fugir

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New York, dias atuais.

[Derek]

Queria muito sentar com meu terapeuta hoje e dizer: "Meredith Grey? Esse nome faz tempo que não escuto."

Mas é mentira. Ele sabe e eu sei.

Ele sabe que foi por ela que aceitei melhorar, por causa dela que eu entrei na terapia. Eu queria ser melhor pra ela, mesmo que ela não me queisesse mais.

—Então vocês trocaram e-mails?—Ele me pergunta pela vigésima vez durante a sessão.—Como você se sentiu?

—Um lixo...—Penso um pouco tentando formular algo mais plausível.—Vejamos bem... Na linha do tempo da vida, ela foi a minha virada de século, ela é aquele momento em que o ponteiro diz que é meia noite no ano novo, na minha vida ela é o a.c e o d.c, a.m e d.m melhor dizer dizendo. Eu achei que tinha passado, que se eu ouvisse algo sobre ela atualmente não fosse me tocar do mesmo jeito, eu achei que nem ia me tocar, mas quando eu recebi aquele e-mail, as palavras que ela usou, as lembranças que ela tem de mim... Machucou muito, porque eu não sou mais aquele cara. Eu mudei.

Ele me encara e faz anotações na caderneta.

—Ela não tem como saber sobre a sua mudança, vocês não mantém contato. Às vezes, não é questão de tentar consertar o que está quebrado. Às vezes, é questão de recomeçar e construir algo novo. Algo melhor.—Ele diz sorrindo.—Você está construindo algo novo, você só precisa descobri se ela está disposta.

—Disposta a que? Voltar comigo?—Falo em um tom um pouco mais elevado.— Puff, eu conheço Meredith Grey, ou melhor, costumava conhecer Meredith Grey, como a palma da minha mão, a ideia de ela voltar pra mim me faz querer gargalhar.

—Por que?—Eu sei que ele está alimentando o meu monstro, sei que a verdade é o que ele quer.

—Por que ela deve querer vomitar só de ouvir meu nome, eu sabia que ela era toda sombria e traumatizada, eu sabia quem eu era e mesmo assim, eu continuei, eu fiquei e eu insisti.—Digo com raiva, raiva dela, raiva de mim, raiva do mundo.

—E o que aconteceu depois?—Ele sabe o que aconteceu, ele só quer que eu fale porque ele sabe que dói.

—Eu fugi.— "Não fugir nunca" a voz dela foi tão audível que parecia que ela estava bem ali do meu lado.—Não literalmente é claro, ainda estava ali, mas não era a mesma coisa, era diferente, tudo já tinha sido esclarecido mas eu continuava com o pé atras.

—E depois?

—E depois? Ela comprou passagens pra Seattle, pediu demissão e fingiu que eu nunca existi. Ela fugiu.—Ela fugiu e levou tudo, todos os sonhos, as promessas, esperanças, ela se foi.

—Essa é a última lembrança que você tem dela?—Ele pergunta me olhando por cima dos óculos.—Dela partindo?

—Não, eu não vi ela partir, imagino como tenha sido mas ela não se despediu, se eu soubesse jamais teria deixado ela ir.—Penso durante alguns minutos sobre a última lembrança que eu tenho dela e a memoria me atinge como um soco no estômago.—Foi de manhã, um dia antes de ela partir, ela estava no meu apartamento, ela tinha acabado de sair do banho e cheirava a uma flor que eu não lembro o nome. Ela se apoiou em mim, colocou a mão no meu peito e me beijou, suave, rápido, meio que por hábito... Como nós faríamos todos os dias pelo resto das nossas vidas, foi a última vez que nos beijamos.

Fecho os olhos, a lembrança é tão forte, que consigo sentir o cheiro do condicionador que ela usava, tenho certeza que se abrir os olhos, ela vai estar ali. Como uma miragem, me dizendo que está tudo bem.

—Esse foi um grande passo...—Meu terapeuta diz.—Te vejo na próxima semana.

Esta tudo bem.

Green and Blue- MerDerOnde histórias criam vida. Descubra agora