surpresa. Era ora de atacar.
A sua figura de armadura montada era aterrorizante. Ele era muito mais alto do que qualquer um dos veteranos. Seu corpo parecia esculpido em uma rocha. Sua voz era firme e seus olhos demonstravam compaixão. Parecia uma pessoa totalmente diferente do bondoso senhor com que eu compartilhava minhas refeições no castelo. Ele tinha o mesmo olhar de quando me entregara aquela carta. O olhar de homem que é consciente do peso em suas costas, da vida daqueles que o seguem.Ele não discursou, nem descansou de sua viagem. Simplesmente nos disse para nos organizarmos em pequenos grupos de 50 homens que confiassem suas vidas uns aos outros. Depois disse para cada um nomear capitão. Em meu grupo todos concordaram em nomear Tabo I como nosso capitão, já que ele era o mais forte e experiente de todos nós. Todos meno o próprio Tado I! Ele insistiu que quando se dependia de uma pessoa para escolher as ações que tomar no campo de batalha, não deveriam escolher o mais forte, mas o mais experiente com essas categorias de situação e aquele que consegue manter melhor a calma em situações onde a própria vida esta em risco. Para esse cargo e escolheu baunilha. Que decorara todos os livros de estratégia de seu pai e tinha a tendência de deixar seu lado emocional de lado quando em risco de vida! Eu não entendi nada. Metade do nosso time também não entendeu. Os que já conheciam ou ouviram falar de Banu concordaram. Havia alguma história da qual eu estava por fora.No final Banu foi nomeada nossa Capitã. Olhei para ela procurando uma reposta. Ela sorriu para mim, pois a mão no meu ombro.— Quando tudo isso acabar, prometo te contar essa história. — Ela disse em um tom brincalhão.— E se nós não sobrevivermos? — Eu disse com toda minha sinceridade, aliás era uma possibilidade não era? — Mais uma razão para não morrer — Ela me respondeu antes de virar as costas e Ir na direção do general reportar nossa escolha.Tudo depois disso está borrado. Me lembro de cavalgar por horas, matar meu primeiro soldado. Me lembro de vomitar e ter pesadelos. Da mão gentil de Banu no meu ombro. A fome e a sede me dominando, o desespero que cada batalha trazia para minha alma. Da calma figura do rei nos liderando, nos dando esperança. Do rosto de tortura dos soldados de Kreg que lutavam contra sua vontade. Do sentimento da minha lamina cortando sua carne. O cheiro de sangue. Tudo era demais para mim. Eu só queria fugir, voltar para meu pai. Toda vez que olho para o rei me lembro que ele também tinha Prince o esperando. Prince provavelmente nunca cogitou a possibilidade do rei não voltar para casa. Porque o rei também não o cogitava, Banu e os outros também não o faziam continuavam a lutar para proteger suas famílias de Kreg.Eu não podia fazer isso. Quando achamos o acampamento vazie só senti alivio por não ter que lutar nem matar mais? Os outro ficaram com medo. Achamos as armas. Dezenas delas, vazias. Então eu ouvi os primeiros tiros. Minhas pernas não se mexeram, diferia de enfrentar um homem na sua frente e ver que ele também tinha medo. Era a morte que vinha em pessoa sem dó nem piedade. Banu chamou eu nome. Eu não respondi. Então eu caio. Não doía, mas eu não podia respirar. Meu corpo ficava frio, os soldados só passavam por mim, sem olhar para trás. Eu não consigo me mexer. Ouso a voz de Banu, continua a me chamar, mas fica cada vez mais fraca.
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Herdeiros de Theia
Historical FictionAlamex tem somente 5 anos, mas este pequeno gênio não se importara em destruir algumas vidas pela própria paz. Prince não passa de uma criança, o único que fará de tudo para deter um pequeno ditador cruel de assumir suas terras. Essa historia é um r...