Amor e ódio

223 34 19
                                    

—Eu não acredito nisso...—Cristina repete pela vigésima vez.—Não acredito que Derek está aqui e acredito menos ainda que você vai sair com ele.

O nojo na voz dela é quase palpável, Owen me olha meio incrédulo.

—Qual é a história? Por que você deixou ele?—Owen pergunta sem rodeios.

—Por que ele me deixou primeiro.—Owen encara com a sobrancelha erguida.—Ele me pediu em casamento e eu disse não, se ele se casasse comigo, ele estaria abrindo mão da empresa. Ele estaria abrindo mão de tudo que ele passou a vida inteira construindo.—Fecho os olhos com a lembrança dolorosa.—E então ele sumiu por semanas e quando voltou era outra pessoa.

—E o que aconteceu?—Owen continua perguntando e fecho os olhos tentando fechar também o buraco que se abre em meu peito.

—Ele era outra pessoa.—Foi Cristina que respondeu.—Ele não era mais o Derek, era alguma sobra bizarra e sombria de quem ele era. Ele passou a ignorar a existência dela, ele nem sequer olhava pra ela, ficou impossível trabalhar pra ele, impossível conviver com ele, então ela terminou, eu fui pra Seattle e nunca descobri direito o porque dela ter ido pra lá.

Owen encara o chão, ele parece tentar entender.

—Você deixou ele por que ele se sentiu magoado?—Owen pergunta.

—Ele magoou ela também.—Cristina entra em minha defesa.

—Não, o Owen tem razão, na época eu não conseguia ver isso.—Digo acabando a maquiagem básica que eu fiz.—Hoje eu consigo ver que magoei ele também. Como eu estou?

Pergunto alisando a roupa. 

—Com cara de quem vai partir corações.—Owen fala rindo.

—Bonita como sempre.—Cristina diz rindo.—Já sabe aonde é o encontro?

—Naquele bar.—Digo sem jeito.—Não sei por que não desconfiei que seria naquele bar.

Diferente das últimas 20 vezes que o sino da porta faz barulho, dessa vez eu sei que é ela, nem me surpreendo quando nossos olhos se encontram. Ela vem em direção a mesa e que eu estou, e ela esta linda, uma calça jeans preta e uma blusa social azul, simples e linda.

—Eu achei que você não viria.—Digo enquanto ela se senta na mesa em minha frente.

Ela não me responde, os olhos dela passeiam pelo bar. O bar aonde nos conhecemos, o mesmo bar em que descobri que podia sentar com ela e só conversar, o bar pra onde eu fui quando descobri que ela me deixou. Fecho os olhos tentando evitar a dor que costumava vir com essa lembrança, a dor que não aparece por que ela esta ali.

—Há uma quantidade limitada de coisas que você pode assistir alguém sacrificar por você antes de perceber que ele está mudando quem é por você, e não de um jeito bom.—Ela diz sem nenhum aviso.—Foi isso que eu disse pra mim mesma algumas semanas antes de ir embora.

Respiro fundo, tentando antes de entender, esconder a magoa que implora pra vir para a superfície.

—Eu sacrificaria tudo.—Digo sério.—Eu teria sacrificado tudo, qualquer coisa, hoje percebo o quão idiota isso foi, você teria ido de qualquer jeito.

Ela me encara, não consigo decifrar o que aquele olhar quer dizer.

—Eu teria ido de qualquer jeito?—Ela repete minha frase.

—Sim, você teria ido de qualquer jeito.—Digo sério e deixando um pouco da raiva/magoa/tristeza vir para a superfície.—Eu estava lutando contra os meus demônios para ficar com você, enquanto você estava procurando os seus para ir embora.

Ela me encara, não parece magoada ou afetada por minhas palavras.

—Você tem razão, eu era toda sombria e traumatizada.—Ela diz rindo.—Derek.

É a primeira vez que ela diz meu nome desde a última vez que eu a vi. O rosto dela está indecifrável, os olhos verdes me encaram com um brilho intenso.

—Meredith.—Digo o nome dela devagar, com uma calma que a tempo não sinto.

—Isso é ridículo.—Ela diz antes de começar a gargalhar. Ela gargalha tanto que consigo ver as lágrimas descendo por suas bochechas.—Desculpa.—Ela diz fazendo uma pausa pra respirar.—Eu achei que tinha passado, pensei que ia conseguir te olhar sem querer te beijar e socar tua cara.

—Eu achei que tinha acabado, eu nunca percebi o quanto doía não estar com você até que te vi novamente, e a dor foi embora. Eu te odeio por isso Meredith.

—Não, você me ama.—Ela diz calma e com uma certeza que deve ter tirado do cu, por que nos últimos anos tudo que eu fiz foi tentar odiar ela.

—Sim eu te amo. Mas você não tem ideia de quantas vezes eu desejei não amar.—Digo deixando a dor ficar visível, ela vira a taça de vinho e respira fundo.

—Eu preciso ir.—Ela diz se levantando.—Isso é pra você. 

Ela me entrega o envelope.

Assisto ela sair, não tento a impedir, deixar a dor vir pra superfície depois de todos esses anos foi mais doloroso do que eu pensei que seria e eu não tenho forças pra fazer nada além de observar ela ir.

Encaro o envelope, tentando decidir se abrir ele é algo que eu realmente quero, apesar de toda a insegurança, abro o envelope.

Dentro dele estão os gatilhos pra tudo que evitei nos últimos anos: Um post-it e um colar de prata preta com um diamante azul. 

Essas são as provas de que um dia a gente se pertenceu.

Antes do felizes para sempre vcs vão entender o que rolou

preparados?

comentem, curtam e compartilhem.

bjs.

Green and Blue- MerDerOnde histórias criam vida. Descubra agora