Luto e confissão.

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Creio que à partir daqui é que minha história toma um rumo totalmente adverso e novo, nada mais voltaria a ser mais o mesmo, eu não seria nem mas a mesma. Estava eu agora, por completo, e quando menciono completo é porque realmente não havia brechas, nem buracos, nem nada que conseguisse adentrar com sua luz dentro de mim, nem a forte luz da cidade conseguiu adentrar a escuridão dos meus sentimentos após o ocorrido.

Claro, não foi o fim da minha história. Até porque ainda não tinha colocado um ponto final nela apenas, por mais doloroso que fosse, insistia em colocar vírgulas na minha triste história. Pensando que seria melhor assim, continuar para ver o que sucederá no vasto amanhã.

Depois que mamãe partiu confesso que fiquei desolada, confusa e sem direção. Até porque ela era a mulher da minha vida, cuidou-me, acolheu-me, amou-me, mesmo eu sendo uma filha bastarda, uma filha abandonada, que nem havia sido gerada em seus ventres. Pouco a ela importou tal fato, me cuidou como se fosse uma filha legítima, sangue do seu sangue, carne da sua carne. Oh meu Deus... Estava tudo acabado, esse é o fim mamãe, adeus...

Tudo isso ecoava em minha mente, que agora estava fechada, o muro como havia dito antes, foi por completo construído.

Creio que não fui a única a ficar assim, papai também passou por maus presságios, ficou também muito abatido, assim como eu, talvez até mais. Enquanto levava-me para sua casa, seu semblante apenas demonstrava o vasto, como assim, vasto? O vasto sentimento do vazio, da perda, por mais lúdico que pareça, esse sentimento é um deserto sem fim, e naquele momento estava claramente refletido em ambos, tanto em mim quanto em meu papai.

Quando estávamos voltando de carro para casa, nenhuma palavra foi proferida, nenhuma troca de olhares foi feita, meu papai estava fixado na estrada, e eu apenas estava a videar todo o trajeto, em silêncio.

Bastaram alguns minutos para que chegássemos em casa. E no mesmo instante o céu nublado trouxe nuvens carregadas com a chuva, tal como se até o seu tivesse entrado em um processo de luto pela perda de mamãe. E descarregou suas lágrimas em formas de milhares de gotas que caiam do alto do céu.

Desprendi-me do cinto do carro, abri a porta e me dirigi rapidamente ao portão para abri-lo. Então tristemente do carro meu papai diz:

-Que tragédia né filha?-Falou-me

Eu apenas pude responder:

-Sim, uma grande tragédia...-Lhe respondi, com minhas lágrimas já misturando-se com a chuva.

Papai então disse-me:

-É uma pena, eu a amava tanto.- Tristemente diz.

E então no meio da chuva meu papai desce de seu carro, e vem rapidamente ao meu encontro, para consolar-me com um abraço. Na hora não dava para distinguir o que era pranto e que era chuva, porém ambos de nós estávamos chorando com grande amargor.
Passado um minuto mais ou menos, soltou-me e disse:

-Filha vá para casa, se não vai ficar doente...-Falou.

-Certo pai...- Respondi.

E então papai me disse:

-Andressa...Me desculpe.

-Desculpa-lo?! Mas pelo o que?- Questionei-o.

-Por tudo... Por não ser tão presente na sua vida e nem na vida de dia sua mãe. Sabe, eu gostaria de ter uma segunda chance com ambas. Mas a vida não me deixou ter uma segunda chance com sua mãe, e isso vai ser algo que nunca vou me perdoar, mesmo não tendo sido uma escolha minha, porém apesar de ter perdido uma segunda chance com sua mãe, eu não quero perder a minha chance com você.

Filhinha se eu te fiz algo, te magoei, o qualquer coisa, saiba não foi a intenção, mas mesmo assim, eu quero-lhe em meus braços bem perto de mim, não quero que voe para longe.
Você pode me perdoar?- Desabafou.

-Papai...É...Por que se desculpas? Não há lógica sabe. Apesar de você não estar do meu lado você nunca me fez mal algum, sempre que estivemos juntos forma bons momentos. Desculpa questioná-lo, porém, por que esse pedido de desculpas?

-A razão desse pedido de desculpas filha é por uma mágoa, pois como dizem naquele ditado popular “você só dá valor quando perde”. Então foi mais ou menos isso que aconteceu.

Depois que ela se separou de mim, achei que eu poderia seguir em frente, porém estava erroneamente enganado, eu à amava muito e sempre amei e ei de amar. Porém acho que ela nunca soube disso, e partiu sem saber.
Mas sei filha, eu não quero que o mesmo possa acontecer com nós dois. Então já de antemão lhe peço desculpas, e te digo que te amo.

-Papai, não precisava dizer eu sempre soube disso...

-Que bom filha, isso já é algum consolo. Mas eu tenho que resolver o assunto do velório de sua mãe, então vá para casa, saia dessa chuva, tome um banho quente e procure se acalmar um pouco.- Disse-me.

-Farei papai.

Então papai entrou em seu carro e foi resolver os assuntos à respeito do velório.

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