Terra Nova - ᴀᴘᴘʟʏ ғɪᴄ

_𝕍𝕚𝕟𝕥𝕖.

Abigail Hope Annelise Johanson Ziegler estava deitada na cama de seu quarto, mexendo no dispositivo super moderno chamado de MT-798, que é basicamente uma tela transparente em que as imagens e textos se formam virtualmente em altíssima resolução.

Se você, leitor, se surpreendeu com o nome da Abigail e pensou "uou, isso é nome de princesa", então você está no caminho certo. Com a exceção de que a nossa garota, Abby, não é uma princesa, mas sim a rainha de todos os lugares em que ela ousa pisar.

E agora a loira deslizava o dedo na tela, entediada. Sentia saudade disso, das curtidas em suas fotos, dos comentários, das fofocas que se espalhavam rapidamente no mundo de 2151. Mas aqui em Terra Nova era tudo tão... diferente. As pessoas em Terra Nova pareciam não se importar para a vida midiática.

Explicando: o contato de Terra Nova para 2151 só acontece quando o portal temporal se abre. Ambas populações estão isoladas uma da outra por uma linha de pelo menos 35 milhões de anos.

Pensando bem, o comportamento da maioria dos cidadãos da Colônia é bastante plausível pois o foco aqui é viver, e não fingir. As máscaras não são necessárias em Terra Nova, mas Abigail continua a usá-las.

Então alguém bateu na sua porta e a menina levantou os olhos, encontrando o irmão gêmeo, Nicklaus, com um sorriso travesso e todo molhado e com os tênis imundos de lama.

— Nick! — ela o repreendeu — Você vai limpar esse chão com a língua!

O menino gargalhou e foi até ela, tentando pegar a mão de sua irmã mas levando um tapa no processo.

—  Ai garota! — ele reclama, mas logo tenta agarrá-la de novo —  Vamos lá pra fora!

Antes que Abigail possa perguntar o porquê de seu convite esquisito ela presta atenção no som que vem lá de fora. Chuva.

— Quê!? Tá louco, Nicklaus!?

— Não! Abby, Abby, minha linda irmãzinha perfeita e maravilhosa... — ele fala mansamente, adulando o ego de sua irmã para alcançar seu objetivo —  A chuva daqui não é ácida. E os nossos pais e a Scarlett estão lá fora tomando banho de chuva, banho de chuuuvaa...

Nick cantarola,

— Ah não, eu não quero me molhar toda não. E se eu ficar resfriada?

— Aí a gente vai cuidar de você, oras! — ele retrucou rapidamente. — Por favor? Um momento de alegria com a sua família, é tudo o que pedimos...

Abigail percebeu seu irmão apelar para suas emoções, e por um instante avaliou a situação.

— Tá bom. — e isso foi o suficiente para arrancar um sorriso gigante em Nicklaus. 

Os gêmeos então saíram da casa e foram para o lado de fora, juntando-se aos pais e à irmã. As gotas pesadas logo os encharcaram e, no início, eram muito geladas para a pele de Abigail. Entretanto ela se acostumou e começou a realmente gostar daquela sensação, de ser banhada pelas nuvens.

— Agora sim estamos completos! — seu pai, Daniel, falou bem alto para poder ser escutado além do jorrar de água nas enormes folhas da floresta ao redor da Colônia. 

Abigail levantou a cabeça deixando que a chuva enchesse seu rosto de beijos. E sorriu com o carinho. O cheiro da terra ganhando vida enquanto era lavada pela chuva enchia seus pulmões e perfumes selvagens e doces se espalhavam pelo ar quente. Quente porque o calor do solo o abandonava e ascendia aos céus, formando uma confortável camada de mormaço na atmosfera. Quando o vento começou a rugir por entre a vegetação densa e o frio fez-se presente, a mãe, Elizabeth Ziegler, decidiu que era hora de entrar. E todos obedeceram.