past • 21

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[pas-sa-do
adjetivo
1.
que passou; decorrido, pretérito.
"acontecimentos p."
2.
imediatamente anterior.
"semana p."]

gigi point of view

Encarei o grande portão preto que me separava do bairro mais luxuoso de Londres. Eu costumava morar aqui e nunca tinha reparado o quão alto ele era, seria um lugar muito difícil de invadir. Mas não estou aqui para isso de qualquer forma, eu posso entrar e sair a qualquer momento, a qualquer hora. O segurança ficou surpreso e feliz com meu aparecimento repentino, mas mesmo depois de quase três anos ele ainda se lembrava de mim. Não é engraçado ou estranho como algumas coisas podem mudar radicalmente enquanto outras parecem presas no tempo.

Como imaginei, minha entrada ainda era totalmente liberada, tenho certeza que é exigência da minha mãe já que meu pai me odeia. Assim que portão se abre eu adentro pelo grande arco verde, impressionante como esse lugar pode continuar florido e cheio de vida enquanto eu estava cada dia mais triste e vazia. Eu costumava amar esse lugar, correr pelo jardim durante o verão e fazer uma guerra de bola de neve no inverno, mas a infância passa e tudo que levamos dela são as memorias. Talvez seja por isso que as pessoas tem filhos, ter a chance de reviver essa fase novamente, esquecer tudo por alguns momentos e apenar rir de um simples tombo ou correr em direções que não levam a lugar nenhum apenas por correr. Era um sentimento desejável, a esperança do começo de uma vida, como pode tudo ficar tão miserável de um dia para o outro?

A grande casa continuava da mesma cor, haviam mais plantas coloridas na entrada do que da última vez. O ar ainda tinha o mesmo cheiro e eu desejei poder sentir o gosto do bolo da minha vó. Parei o carro e fiquei encarando a porta de madeira que estava há uns 30 metros à minha frente. Tentei me lembrar dos motivos que me trouxeram aqui, era importante ter eles em mente.

Meus últimos dias foram difíceis, tenho sonhado muito com Bella, são sonhos bons que terminam de formas terríveis. Acordei diversas vezes sem saber o que era ou não real, em quais memórias eu de fato poderia confiar, o que era real e o que era fruto da mente. Eu sai daqui pelo mesmo motivo que voltei, memórias. Cada canto daquela casa me lembrava dela, da sua risada e sua voz, eu precisava ter certeza do que era real e do que foi criado pela minha mente. A necessidade de lembrar que ela um dia foi real, qual era seu perfume, suas roupas favoritas, onde ela costumava se sentar para ler e onde nós eramos felizes sem ao menos saber.

Peguei a chave que não via a tempos, me perguntei se ainda serviria para abrir a grande porta. Respirei fundo mais uma vez e deixei o carro. O cheiro de terra molhada era familiar, quase como se eu nunca nem ao menos tivesse partido. A porta se abriu sem muitas dificuldades, os mesmos porta retratos estavam na entrada, mas era tudo diferente, os moveis e a decoração por um todo já compartilhavam uma palheta de cores diferentes da anterior, minha mãe adora reformas.

Em silêncio caminhei cuidadosamente pelo corredor que me levaria a sala de recepção, tudo era limpo e organizado, não me permiti tocar em nada, esse lugar não me era conhecido mais, senti a decepção no meu estômago. Como fui tola em pensar que tudo continuaria da mesma forma. Uma foto nova me chamou atenção, meu pai e minha mãe ao lado do meu irmão e uma garota da minha idade talvez, eu não a conhecia mas ela estava abraçada ao Anwar, uma namorada nova talvez. Imaginei como a foto poderia ser diferente se eu não tivesse o dom de estragar tudo, como eu e Bella estaríamos ao lado de mamãe sorrindo para um cartão de natal dos Hadid. Bella amava o natal.

Afastei a ideia, era um delírio de qualquer forma. Continuei meu reconhecimento do território, entrei no corredor que me levaria as escadas, e vi de relance a outra sala iluminada pela luz do sol que poderia levar ao jardim lateral. A sala também era bem diferente mas a escadaria era a mesma, ainda com os mesmo quadros de arte, apenas uma tapeçaria diferente. Para cada degrau que subia, eu me sentia mais ansiosa, uma parte inconsciente minha ainda achava que poderia encontrar minha irmã no seu quarto e que tudo ficaria bem, essa parte seria destruída tão rapidamente.

War Zone • Zayn MalikOnde histórias criam vida. Descubra agora