15

12.5K 1.3K 454
                                    

Voltar para casa não havia sido uma tarefa difícil, mas expulsar o trio havia. Sabina me ligava de hora em hora na intenção de saber como eu estava, aquilo era irritante em certo ponto.

O tom laranja do pôr do sol tomou conta da sala, estava feliz com o final daquele dia. Amanhã seria diferente, um novo dia, novas chances. Me sentei próxima a janela, a fim de aproveitar todo aquele momento. A quanto tempo não fazia aquilo afinal? Permaneci ali até a lua ter tomado o lugar do sol.

Beatriz dormia calmamente em seu carrinho, próximo ao sofá. Poderíamos passar o resto da noite ali, não era o lugar mais confortável da casa, no entanto, naquele momento, me trazia a paz que eu necessitava. Não sei ao certo quanto tempo passei olhando para a cidade e o céu, mas diversas casas já se encontravam apagadas. Poucas pessoas ainda caminhavam pela rua. Passei a imaginar o que faziam ali, aproveitavam a noite? Ou talvez apenas estivessem voltando do trabalho.

O toque do meu celular despertou Beatriz. Maldita seja a pessoa que me ligava. Busquei meu telefone, um pouco raivosa. Não seria Sabina, ela iria trabalhar a noite, não havia motivos para continuar me ligando. Para minha surpresa o nome "Ron Beauchamp" tomava conta da tela. Atendi rapidamente, para ele me ligar algo ruim havia acontecido.

— Boa noite Senhorita Soares, me perdoe por ligar tão tarde.

— Tudo bem senhor Beauchamp, aconteceu algo?

— Nada com o que se preocupar, apenas quis ressaltar meu e-mail.

E-mail? Que e-mail?

— Desculpa senhor, e-mail? — uma breve risada foi ouvida por mim do outro lado da linha. Céus, ele estava rindo? Pensei que fosse quase impossível isso ocorrer.

— Mandei para a senhorita, mas não obtive resposta.

— Ahh... Desculpa senhor Beauchamp, fiquei tão feliz pelo desfile que esqueci de ver os e-mails. — não era totalmente mentira.

— Tudo bem senhorita Soares, nos vemos amanhã certo?

— Certo...? — respondi incerta, por sorte Ron desligou.

Pensei em olhar o e-mail, mas as milhares de notificações me pareciam mais atrativas. O resmungo de Beatriz me fez olhá-la.

— Com fome pequena? — me aproximei da bebê, tomando a mesma em meus braços. A cozinha estava uma bagunça, tudo graças ao trio. Revirei os olhos, não achava nada que eu precisava, porque tinham que mudar tudo de lugar? — Aonde está sua mamadeira Beatriz? Seus tios são a bagunça em pessoa.

A bebê nem prestava atenção no que eu falava, estava mais focada na alça de minha blusa. Revirei rapidamente a louça, e não havia nada ali. Os armários estavam praticamente vazios, boa parte dele estava na pia. Ótima mãe eu sou, não sei nem onde está a mamadeira de Beatriz. Os leves resmungos de Beatriz se tornaram mais frequentes, sabia que logo tudo isso se tornaria um belo choro. Revirei toda a cozinha, mas não achei. Pensei em ligar para Sabina, mas ela deve estar ocupada no momento. Eu não iria atrapalhar o sono de Lamar, ele teria um longo dia pela manhã. Já Bailey, bom... Não fazia ideia do que estava fazendo e do que iria fazer no dia seguinte, então liguei para ele, três tentativas e nada.

Beatriz me olhava, suspirei cansada. Liguei para a única pessoa que poderia me ajudar no momento: Joshua. O quarto toque da chamada me fez perder as esperanças, ele deveria estar ocupado.

— Any...? — seu tom de voz sonolento tomou conta da cozinha do apartamento. Aí meu Deus, eu o acordei, olhei desesperada para o relógio, 23:00. Me arrependi te ter ligado para ele, não queria o acordar.

— Desculpa Joshua, não queria te acordar — disse por fim, já tinha acordado ele, pelo menos deveria explicar o motivo.

— Aconteceu algo?

Ouvi um barulho no qual eu não consegui identificar, talvez fosse ele se sentando na cama ou talvez alguém estivesse do seu lado. E se Sofya estiver com ele? Porque eu nunca penso direito antes de fazer algo.

— Não, não aconteceu nada senhor Beauchamp, desculpa por ter te acordado. — o resmungo de Beatriz se tornou choro, eu estava perdida naquele momento.

— Any o que está acontecendo? Poque Beatriz está chorando?

— Está tudo bem Jos... Senhor Beauchamp, me perdoe por ter atrapalhado sua noite de sono, isso não se repetirá.

Desliguei rapidamente, antes que ele pudesse me responder. Minha relação com Joshua era coisa do passado, atualmente ele era meu superior. Any aonde você estava com a cabeça?

Beatriz chorava em meu colo, pensei em fazer seu leite em um copo, porém não havia mais leite. O que eu faria agora? Como pude ser tão distraída assim? Passei a chorar junto com Beatriz. Precisava sair para comprar suas coisas, apesar de ser tarde.

Fui atrás de um casaco, vesti o primeiro que encontrei. Enrolei Beatriz em uma coberta, peguei minha carteira e sai do apartamento. Tentei acalmar Beatriz com a chupeta, o que não adiantou. Assim que entramos no elevador ela começou a chorar mais ainda, torci para que nenhum vizinho acordasse com o choro dela. Assim que sai do elevador o porteiro me olhou, não consegui entender o seu olhar, mas naquele momento nada mais me importava além de um supermercado.

Quando pisei na calçada me dei conta que não tinha pegado meu celular, ou seja, ou não poderia pedir um uber, e táxi naquela hora era algo impossível. Ótimo teria que ir andando, não poderia voltar para pegar meu celular, Beatriz acordaria o prédio inteiro.

Tentei focar no caminho que fazia, porém com Beatriz berrando em minha orelha seria impossível. Nunca desejei tanto que minha mãe estivesse ali para acalmá-la. Não tinha mais contato com os meus pais a anos, mesmo assim, queria que eles estivessem aqui, eles saberiam o que fazer com Beatriz.

Suspirei cansada. As poucas pessoas que passavam na rua, olhava para nós. Não conseguia fazer ela se acalmar, e não sei bem quando eu comecei a chorar também. Queria sentar no meio da rua e gritar, gritar para Sina voltar. Eu não dava conta, não conseguia fazer aquilo sozinha.

Congelei ao ver um carro ao nosso lado, não conseguia ver quem estava dentro. É agora que eu morro? Deus, por favor, eu pedi para trazer Sina de volta, não me levar até ela. Tente ir mais rápido, mas percebi que seria inútil. Seria minhas pernas, nada atléticas por sinal, com uma bebê no colo, contra uma pessoa de carro, porém o que custa tentar?

Como uma luz no final do túnel, vi uma pequena farmácia aberta na esquina. Estava perto, talvez eu conseguisse.

Comecei a correr, Beatriz se assustou com isso, quis rir dos seus olhinhos arregalados, porém não era um bom momento, meu foco tinha que estar totalmente em minha perna. Nunca fui de realizar exercícios físicos, e naquele momento estava repensando minhas atitudes, se saísse dali bem, eu iria começar a fazer academia o mais rápido possível. Não sei como consegui chegar na farmácia, mas eu havia chegado. Meu folego não era um dos melhores, muito menos minha aparência, porém ali eu estava a salvo, certo?

Consegui comprar o leite de Beatriz, e duas mamadeiras. Acho que a bebê entendeu o que estávamos fazendo já que parou de chorar. Após pagar me preocupei, e se a pessoa ainda estivesse ali? E se esperasse eu sair para fazer algo ruim comigo e com Beatriz? O medo tomava conta do meu corpo, entretanto não tinha muito o que eu fazer, precisava voltar para casa de algum jeito. Me agarrei mais em Beatriz. Respirei fundo e sai da farmácia. Provavelmente todas as cores do meu rosto sumiram naquele momento, lá estava o carro estacionado em frente a farmácia. Aquela seria minha morte? Sério mesmo Deus?

— Eu te amo Beatriz. — sussurrei para a pequena em meus braços.

A porta do carro se abriu. Não conseguia ver o rosto da pessoa, mas tinha um porte físico bom. Maravilha, não teria nem a chance de correr, eu poderia tentar, no entanto, seria alcançada rapidamente. Sem olhar para a pessoa passei a andar rapidamente, mas parei ao ter a cintura puxada, gelei dos pés a cabeça.

Deus salve Beatriz, foi a única coisa que pensei.

DRM • de repente mãe Onde histórias criam vida. Descubra agora