XIV- O pesadelo vivo

31 2 0
                                    

Era como acordar de um pesadelo. Tenho medo de que tudo seja real. 

Mas para o meu infortúnio me lembro de ter  sido acordado pela governanta e enchido o peito da minha patética arrogância enquanto me dirigia a sala do conselho.

Presentemente só restou  meu eu, sozinho com o ego leso e expulso dos portões do castelo, ornado com afrescos de senhora. Ainda me lembro da cara zombadora que o herdeiro tinha enquanto me assistia ser despachado pelos guardas.

Meu semblante deve estar abominável, mas não sou capaz de forçar outra expressão.

Dois anos plenários de esforço severo patéticamente jogados fora por uma frugal e estúpida profecia.

Um mito! Uma lenda! Um conto de fadas de um velho senil!

Havia mais uma causa... não consigo rememorar com esse calor frigindo meu encéfalo!

Fui jogado a mercê do astro-rei e seu fatal ardor sem nenhuma bagagem! Me mudaram para uma residência na cidadela! Nem um alojamento no castelo me concederam!

E agora estou desencaminhado nesta nesciamente grande praça, estupidamente cheia de indivíduos, ao obtuso do meio-dia!

Já posso sentir minha epiderme arder por debaixo do tecido, mesmo com a pavorosa sombrinha me refugiando.

O calor dificulta minha respiração, assim como abafa meus pensamentos. Preciso chegar a #¿$?%! da casa logo.  Onde era mesmo? Telhados verdes, paredes amarelas e porta vermelha. . . Todas as #¿$?%!¡  das casas tem portas vermelhas e telhados verdes! Minha vista começa a escurecer. As pessoas ao meu redor cochicham sem parar, preciso continuar, parede vermelha, parede verde, azul, verde de novo, amarela. . . Lá está! Emfim a encontrei! 

Eu tiro a chave que recebi do bolso e destranco a porta. Em um passo desesperado entro na casa e fecho a porta atrás de mim. A casa estava fria, eu me sento no chão igualmente gelado apreciando o refúgio. O local também era agradavelmente escuro, nenhuma lanterna estava acesa. O calor que abrangia todo meu corpo lentamente some e a ardência da minha pele toma o lugar, apesar disso minha mente está mais clara agora.

O lugar até que não era de todo ruim, fresco, sem janelas, pequeno e simples, mas, ao mesmo tempo, limpo e bem decorado, provavelmente foi construído com o intuito de ser o lar de algum importante escriba. A falta de janelas e a baixa temperatura protegeriam os papéis e por ser um local de grande importância a decoração era quase melhor que a do meu antigo quarto. Pelo menos era menos vermelho.

Me levantei e observei mais atentamente o local. Apesar da escuridão eu podia reconhecer bem cada detalhe do cômodo, entrada era localizada em um pequeno cômodo com uma mesa no centro e adiante se encontravam as portas e escadas para os outros cômodos, as paredes eram pintadas de amarelo e verde com ornamentos no teto e rodapé. 

Um cheiro extremamente tentador para alguém de barriga vazia como eu vinha de uma das portas. Sopa, como se estivesse hipnotizado meus pés se movem em direção a porta, ao abri-la o aroma aumenta junto de uma tanto quanto desconfortável nuvem de vapor quente. Era a cozinha, bem maior que o cômodo anterior possuía somente uma janela e uma chaminé para lhe proporcionar iluminação, o que parecia ser suficiente para a empregada em seu uniforme habitual que mexia a uma panela no fogão a lenha. Além dos balcões que a rodeavam, a cozinha também contava com armários e estantes por cima dos balcões além de um forno de pães em um canto mais afastado.

— Vejo que o cavaleiro finalmente chegou, estava prestes a acabar de preparar o jantar. Me chamo Naukar e serei sua criada pessoal a partir de agora, esta casa possui somente a mim como servente, mas te asseguro que será o suficiente, aliás me contaram que o cavaleiro aprecia privacidade. — Não sei se estou irritado por ela estar aqui ou por somente uma delas estar aqui. Tenho tido muitas surpresas irritantes ultimamente. . .

Herdeiros de TheiaOnde histórias criam vida. Descubra agora