_𝕍𝕚𝕟𝕥𝕖 𝕖 𝔻𝕠𝕚𝕤.

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Treze... Quatorze...

— Vamos, Scarlett! — Tom bateu palmas para animá-la — Mais uma, só mais uma!

As gotas de suor escorriam pela pele negra da garota. Seus braços tentavam empurrar seu corpo para cima, mas tremiam de cansaço. Ela fecha os olhos e se força a levantar mais uma vez, finalizando a última flexão.

— Isso! — Benjamin comemorou, ofegante e suado também.

Scarlett levantou e limpou os joelhos, sentindo seu corpo relaxar num imenso alívio. Os três jovens estavam exaustos de tantos exercícios pesados que fizeram nesta manhã, e Tom tentava esconder a expressão decepcionada.

— Eu não entendi... — Matt começa a falar assim que recupera o fôlego — Não deveríamos estar aprendendo a fazer massagem cardíaca ou esse tipo de coisa? Por que estamos nos matando com exercícios como se fôssemos um bando de marombeiros?

Tom olhou seriamente para os olhos azuis do rapaz, e Benjamin e Scarlett optaram pelo silêncio. Não havia maldade nas palavras do Trevor, apenas uma profunda confusão do propósito dessa manhã. O homem enfiou os dedos na barba escura, pensando, e se aproximou do garoto, tomando um instante antes de começar a falar:

— Vocês não estão treinando aqui para ficarem gostosões e musculosos. Vocês estão treinando porque um bombeiro precisa ser forte. As pessoas precisam que ele seja forte. Eu... Eu posso dividir um segredo com vocês, pessoal? — os três jovens concordaram, sem deixarem de perceber o desconforto que Tom sentia com o assunto que estava prestes a abordar — Em 2149, três anos atrás... ou sei lá quantos milhões de anos no futuro, a minha brigada foi acionada para extinguir um incêndio em um prédio. Era o prédio em que eu morei na adolescência... Nós fomos, prontamente, entramos no caminhão e ligamos a sirene e fomos direto para o prédio, totalmente em chamas. Vestimos os capacetes, estávamos com as roupas mais pesadas porque sabíamos o que vinha pela frente, e entramos. Eu fiquei responsável pelo quinto andar. Subi as escadas e escutava as paredes gritarem de calor enquanto o fogo estalava e era tudo tão horrível...

Ele gesticulava muito, e nesse instante a voz do homem falhou um pouco.Deu uma pequena pausa e tornou a falar:

— E aí eu ouvi alguém gritar. Vinha do sétimo andar, era uma garotinha de doze anos. O fogo estava a consumindo viva enquanto ela corria para a sacada. Eu corri também e me preparei para o inevitável, me pendurei no parapeito. A garota pulou do sétimo andar. No quinto andar eu consegui segurá-la, como em uma cena de filme, e ficamos só nós dois pendurados. Ela se segurava em mim e eu me segurava ao parapeito, e tudo o que eu precisava fazer era segurar até que alguém do meu time pedisse que eu soltasse. E aqueles foram os seis minutos mais longos da minha vida com o meu peso, o da garota e o da roupa de proteção. — ele explicou pacientemente — E durante todo esse tempo eu só pensava em uma coisa: "mais um segundo, mais um segundo", que foi a mentalidade que eu aprendi nesses exercícios físicos. A garota sobreviveu, e eu também, graças aos exercícios de marombeiro que eu aprendi no quartel. E a gente precisa lembrar que o nosso trabalho nunca é para a gente, mas sim para os outros, e nós precisamos ser o melhor possível para os outros. Mas... já deu o nosso horário, podem voltar para casa. Estão liberados...

Ele falou no fim, e os meninos ficaram perplexos com a história. Matt pigarreou.

— Eu acho que... — começou Scarlett num tom de voz baixo, e então repetiu ao perceber que todos prestavam atenção nela — Eu acho que vou ficar aqui, e treinar mais um pouco.

Tom sorriu com a atitude corajosa e altruísta da menina, sentindo-se orgulhoso dela.

— Eu também. — Matt convenceu-se. Era o certo a se fazer, e sabia disso.

Terra Nova - ᴀᴘᴘʟʏ ғɪᴄOnde histórias criam vida. Descubra agora