Particularmente em mim não havia mais nada, só o vazio dentro do meu ser. É uma sensação que não eu desejaria nem para o meu pior inimigo. Sabe... Foi difícil. Realmente foi choque repentino e que me acertou de jeito, tal como minha mamãe, assim eu estava, morta(pelo menos de forma figurativa assim sentia-me).
-É...Filha, você está acompanhada por um responsável?- Perguntou o médico.
Chorando o respondi:
-Sim(Soluços), estou acompanhada por meu papai.-Respondi-o.
-Poderia avisá-lo do ocorrido?- Disse o Médico.
-Certo Dr. Vou chamá-lo para dar-lhe essa trágica notícia.- Falei.
Então assim fui. Deixar o meu papai a par do ocorrido, terrível ocorrido, que nem nos mais distantes sonhos ousaria em pensar, estava traumatizada com a cena. Porém aos poucos foi descendo as escada, vagarosamente, e horrorizada.
Recapitulando um pouco comigo mesma tudo o que se sucedeu, eis que passei pelo mesmo corredor que eu vi o grande feixe de luz penetrar a janela do quarto da minha mamãe, dessa vez não era mais uma sensação de surpresa, mas sim, agora quase que uma sensação de tortura passar pelo o mesmo corredor, que naquele momento estava quase que completo tomado pelo escuro e somado com um sombrio silêncio, porém não um silêncio comum, porém um silêncio gritante, difícil de explicar a atmosfera daquele corredor porém estava muito tenebroso, mórbido, era como se eu estivera andando por um cemitério. Calafrios tomaram-me, um frio muito grande surgiu inexplicavelmente, aquele corredor estava começando a amedrontar-me. Estava um clima muito ruim, quase que como sobrenatural.
Então por um momento refleti, percebi algo. Que era... antes já estava difícil juntar as peças desse grande quebra-cabeça que era minha vida, então imagina agora. Em que todas as peças tinham sido todas embaralhadas novamente, não conseguia distinguir nada, nem por onde recomeçar, como se estivesse de mãos atadas sem nenhuma chance de moverem-se. Como se eu estivesse em um caminho escuro sem uma luz para guiar-me.
Mas enfim...Rapidamente sai daquele corredor que não estava fazendo-me bem, e foi ao encontro de papai para dar-lhe a péssima notícia. Então cheguei ao lugar onde meu pai estava esperando por mim e lá estava ele me aguardando.
-Pai...-Chamei-o.
-Oi filha. Nossa você demorou, já estava ficando preocupado. O médico já liberou a minha subida?-Falou.
-Bem...Liberar ele liberou, porém por uma outra razão.-Disse.
-O que dizer filha?! E por que esses olhos tão vermelhos?-Perguntou-me.
-Vamos lá comigo pai, então vós sabereis o que ouve.-Respondi-o.
Então assim fomos, subindo cada lance de escadas e passando por cada corredor inclusive aquele, infame corredor, manchado com a dor de uma garotinha, sim aquele. Para mim um pesadelo atravessá-lo, para meu papai talvez só mais uma travessia normal, sem nenhuma dor ou dificuldade, apenas com a curiosidade imensa de tomar total conhecimento do que estava se passando. Espero que ele esteja pronto para ouvir e videar tudo.
Não muito tempo depois chegamos onde o doutor estava a nossa espera.
-Olá, o Sr. Deve ser o responsável da...(Observa o crachá da Andressa) Andressa, certo?-Pergunta.
-Sim sou eu mesmo, sou o pai dela. Posso perguntar, como esta a mãe de Andressa?- Meu papai perguntou ao médico.
-Então Sr... Acho que não tem um jeito fácil de dizer isso, então eu só vou lhe dizer de uma vez, a paciente não resistiu e veio à óbito às 16h36. E precisamos que alguém acompanhe o corpo para todos os preparativos, bem o Sr. Sabe.-Falou o médico.
Observei bem a linguagem corporal de meu pai, como eu o conhecia ficou nítido que ele surpreendeu-se com o que o médico havia dito. Por alguns minutos ele ficou em choque e também em negação do ocorrido, não conseguiu assimilar, da mesma forma no qual eu também não conseguia fazê-lo, pois como ele assim encontrava-me, estava em completa negação dos fatos.
Fiquei até chocado com a situação e de como o meu papai reagiu ao receber a notícia, isso mostra o quanto as tragédias dão luz para que se despertem o lado oculto do homem, pois meu pai apesar de amoroso é compreensível sempre foi alguém ríspido, não costumava demonstrar dor e também não era alguém que costumava chorar.
Porém o que ele fez em seguida me surpreendeu um pouco.
-Doutor será que eu poderia vê-la?-Perguntou.
-Pode sim, acho que vou deixá-lo à só.-Respondeu o Doutor.
Após o médico se retirar, meu papai entrou naquela sala e eu comecei observá-lo, papai parou na frente da cama onde estava a mamãe, e começou a chorar um choro amargo e dolorido, como se fosse um choro de arrependimento por algum coisa no passado. Aos poucos foi se desmantelando em lágrimas, até seus joelhos tocarem o chão daquele quarto. Por alguns segundos ficou de joelhos chorando aos pés de mamãe. Passados esses segundos, levantou-se e achegou-se aos ouvidos dela, sussurrou algo neles, beijou suas mãos , enxugou as lágrimas e saiu.
-Filha, eu vou te levar para minha casa e resolver tudo aqui, tudo bem? Quando estiver tudo pronto eu te ligo.- Disse-me.
-Tudo bem papai, faça como achar melhor.-Respondi
E assim foi feito, meu pai levou-me para casa e ele foi resolver os assuntos no hospital para nos despedirmos de mamãe em seu funeral...
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Luzes da Cidade
RomansaDo pó ao pó, digamos que não é fácil aceitar que nascemos para morrer. Mas é isso que Andressa descobriu e da pior forma possível terá de lidar com essa realidade. Uma trágica e triste visão sobre o que é viver com poucas razões. Ela irá sobreviver...