𝐷𝑟𝑒𝑎𝑚 𝑊𝑖𝑡ℎ 𝑀𝑒 | CONCLUÍDA

06

Os dias se passavam cada vez mais intensos, lá no fundo, devo admitir que me sentia ansiosa por cada ligação, por cada vez que passavam alguma chamada, por cada voz e perceber que não era ele, por cada áudio, por cada sonho.

Eu me via em um labirinto, imaginando que minha saída seria me deparar com ele por acaso.

Estava parecendo uma adolescente sonhando acordada com seu ídolo. Sua paixão platônica.

Mas não era isso, ao menos eu pensava que não.

Luccas me ligou algumas vezes, trocamos mensagens também. Mas o que já não estava bom, passou ficar ainda pior.

Lembro que ele me disse sobre a distância melhorar as coisas entre a gente.

Melhorar o que?

Nesse fim de semana Jaine iria me visitar, estava morrendo de saudades. E não via a hora de contar a loucura que está minha vida depois do aplicativo que me apresentou.

— Katherine? — Diana pronuncia em frente a porta de seu consultório.

Hoje era dia de consulta, estava na sala de espera enquanto aguardava ser chamada.

— Olá Diana. — a comprimento.

— Vejo que está animada por essa consulta. Quais são as novidades? Está tudo bem? — diz enquanto se senta e acena a cadeira a frente para fazer o mesmo.

— Então Diana, minhas crises de ansiedade continua na ativa, mas algo está melhorando, graças a um aplicativo.

— Aplicativo? Você mesma disse que não se dá bem com essas coisas em relação a tecnologia. — questiona.

— Foi uma amiga minha que indicou então resolvi arriscar.

— E qual o intuito do aplicativo?

— Acalmar, dormir. É ótimo!

— E trouxe resultados significativos?

— Sim, demais! Meu sono melhorou muito, até consigo sonhar, algo que não acontecia a tempos. — falo animada como uma criança que acabou de ganhar um brinquedo.

— Quer me dizer como funciona?

— Ele tem áudios e imagens que acalmam, seja algumas músicas, asmr e histórias.

— Hum, isso é interessante Katherine. Já ouviu muitos?

— Na verdade, só ouço de uma só pessoa.

— Hum, então essa pessoa deve ter feito algo muito significativo pra você. É sobre o que?

— A história? — Diana acente, então prossigo. — eu não sei ao certo, ele fala de tantas coisa e ainda não terminei, é um arquivo com alguns áudios. Mas ele anda aparecendo em meus sonhos e me traz conforto, gostaria de saber o que pode significar...

— É um homem?

— Sim...

— Sabe de quem se trata ou é anônimo?

Penso no dono daqueles áudios, dono da minha calmaria, será se devo dizer? Isso seria irrelevante.

— Acho que não faz muita diferença, é um homem com uma voz calma, melódica e muito máscula, ele passa uma segurança que desde que começaram minhas crises ninguém me proporcionou igualmente. Me causa arrepios, me conforta. Não sei explicar. — digo tentando resumir o que sentia em relação a ele, mas nada parecia ser certo dizer, faltava algo.

— E você sonhou com esse homem, certo?

— Sim, ele sempre está lá.

— Então Katherine — respira fundo e aproxima seu olhar. — Sonhar sempre com a mesma pessoa possui significado, mas vai depender muito da situação que o sonhador está vivendo e quem é a pessoa no sonho. Assim, este é um sonho que de forma geral, implica que em sua vida existe algo que envolve esta outra pessoa de forma bastante intensa. — fico atenta em cada palavra, porém um nervosismo corre em mim. — Mas também pode significar coisa alguma, apenas ser algo que seu psicológico guardou como algo que te traga tamanha segurança, talvez por pensar nessa pessoa por um longo tempo também é um fator.

Faz sentido, ando pensando muito nele.

— Entendi... — suspiro. — isso é bom ou ruim?

— Depende de como você o vê.

— Como assim?

— Se vê-lo como uma pessoa aleatória em um aplicativo e sua voz, em especial, foi quem surgiu efeito com a intenção de te acalmar. Ou se é algo relacionado com sua vida pessoal ou amorosa.

— Amorosa? Não Diana, não é isso!

Segue me encarando, como se soubesse  sobre mim muito mais do que eu mesma. Como se estivesse entendido tudo mesmo que eu não estivesse entendendo mais nada.

Como sempre...

— Como está você e o seu namorado Luccas? — muda de assunto.

— Estamos péssimos, na verdade, estou feliz por ele ter conseguido o trabalho que queria em Liverpool, mas a gente... É como se fosse tão errado.

— Luccas está em Liverpool?

— Sim, por quinzena ele virá. Mas para ser sincera, já não faz tanta diferença. — respiro fundo ao perceber que não sinto sua falta, Diana me olha de um jeito estranho.

— Por que você não termina com ele?

— Não sei, me faço essa mesma pergunta. — minha voz sai embargada.

— Tem medo da solidão?

— Talvez... Eu sempre me sinto tão sozinha, que, acho que encontrei algum conforto no Luccas.

— Mas você não está apaixonada, nunca esteve.

Abaixo a cabeça enquanto sinto as lágrimas descerem, sou tão estúpida e estou claramente usando o Luccas para tapar um buraco que a ansiedade e a falta de coisas que abri mão me deixou. Eu sou ridícula!

Meus olhos se volta para sala como uma maneira de acalmar, o que é irrelevante, então vejo uma bolsa preta e rosa de pano no canto do consultório, o que parece está escrita "Trate as pessoas com gentileza", eu não conheço essa frase de algum lugar?

Seguimos com a conversa, como de costume, chorei a sessão praticamente toda. Tomei a decisão que preciso de um tempo, preciso pedir um tempo para o Luccas ou terminar de vez, tenho que saber o que quero, ele não tem culpa, não posso usá-lo para amenizar minha bagunça sendo que por vezes, nossa falta de amor e conversa, piora tudo.

Devo ser sincera.

Ao fim da sessão, agradeço e me despeço de Diana, ela mesmo que profissional é tão amorosa e compreensiva, me deixando completamente a vontade.

A mesma marca em sua agenda a próxima consulta e me retiro de sua sala.

Ao abrir a porta observo um homem alto andando para lá e para cá na sala de espera. Sigo olhando interrogativa, o mesmo parecia agoniado.