Uma semana se tinha passado desde que Rafaela e David tinham feito as pazes, mas Rafaela não se andava a sentir muito bem. Mergulhada em trabalho, cada vez mais, mal tinha ido a casa nessa semana, não sabendo bem a razão, mas a verdade era que fazia de tudo para não voltar para a sua casa.
Eram agora dez horas da noite e ela estava no café, onde trabalhava, a preparar os bolos para o dia seguinte, ultimamente esta tinha sido a sua rotina, sai do seu segundo trabalho e voltava para o café, para preparar as coisas para o dia seguinte. Como, às vezes, ficava até muito tarde, nem ia a casa e acabava por dormir no escritório do café.
Estava a preprar um doces, quando alguém entrou pela porta do café, mas ela estava fechada a chaves, por isso tinha de ser alguém que ela conhece-se, para ter as chaves.
-Rafaela? – ouviu ela chamar ao longe – Onde estás?
-David? – perguntou ela – Que estás aqui a fazer? Estou cá dentro.
David entrou na cozinha do café, onde ela estava a fazer os bolos.
-O que estás a fazer? – perguntou ele, olhando para ela cheia de farinha por todo o lado – Rafaela, são dez da noite, vai para casa.
-Como é que entraste aqui? E o que estás aqui a fazer?
-Eu tenho a chaves. Eu sou o dono, lembraste? E a minha irmã ligou-me.
-O que?
-Ela disse que há dois dias que não vais dormir a casa e que mal paras em casa quando apareces. O que se passa?
-Eu estou bem – disse ela, continuando a mexer na massa do bolo – A tua irmã preocupa-se demais. E por que raio ela ligou para ti?
-Ela disse-me que sou o único que te faz frente, disse que ela não tem coragem para te dizer que estás a trabalhar demaisis. Pelo visto és assustadora, quando te dizem para trabalhares menos.
-Eu não sou assutadora! – disse ela, atirando farinha para o bolo e continuando a mexer.
-E tão anda para casa!
-Não! – berrou ela.
-E dizes tu que não és assustadora – disse ele rindo – Deixa lá esse bolo e anda para casa, que pelo que estou a ver precisas urgentemente de um banho.
-Estas a dizer que tenho mau aspecto?
-Tu sabes que para mim és linda de qualquer forma, mas sim estas a precisar de um banho, tens farinha espalhado por todo o lado.
Rafaela sorriu e pegou num pouco de farinha na mão.
-Estás a dizer que tenho mau aspecto? – perguntou novamente ela, atirando-lhe com farinha para a cara dele.
-Rafaela – gritou ele, rindo e limpando a farinha da cara.
-Agora tu também tens mal aspecto – disse ela, limpando a farinha das mãos e fugindo para o outro lado da mesa.
-Hora da vingança então – disse ele, pegando em mais farinha e atirando-lhe para a cara.
-David – disse ela, supreendida por ele entrar na brincadeira e atirando-lhe farinha para a camisa e para a gravata dele -Isto não é uma luta de farinha.
-Claro que é – disse ele, tirando a gravata e atirando mais farinha para o seu cabelo.
Começaram a atirar farinha um para o outro, até que a do lado de David acabou e este começou a correr atrás dela, a volta da mesa e conseguiu alcança-la e pegou nela, sentando-a na mesa, amarrando nos seus braços.
-Diz que vais para casa – disse ele, ameaçando atirar um pedaço enorme farinha pela sua cabeça.
-Não posso – disse ela.
-Porque não? – perguntou ele, olhando nos seus olhos.
-Porque tudo me faz lembrar de ti.
-O que? – disse ele largando-a.
-Porque tudo naquela casa me faz lembrar de ti e porque o Daniel quer me levar a um encontro e eu não consigo aceitar sem me lembrar de ti.
-Não queres ir com o Daniel a um encontro?
-Eu quero, mas sempre que combinados olho a volta e lembro-me de ti e fico com medo...
-De que?
-De que tu me partiste tão profundamente, que me estragaste para futuras relações.
-Rafaela, tu não estás partida, só em sofrimento, mas vais ver que com o tempo tudo vais doer menos. Vai sair com ele a um sítio que não te lembre de nós e aceita num sítio que te sintas bem.
-Tens razão. E a ti?
-O que?
-Doi-te menos?
-Amar-te nunca vai deixar de doer, mas a dor diminuir, espero eu – disse ele, limpando a farinha da sua cara – Agora vamos para casa. Consegues andar?
-Não sei se tenho força para ir para casa já.
-O que sugeres então? Tens de tomar um banho e comer alguma coisa. Quando foi a última vez que comeste uma refeição decente?
-Hoje?
-Não me mintas.
-A semana passada?
-Rafaela, se não tens força para ir para casa, então vamos para a minha. Podes tomar um banho e comer alguma coisa, podes até dormir lá e depois levo-te para casa, quando te sentires melhor e pronta para enfrentar o teu encontro.
-Fazias isso por mim?
-Claro que sim e agora vamos e não tentes fugir que sei que não tens muita energia para lutar, depois da nossa luta de farinha.
-Lutar contra ti? Não me atrevia.
David levantou-a da mesa, mas notou que lhe custava a andar, ela estava sem força, depois de uma semana sem comer nada de jeito e sem descansar o suficiente. Por isso amarrou nela, pela cintura e colocou a sua mão, à volta do seu pescoço, levou-a para o seu carro em direção do seu apartamento. "Isto é uma má ideia", pensou ele enquando ela adormecia no seu carro, mas sabia que era a única opção que tinha naquele momento e dado as circunstâncias.
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Ligações do passado
RomanceUm mês se tinha passado desde a grande discussão de Rafaela e David, ambos pareciam ter continuado com as suas vidas. Enterrada em trabalho, Rafaela decide ir numa viagem, com os seus amigos e os dois atraentes novos vizinhos da frente, mas um convi...