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Respirei fundo após ler a mensagem de Sina, ela estava no hospital devido a um sangramento. Tenho uma reunião marcada daqui trinta minutos, minha mente batalha entre si para decidir o que fazer. Precisava ver Sina e saber que ambas estão bem, elas são minhas prioridades, porém ainda tem o meu trabalho, minha carreira é importante afinal.

Sina

Sina: Beatriz quer nascer.

Eu: Como assim?

Sina: Como assim o que Any, ela quer conhecer o mundo

Eu: Sina, não brinca comigo

Sina: Queria que essa dor fosse uma brincadeira.
Beatriz quer nascer Any
Por favor vem pro hospital.
Estou com medo.

Desliguei o celular, peguei minha bolsa e fui para o elevador, enquanto descia escrevi um pequeno e-mail para o Ron avisando o motivo da minha ausência na reunião. Por sorte consegui pegar um táxi assim que sai do prédio, meu coração está a mil.

Corri para dentro do hospital, fiz meu cadastro como acompanhante da Sina Deinert, três andares nunca foram tão demorados quanto aqueles, o ambiente está bem calmo apesar de ser um hospital.

Sina estava na sala de cirurgia, então tive que ficar na pequena sala de espera no andar, não tenho notícia do que ocorria lá dentro, e isso estava acabando comigo. A gravidez é arriscada, desde o inicio estávamos sabendo disso, mas Sina quis continuar com ela. "Nosso amor merece ser passado adiante, quero que tenhamos o filho que sempre sonhávamos, mesmo que ele não esteja mais aqui para vê-lo."

(...)

O vidro me separava da pequena Beatriz, uma enfermeira estava dando banho nela, sua pele ainda estava com sangue, o choro não parava. Ela é tão pequena e frágil, sorri quando ela parou de chorar.

— A senhorita é acompanhante de Sina Deinert?

Desviei o olhar para os médicos ao meu lado, Sabina evitava me olhar.

— Sim.

— Eu sinto muito...

Olhei confusa para o médico, sabia o que vinha a seguir, porém não estou pronta para isso, não queria acreditar o que realmente havia acontecido.

— Sina teve hemorragia interna, perdeu muito sangue. — Sabina diz, seu olhar estava focado em Beatriz — Fizemos o possível mas ela não resistiu, eu sinto muito Any.

Naquele instante eu me senti perdida, eu sempre soube do risco daquela gestação, mas nunca passou pela minha cabeça que pudesse realmente matá-la. Me virei para o vidro novamente, a enfermeira estava acabando de limpá-la. O que eu faria agora? Não posso cuidar de um bebê, não tenho tempo para isso, mas também não posso deixá-la. Droga Sina, porque teve que me deixar?

— Quer que eu ligue para a família dela? — Sabina se ofereceu, só naquele instante percebi que os médicos não estavam mais ali.

Meus olhos lacrimejavam, sabia que a qualquer momento eu iria desabar, mas não poderia, pelo menos não agora.

— Não, pode deixar eu ligo.

— Deixa que eu faço isso Any, porque não vai ficar um pouco com a Beatriz?

Segui Sabina para dentro do berçario, fiz o processo de higienização, a enfermeira me guiou para o berço da Beatriz. A roupinha do hospital ficava grande no seu pequeno corpo, passei a mão pelo seu rostinho, ganhei um sorriso como resposta. Beatriz é a mistura perfeita de Noah e Sina, sua pele bronzeada era de Noah, já os cabelos loiros como raios de sol era da Sina.

Passei varios minutos observando Beatriz dormir, sabia que se eu saísse dali teria que lidar com a morte da Sina, com a guarda da pequena, e com todo o resto do mundo, estar ali com a Beatriz me fazia esquecer de tudo e de todos.

(...)

No final da tarde, os pais de Sina e Noah estavam no hospital junto comigo, ainda não sabiam o que fariam com a Beatriz, estavam abalados demais com a perda da Sina para pensar em um futuro. Liguei para a empresa avisando que não iria trabalhar pelo resto da semana, não tenho psicológico para fazer isso.

Enterramos Sina durante a noite, e fomos todos para o meu apartamento, era pequeno, mas acomodou todos.

Logo pela manhã fui para o hospital ver Beatriz, deixaram eu dar banho e alimentar a pequena. Sabina passou algumas vezes para vê-la, e me assegurou que estava tudo bem.

No período da tarde foi a vez dos avós babarem na Beatriz, aproveitei e fui comer no restaurante do hospital.

— Já decidiram o que farão com a bebê? — Sabina perguntou sentando do meu lado, bebendo um enorme copo de café.

— Ainda não, estamos abalados demais com a morte da Sina, ainda não pensamos sobre isso.

— Mas tem que pensarem, Beatriz esta ótima, no máximo amanhã ja pode ir para casa.

Respirei fundo, minha cabeça não desligou um minuto desde que eu recebi a notícia da morte da Sina, as horas pareciam voar enquanto eu estava no mesmo lugar, observando todos a minha volta, e cada um deles pareciam certo do que fazer a seguir, menos eu. Os Deinert e Urrea estavam imersos no luto novamente, e eu estava ali, parada no tempo.

— Eles não vão ficar com ela. — sussurei.

— Mas são os avós dela Any.

— Eu sei, mas olhar para Beatriz é um enorme lembrete da perda deles.

— Eles superam isso.

— Sina fez um testamento.

Sabina me olhou curiosa, além de médica ela era nossa amiga, acompanhou todo o processo de fertilização da Sina. Sabina sabia cada detalhe da ficha médica da Sina, e claro, cada uma das nossas bebidas favoritas.

— A guarda da Beatriz é minha.

A médica colocou as mãos sobre a mesa, e me encarou por alguns segundos. Nunca conversamos sobre minha vontade de ter filhos, crianças sempre foi um assunto voltado para Sina, todos que me conheciam sabiam o quão focada eu estava no trabalho, uma criança naquele momento estava fora de cogitação.

— Eles já sabem disso?

— Não, o testamento será lido hoje a noite.

— E como você sabe disso?

— Sina me fez prometer proteger o bebê a qualquer custo, me deixou cartas e videos para serem entregues a Beatriz.

— Uma criança é muita responsabilidade.

— Sei disso, também sei que não estou pronta para isso. — respirei fundo. — Sabina eu estou começando minha carreira, daqui a uns dois meses será lançada a minha primeira coleção, uma criança nunca fez parte dos meus planos, e não da para mudar isso agora.

— Só pensa direito no que fará agora, para não se arrepender futuramente.

— Esse é o problema Saby, eu não sei o que fazer, eu estou tão perdida. — suspirei. — Não sei do que me arrependerei no futuro.

DRM • de repente mãe Onde histórias criam vida. Descubra agora