Capítulo 13 Uma luta de farinha

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Uma semana se tinha passado desde que Rafaela e David tinham feito as pazes, mas Rafaela não se andava a sentir muito bem. Mergulhada em trabalho, cada vez mais, mal tinha ido a casa nessa semana, não sabendo bem a razão, mas a verdade era que fazia de tudo para não voltar para a sua casa.

Eram agora dez horas da noite e ela estava no café, onde trabalhava, a preparar os bolos para o dia seguinte, ultimamente esta tinha sido a sua rotina, sai do seu segundo trabalho e voltava para o café, para preparar as coisas para o dia seguinte. Como, às vezes, ficava até muito tarde, nem ia a casa e acabava por dormir no escritório do café.

Estava a preprar um doces, quando alguém entrou pela porta do café, mas ela estava fechada a chaves, por isso tinha de ser alguém que ela conhece-se, para ter as chaves.

-Rafaela? – ouviu ela chamar ao longe – Onde estás?

-David? – perguntou ela – Que estás aqui a fazer? Estou cá dentro.

David entrou na cozinha do café, onde ela estava a fazer os bolos.

-O que estás a fazer? – perguntou ele, olhando para ela cheia de farinha por todo o lado – Rafaela, são dez da noite, vai para casa.

-Como é que entraste aqui? E o que estás aqui a fazer?

-Eu tenho a chaves. Eu sou o dono, lembraste? E a minha irmã ligou-me.

-O que?

-Ela disse que há dois dias que não vais dormir a casa e que mal paras em casa quando apareces. O que se passa?

-Eu estou bem – disse ela, continuando a mexer na massa do bolo – A tua irmã preocupa-se demais. E por que raio ela ligou para ti?

-Ela disse-me que sou o único que te faz frente, disse que ela não tem coragem para te dizer que estás a trabalhar  demaisis. Pelo visto és assustadora, quando te dizem para trabalhares menos.

-Eu não sou assutadora! – disse ela, atirando farinha para o bolo e continuando a mexer.

-E tão anda para casa!

-Não! – berrou ela.

-E dizes tu que não és assustadora – disse ele rindo – Deixa lá esse bolo e anda para casa, que pelo que estou a ver precisas urgentemente de um banho.

-Estas a dizer que tenho mau aspecto?

-Tu sabes que para mim és linda de qualquer forma, mas sim estas a precisar de um banho, tens farinha espalhado por todo o lado.

Rafaela sorriu e pegou num pouco de farinha na mão.

-Estás a dizer que tenho mau aspecto? – perguntou novamente ela, atirando-lhe com farinha para a cara dele.

-Rafaela – gritou ele, rindo e limpando a farinha da cara.

-Agora tu também tens mal aspecto – disse ela, limpando a farinha das mãos e fugindo para o outro lado da mesa.

-Hora da vingança então – disse ele, pegando em mais farinha e atirando-lhe para a cara.

-David – disse ela, supreendida por ele entrar na brincadeira e atirando-lhe farinha para a camisa e para a gravata dele -Isto não é uma luta de farinha.

-Claro que é – disse ele, tirando a gravata e atirando mais farinha para o seu cabelo.

Começaram a atirar farinha um para o outro, até que a do lado de David acabou e este começou a correr atrás dela, a volta da mesa e conseguiu alcança-la e pegou nela, sentando-a na mesa, amarrando nos seus braços.

-Diz que vais para casa – disse ele, ameaçando atirar um pedaço enorme farinha pela sua cabeça.

-Não posso – disse ela.

-Porque não? – perguntou ele, olhando nos seus olhos.

-Porque tudo me faz lembrar de ti.

-O que? – disse ele largando-a.

-Porque tudo naquela casa me faz lembrar de ti e porque o Daniel quer me levar a um encontro e eu não consigo aceitar sem me lembrar de ti.

-Não queres ir com o Daniel a um encontro?

-Eu quero, mas sempre que combinados olho a volta e lembro-me de ti e fico com medo...

-De que?

-De que tu me partiste tão profundamente, que me estragaste para futuras relações.

-Rafaela, tu não estás partida, só em sofrimento, mas vais ver que com o tempo tudo vais doer menos. Vai sair com ele a um sítio que não te lembre de nós e aceita num sítio que te sintas bem.

-Tens razão. E a ti?

-O que?

-Doi-te menos?

-Amar-te nunca vai deixar de doer, mas a dor diminuir, espero eu – disse ele, limpando a farinha da sua cara – Agora vamos para casa. Consegues andar?

-Não sei se tenho força para ir para casa já.

-O que sugeres então? Tens de tomar um banho e comer alguma coisa. Quando foi a última vez que comeste uma refeição decente?

-Hoje?

-Não me mintas.

-A semana passada?

-Rafaela, se não tens força para ir para casa, então vamos para a minha. Podes tomar um banho e comer alguma coisa, podes até dormir lá e depois levo-te para casa, quando te sentires melhor e pronta para enfrentar o teu encontro.

-Fazias isso por mim?

-Claro que sim e agora vamos e não tentes fugir que sei que não tens muita energia para lutar, depois da nossa luta de farinha.

-Lutar contra ti? Não me atrevia.

David levantou-a da mesa, mas notou que lhe custava a andar, ela estava sem força, depois de uma semana sem comer nada de jeito e sem descansar o suficiente. Por isso amarrou nela, pela cintura e colocou a sua mão, à volta do seu pescoço, levou-a para o seu carro em direção do seu apartamento. "Isto é uma má ideia", pensou ele enquando ela adormecia no seu carro, mas sabia que era a única opção que tinha naquele momento e dado as circunstâncias.

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