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Tom não poderia ficar mais tempo ali ao lado de Mayla, precisavam retirá-la. O homem havia chorado muito, e sua emoção comoveu o jovem Matt, que percebeu-se chorando pela morte de alguém que ele nem conhecia. 

Matthew e Anthony colocaram o corpo na maca e colocaram dentro do rover. O caminho de volta, para todos os soldados, foi silencioso, salvo pelos soluços ou gemidos de profunda tristeza. Mas não foi assim no rover de resgate: Matt estava confuso.

— O que faz um bombeiro quando não consegue salvar alguém? Nós... falhamos?

Tom respira fundo, colocando seu colar de volta ao pescoço. O rover balança pelos chão irregular da floresta e a noite estava estranhamente silenciosa. O Houghlin manteve-se também em silêncio, bem medindo suas palavras antes de proferi-las ao jovem Trevor.

— Não... nós não falhamos dessa vez. — ele fala com tranquilidade, mas com notável tristeza — Como bombeiros nós temos duas missões, é verdade, "vida alheia e riquezas a salvar". Mas nossa missão como humanos não se restringe a isso. A salvar vidas e coisas...

Matt se remexeu, sentindo-se ainda mais confuso do que antes.

— Como assim? Quer dizer... existe alguma coisa mais importante do que salvar uma vida? 

E o garoto mirou os olhos castanhos de Tom, que logo deixaram-se marejar pela perda recente. O homem maneou a cabeça e suspirou, olhando para o rosto de Mayla em seguida. Sua feição era tranquila, mesmo com tamanha dor momentos antes de partir, e Tom lembrou de todas as vezes que vira os olhos da Hendrix brilharem. E eles brilharam uma última vez. Então lembrou-se que Matt lhe fizera uma pergunta e levantou o olhar para ele e assentiu com a cabeça.

— Salvar almas, Matthew. — respondeu — É isso o que precisamos fazer em todos os momentos de nossa vida.


(***)


Dez dias haviam se passado desde o incidente. Diana passou a morar definitivamente com os Houghlin's, que a acolheram de braços abertos. O soldado Thomas frequentava a casa, sempre checando em como estava Diana. Acontece que o rapaz também sofria a perda, silenciosamente, mas mesmo com o coração dilacerado ele se sentia do dever de cuidar da jovem Diana.

Houve uma vez uma conversa muito casual entre ele e a falecida Hendrix, em que Mayla disse despretensiosamente "se um dia eu for comida por um dinossauro, você vai ter que cuidar da Diana por mim". Ele riu naquele momento. É claro que riu, não sabia o que o futuro o reservava. E e respondeu um "não se preocupe, eu não vou deixar nada acontecer com você". Thomas Carter e Mayla Hendrix realmente acreditaram que ele seria capaz de protegê-la.

A equipe de bombeiros voluntários treinava diariamente. Corridas, flexões, abdominais... todas as manhãs davam toda a sua energia para tornarem-se alguém útil para a colônia. Tom Houghlin pegava bastante pesado com os treinamentos, e os incentivava com dizeres tais como "a disciplina no preparo derrota a displicência em batalha", ou alguma outra frase de efeito.

Matthew Trevor estava determinado a se tornar um bombeiro. É como se toda a sua energia, todo o seu desejo incessante por aventura tivesse encontrado um propósito maior do que ele mesmo. E diferente do que ele pensou, encontrar um ideal maior do que a si mesmo para ser vir é recompensador por si só.

Os outros dois integrantes são o nosso querido Benjamin Greenwood, que apesar de não ser o maior fã de receber ordens interessou-se pelo trabalho. E também porque a garota que ele gosta se meteu nessa furada também. Scarlett Ziegler simplesmente pirou quando soube da necessidade de bombeiros em Terra Nova, e depois de ter visto sua irmã quase morrer e ser salva por Tom e, claro, por sua mãe, ela entrou de cabeça no voluntariado.


Já na casa dos Fanning's era um dia pra lá de atípico. Era o aniversário dos gêmeos, porém só um deles comeria o bolo.

— Parabéns, filhão. — Pietro falou, beijando o topo da cabeça de seu garoto. David o abraçou com força. — Você chamou seus amigos ou...

David negou com a cabeça.

— Não quero comemorar meu aniversário sem a Alex. Isso é normal, não é? É aniversário dela também.

Pietro suspirou e concordou com a cabeça.

— Podemos ir ao cemitério. — o pai sugeriu. — E comer o bolo por lá.

O filho sorriu com a ideia.

Antigamente, David morria de medo de cemitérios. Zumbis e fantasmas. Mas o jardim de lápides tornou-se um lugar acolhedor em seu imaginário e ele gostava de ir lá sempre que possível.

Os dois se arrumaram e logo saíram, caminhando por Terra Nova. Crianças corriam para lá e para cá, alegres e sorridentes.

— Oi tio Pietro! — uma das garotinhas acena contente e o homem retribui sorrindo. Eles continuam andando e David olha para o pai.

— Quem é ela?

— Ah! É a Hope. Filha da Rowan. — ele explica. David mantém o cenho franzido enquanto os dois caminham.

— E quem é Rowan? — ele insiste, preocupado por seu pai estar sorridente assim do nada.

— É uma amiga minha. Ela é engenheira, estava na saída de campo comigo. — ele explicou e colocou as mãos no bolso, notando que seu filho continuava a encará-lo. — O que foi!?

— Só vocês dois?

Pietro notou o sorriso malicioso nos lábios do filho, e riu em seguida, negando com a cabeça.

— Não. A equipe inteira. Ela é minha amiga, David, só isso. — ele insistiu e o aniversariante voltou a olhar pra frente.

— Tá bom. — fingiu acreditar — Se quiser chamá-la para jantar lá em casa algum dia...

E eles continuaram a caminhar num bom e leve humor. Chegaram até o cemitério, eram muitas lápides para um lugar tão novo. Mas não é de se surpreender, esse paraíso cretáceo esconde perigos em absolutamente todos os cantos. De gigantes dinossauros a um pequeno protozoário responsável por febres letais, muitas eram as causas de morte na colônia. Foram até o túmulo de Alex e pararam ali na frente. Aquietaram-se. E o silêncio durou até que David decidisse quebrá-lo:

— Feliz aniversário, maninha. — ele falou, sentando-se no chão ao lado da lápide — Trouxemos bolo pra você. Eu sei que nozes não é o seu favorito mas...

E colocou um pratinho com um pedaço ali do lado. Pietro juntou-se a ele, sentando-se do outro lado da lápide.

— Vocês dois são o meu maior orgulho. — o pai falou, perdendo o olhar no vasto horizonte. Então vira o rosto para seu filho e sorri, falando com toda a ternura do mundo: — E eu sempre vou amá-los. Não importa aonde estejam, eu sempre vou amar vocês. Feliz aniversário, filhotes.



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Eu não deveria estar escrevendo isso porque eu tenho um trabalho enorme pra quarta (muito maneiro sobre comunicação e comportamento social em répteis e acho que vou aplicar algumas coisas aqui hein) mas eu simplesmente AMO essa história e precisava atualizá-la hoje.

Então é isso, pessoal! Foi um capítulo mais tranquilinho, com menos personagens. E aí, o que estão achando da história até agora? Elogios, críticas e sugestões são sempre bem vindos! 

Não esqueçam de deixar seu voto!!

Até logo!!




Terra Nova - ᴀᴘᴘʟʏ ғɪᴄOnde histórias criam vida. Descubra agora