57ºCapítulo

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Gatilhos: arma, tentativa de homicídio, tentativa de suicídio, agressão.

Acordo mais um dia, mais um mísero dia, dentro desse banheiro. Não sei a quanto tempo estou aqui, desisti de contar.

Não, eu não consigo mais contar. 

Meu corpo dói por ficar de mal jeito dentro da banheira por tanto tempo, me sinto ainda mais fraca, minha visão fica turva e escurece a cada dez minutos me fazendo ter que andar apoiada nas paredes e móveis, meu estômago continua recusando qualquer coisa que eu se quer sinta o cheiro. 

E ainda tem o desgaste psicológico para piorar tudo. 

Eu passo os dias revezando entre o quarto e o banheiro, sempre com medo do Terry resolver que já me ignorou o suficiente e voltar a tentar fazer coisas. Essa falta de mobilidade e espaço está me fazendo perder a noção do tempo, não sei que dia é hoje, não consigo me lembrar da data exata em que fui pega, nem deduzir mais as horas. 

Nos meus cochilos eu tenho pesadelos horríveis onde estou completamente sozinha, esquecida e do nada escuto um choro de bebê.

Eu sei que é meu filho, e tento correr em direção ao som e alcançá-lo, mas é em vão pois o choro começa a ficar mais alto até se tornar um som ensurdecedor e depois para com um disparo de arma, me fazendo ficar mergulhada no silêncio esmagador novamente, perdendo o ar, sufocando mais forte conforme meu choro se intensifica. 

Antes eu tinha medo apenas por mim, mas agora a possibilidade de estar carregando uma vida durante essa situação tão desastrosa tem me deixado mais desesperada e em pânico. No fundo eu sei que a probabilidade de eu sobreviver a isso é muito pequena, envolver uma criança na equação...

Não! Não quero pensar nisso, de novo! 

Não posso perder esse bebê!

Tomo um banho rápido, sempre atenta à porta com medo de qualquer movimentação, minha visão escurece e eu acabo escorregando e batendo a cabeça na parede. 

-Porra!- Respiro fundo e me sento, espero alguns minutos com a água morna caindo na minha cabeça. Sinto uma ardência onde possivelmente abriu-se um pequeno corte. -Ótimo.- Me levanto com cuidado para não me acidentar e acontecer pior, pego uma toalha limpa dentro do armário e me seco, vestindo o mesmo conjunto de moletom que estava antes. 

Encaro o banheiro e ao fundo os produtos de limpeza, antes Terry me obrigava a limpar o casarão quase todo, agora eu tenho que limpar apenas o quarto e o banheiro que fico. "Parte da boa convivência de um casal" ele disse, é melhor cumprir suas ordens do que apanhar, aprendi da maneira difícil. 

Saio do banheiro e me sento na cama, olho pelas grades da janela esperando alguém aparecer e me tirar desse inferno, mas nada acontece, como todos os outros dias. Sinto meus olhos marejarem e não tento conter as lágrimas. 

Eu nunca vou sair daqui.

Ninguém virá me buscar. 

Minha mente volta para o pior dia dentro dessa casa, a tentativa de estupro, a tentativa de fuga, o telefonema, o tiro. Sinto um arrepio na espinha ao me lembrar disso, e o medo voltar com a prova de que Terry é um completo lunático, sociopata, com transtorno explosivo intermitente e traço esquizofrênico. 

Estou perdendo as esperanças, a cada minuto a probabilidade de me acharem diminui, sei disso, eu vou entrar para a estatística de caso não resolvidos de desaparecidos. 

E pensar que eu arrisquei a vida de uma pessoa atoa, as informações que dei para o Jack naquele dia e se eu tivesse ficado quieta, Mônica poderia estar viva agora. 

A.S.P: True Love (Amor Verdadeiro)Onde histórias criam vida. Descubra agora