XVI- Confronto

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Estar em frente as essas muralhas tão cedo me proporciona um sentimento estranho, já que somente ontem fui rudemente jogado para fora de seus domínios. Como sempre eram altas, feitas de imponentes tijolos brancos. Uma coisa estava diferente, isto eram as enormes placas de madeira com letras douradas gravadas. Grandes suficiente para que qualquer um com boa vista pudesse ler. Ler as palavras que condenavam minha paz. Bem, não por muito tempo.
Perambulando de um lado para o outro, os guardas observavam cada movimento da população abaixo. Não demorou muito até que um deles me notasse nas escadas do portão.

— O que o senhor necessita, jovem mestre? Preciso lhe informar que não possuo permissão para deixar que entre sem uma recomendação. Por algum acaso o cavaleiro já a possuí? Se não, posso avisar que espera nos portões, lhe agrada? —Pergunta um dos jovens guardas do portão ao se aproximar de mim. Admirável que apesar de estar vestido de cota de malha e armado com facas e uma lança ainda tente ser respeitoso.

— Agradeço o convite nobre cavaleiro de Castela, mas não desejo entrar no castelo. Gostaria somente que informase o general Ronald da minha presença e perguntasse por um encontro, avise-o que passarei o resto do dia em minha habitação.

— Um encontro? Com o general Ronald? Não pareces nada com o que ouvi sobre ti! Não se preocupe, sua mensagem será devidamente entregue jovem mestre. —Assim foi-se o cavaleiro, e assim também vou eu, de volta em direção a praça comercial pelo mesmo caminho que vim. Parando para pensar no assunto, já eram cinco dias desde que cheguei a Castela e aquele canto da cidade já me era familiar, mas o resto da cidade de Camelot me é completamente desconhecida.
O dia estava fresco e o sol está prestes a nascer...
Volto a trilhar meu caminho para casa com um pouco mais de pressa, abandonando qualquer ideia controversa.

A praça começava a ficar movimentada, as lojas abriam e as donas de casa mais experientes se apressaram para pegar os legumes mais frescos.
Algumas voltavam seus olhares para mim, depois olhavam em direção aos grandes placares na muralha.
Eu apresso meu passo ainda mais e começo a trilhar meu caminho pelas sombras.

Ao chegar na frente dos telhados verdes e paredes amarelas corro em direção da porta vermelha e para minha surpresa sou recebido por Naukar que abre a porta tão repentinamente que quase me choco com ela. O cheiro de carne assada invade a entrada.
—Bem vindo cavaleiro, o senhor não jantou nem tomou seu café da manhã, presumi que teria compromissos na parte da tarde e decidi adiantar o almoço. Te agrada minha escolha?

Estaziado, de boca aberta, tudo que consegui pronunciar foi;
—Conheces alguma arte mística ou mandou que me seguissem? Acho que começo a agradar-me em sua companhia Naukar, o cheiro está ótimo.— Posso ser arrogante e reconhecer que meu humor não é dos melhores em 90% do tempo, mas sei reconhecer alguém com talento e que coloca esforço no que faz.

—Agradeço o elogio, minha opinião sobre o cavaleiro também vem lentamente mudando, e não, não sou nenhuma bruxa e tú já o sabes já que não acredita em bruxaria.

Ao entrar na casa ela nem parecia mais tão ruim, a mesa estava servida com carne, queijo, salada e uma panela de sopa de batatas. Um almoço simples mas bem feito. Não espero um segundo e já me sento na mesa pronto para encher meu prato. Mas algo ainda me inquieta.

—O que achas tão honrado em um trabalho como este? Se fosse a madame já estaria junto aos outros nobres na sala do conselho!— Pergunto tentando satisfazer minha curiosidade.

—É a diferença cultural que te confunde cavaleiro. Em Castela todo trabalho é bem visto e recompensado desde que você o cumpra com excelência. Sou uma das camareiras reais de Castela, responsável pelos convidados de honra e da família real, meu trabalho é visto como um dos mais honrados em toda Castela.

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