- Nós vamos voltar para a festa? - perguntei a Zack, depois de saírmos da sala vazia.
- Mas é claro que não, Mike está lá! - ele me disse como se fosse óbvio.
- Mas... você não quer encontrá-lo?
- Não, Ariel, quero encontrar o saquinho dele. Por isso estamos indo para os dormitórios.
- O que fará com o... Oh meu Deus, Zack você fuma?
- Claro que não! Ariel, outro dia eu quase jurei à bandeira com o discurso que eu estava fazendo sobre o que eu acho das drogas e do povo que usa, e você nem pra prestar atenção?
- Ah, sim, aquele discurso. Já pensou em concorrer para presidente?
- Ah, você sabe, né? - Ele balançou os cabelos lentamente.
Chegamos no quarto de Mike - que, só pra constar, estava destrancado - e Zack tentou fazer um super-arrombamento-estilo-karatê-quebra-tijolo e se deu mal. Os dedos dele ficaram meio vermelhos, meio inchados, meio sei lá. Enquanto ele estava xingando a porta de todos os nomes possíveis - até a chamou de Josinéia (acho que ela ficou chateada, porque nem uma porta merece ser chamada assim!) -, eu abri na tranquilidade, sentindo a vibe... Puxei Zack e nós começamos a procurar.
- Pô, acho que quebrei minha mão!
- Por que não testou apenas girar a maçaneta?
- Quem é que deixa a porta destrancada? Nos dias de hoje, alguém pode entrar e tentar roubar alguma coisa!
- É, exatamente como estamos fazendo.
- Nós não estamos roubando! - Ele levantou o dedo, indignado. Vai começar com os discursos... - Nós estamos apenas pegando uma coisa que ele, de certa forma, me daria! Então eu estou, tecnicamente, pegando o que é meu! Isso...
Zack parou de fazer seu mini-discurso assim que ouviu alguém se chocando contra a porta. Começamos a ouvir coisas como "Ah, você é tão gostosa!" "Vamos entrar logo nesse quarto, Isaac!"
Olhei assustada para Zack e nós nos abaixamos, nos escondendo nas camas. Eu me escondi em uma, que acho que era do Mike, e Zack se escondeu na outra. Eles abriram a porta violentamente enquanto a menina estava em cima dele. Espera, eu conheço ela...
- É a Valerie! - sussurrei para Zack.
Os dois deitaram e começaram a se despir. Eu não sabia se vomitava de ver aquilo ou se ria da cara do Zack se espremendo no chão, já que o casal-sensação tinha se jogado na cama em que ele estava, fazendo a mesma afundar e ranger incansavelmente.
Depois de um certo tempo (não sei ao certo quantos minutos tinha ficado ali em baixo, só sei que deu pra ler três vezes tudo o que vinha escrito no pote de gel. Vocês sabiam que não se deve deixá-lo ao alcance de crianças? Como é que elas vão fazer o moicano estilo ondinha cagada?), eles finalmente saíram! Fui chamar Zack, mas parece que o menino dormiu. Me abaixei e comecei a cutucá-lo.
- Zack, Zack, acorda! Acorda! Acordaaaa! Mas que cacete de namorado eu fui arrumar!
Me levantei e dei um chute leve nele, o que o fez acordar.
- Que, que? Ahn? - Ele percebeu que estava debaixo da cama e se levantou. - Eles já foram embora? - Zack olhou para a cama e coçou a cabeça, confuso. - Como é que isso não quebrou? - Ele deu um pulo na cama, quebrando-a.
Sabe aquelas camas velhas, super velhas, de madeira, que parece que são de museu? Então, são as camas da nossa escola. Zack tinha acabado de quebrar no meio uma das "tábuas" que seguravam o colchão. Ou seja, ele caiu. Ou seja, eu ri... muito. Não, na verdade, eu rachei, rolei de rir. E o melhor era a cara assustada dele, olhando pra mim e pra cama, pra mim e pra cama.
- O que eu faço agora? - ele perguntou. - Isaac vai me matar! - ele sussurrou para si mesmo.
- Conserta isso aí, enquanto eu procuro o saquinho.
Enquanto Zack dava uma de faz-tudo, eu procurava o saquinho. Aonde fui achar aquela merda? No fundo da gaveta de cuecas dele. E preciso dizer que tem algumas que nem o meu vô usa... Sim, meus queridos, aquelas cuecas samba canção, aquelas com estampa de cortina... Mike tinha uma coleção! Só que eu achei uma com estampa de donuts... Eu peguei a cueca pra mim, claro, porque a estampa era muito bonita; e com o tanto de pano que tinha naquele negócio, dava pra fazer alguma coisa útil pra mim... Depois de eu passar no alvejante, desinfetante, amaciante, sabão em pó, sabonete, odorizador de ambientes e detergente, né.
- Aí, ó. Achei o saquinho. A propósito, guarda isso no seu bolso pra mim? - Estendi a cueca de donuts.
- Pra que você quer uma cueca do Mike?
- Porque a estampa é bonitinha e eu vou transformá-la em outra coisa. Eu posso até encapar caixas com isso aqui! Arrumou a cama?
- Éééé... Coloquei um pouco de durex, fita isolante e cola. Pelo menos ele só vai perceber quando deitar.
- Ok, então... O que fazemos agora?
- Temos que dar um sumiço nesse pó. Vamos enterrar? - Ele me olhou com uma cara demoníaca.
- Não. A escola tem câmeras, tá? E se... A gente pode... Ah! Por que não damos de presente pra alguém? Você não falou que vários daqui fumam?
- É. Podemos simplesmente colocar no quarto de alguém. O colega de quarto do Chad!
- Quem é o colega de quarto do Chad?
- Um menino que fica o dia inteiro jogando videogame. Vem, vamos ver se o quarto dele tá aberto.
Saímos do quarto de Mike e fechamos a porta. Zack me guiou até outro corredor e depois parou na frente de uma porta. Grudou nela e depois me olhou.
- O cara tá aí dentro. Eu não vou entregar pra ele!
- Vamos entregar para o Chad, então. Vem, ele deve estar na festa.
- Na festa? Podemos achar o Mike. - Ele me olhou malicioso.
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A Menina dos Olhos Bicolores
Teen FictionEm sua antiga escola, Ariel Raymonds era considerada "estranha". Caçoavam dela por causa de seu diferente estilo para se vestir e de seu cabelo rosa. Depois de outra briga na escola, a mãe de Ariel resolve mandá-la para o internato St. Dummond High...