A Batalha

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O começo do fim. Foi a primeira coisa que pensei quando entrei na carruagem. Era suja e mal tratada. O cocheiro era um homem velho de poucas palavras. O assento era de madeira, duro e frio. Era o começo do outono, o jardim da entrada da fortaleza estava mais colorido do que na primavera. A brisa fria passava completamente pelas minhas roupas finas. Fecho a janela.
Me contento a observar através do vidro o lugar que chamei de lar por dois anos lentamente desaparecer da minha vista. Não me lembro quanto tempo a viagem levou.

Mais ao menos ao meio-dia outros dois garotos sobem na carruagem. Eu me lembro de conhecer os dois dos treinos como general. Maseu nunca havia falado com eles. Tinham a minha idade, ou pelo menos pareciam ter. Um, era alto e moreno, tinha cabelos negros e olhos cor-de-mel. O segundo era parecido com o primeiro, mas um pouco mais baixo e com o cabelo mais claro, puxado para um castanho escuro. Provavelmente irmãos. Eles brincam e conversavam entre si como se eu fosse invisível.

Eu também não estou no humor para fazer novos amigos. Só conseguia pensar no rosto coberto de lágrimas de Prince. Se eu fosse um ano mais novo ficaria ao seu lado. Podia ser pior. Se ele fosse três anos mais velho partiria comigo.

Prince pode não perceber, mas ele tem um ótimo sexto sentido para acontecimentos grandes como esse. Dois anos atrás, Moli disse que alguns dias antes da nomeação de comerciante real de meu pai, Prince simplesmente a perguntou quando seu novo amigo chegaria. Um ano atrás ele me implorou que eu não fosse a um treino de campo para não me machucar. Três dias depois quebrei meu braço ao cair do meu cavalo. Força extraordinária, sentidos aprimorados e um sexto sentido. Qual o preço de tantas bençãos?

Já não me preocupo mais com isso. Antes de eu sequer começar a fazer minhas malas esta manhã, Prince apareceu em meu quarto chorando. Ele me implorou para que eu não fosse. Quando eu o perguntei o porque, ele me respondeu saber para onde eu estava indo.

Eu simplesmente o olhei confuso. Não havia o contado, planejei sair na surdina desde o dia que recebia a carta do rei em pessoa. Nem mesmo Moli estava ciente da minha partida. Eu não estava pronto para me despedir.

Quando seus olhos laranja se voltaram para os meus, havia preocupação e tristeza fortes demais para alguém de sua idade. Meu corpo inteiro ficou pesado. Não conseguia respirar. Eu caí de joelhos no chão. Pensei em meu pai e nós amigos que fiz aqui. Nós criados chorando. Meu velho pai sozinho. Prince me abraçava e chorava, mas eu não conseguia reagir. Sei que a hipótese de que eu não volte do campo de batalha existe. Eu estava evitando levar isso a sério. Estava realente tentando, mas naquele momento, não conseguia mais parar.

Moli abriu a porta do quarto. Por uma estante ela confusamente nos observou chorando um abraçado no outro. No momento que ela olhou para as minhas malas semi arrumadas seu semblante mudou. Pude jurar que vi uma lagrima em seus olhos. Segundos depois Moli pediu que eu a seguisse. Eu não consegui, não podia.

Quem iria na direção da própria morte? Quem era ela para me conduzir por um caminho tão terrível? Ela me encarou e eu a encarei desesperado de volta.
Ela tentou me chamar, puxar e gritar. Eu não me movia, como uma boneca de panos me deixava ser puxado. Prince me puxada do outro lado. Ela limpou as lágrimas e chamou os guardas reais. Prince me disse que nenhum novo irmão iria me substituir. Uma frase bonita que todo bom amigo espera ouvir. Mas doeu, doeu muito. Mesmo que eu partisse, tenho certeza que ele não ficaria mais sozinho. Meu pai? Velho demais para ir para guerra, novo demais para morrer antes de mim.

Me sentia na beira de um penhasco do qual me pediam para pular. Podia sentir a brisa no meu rosto. Se eu perguntasse porque deveria pular, responderiam, que era para amortecer a queda dos mais jovens e velhos. Eu olharia para o rosto das crianças e a cara séria dos senhores que se ofereceriam para tomar meu lugar. Eu lançaria um olhar para a beira do penhasco e veria somente breu. Me seria pedido novamente para pular. Novamente vi o Rosto de Prince banhado em lágrimas. Então eu responderia, eu pularia.
Quando voltei aos meus sentidos, estava subindo na carruagem. Por um momento eu havia olhado para trás. Vi dois guardas reais tentando parar o pequeno príncipe sem o machucar. Ha! Eles estavam longe de ganhar.

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