Wolf Like Me

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Blair

O fim da primavera se aproximava e com ele as responsabilidades de qualquer pessoa normal para com a escola. Pelo menos para Calvin e eu, é claro. Eu não esperava que Eric se preocupasse com notas àquela altura do campeonato quando até a frequência dele nas aulas estava correndo perigo. Eu ainda tinha toda a intenção de ir à faculdade por mais que ainda faltassem alguns anos, e não havia vampiro, lobo, elfo, duende ou fada do dente que pudesse me impedir de concretizar os meus grandes planos acadêmicos.

A impressão que eu tinha era que o conselho da reserva dava um jeito para que ninguém suspeitasse da situação dos garotos, principalmente porque agora eles eram muitos e estava cada vez mais na cara que alguma coisa estranha acontecia de tempos em tempos. As faltas alternadas, o fato de que todos eles eram como mutantes e ficavam extremamente parecidos fisicamente e estagnavam numa aparência de vinte e poucos anos - apesar de ainda serem adolescentes... Mesmo pessoas desatentas acabariam percebendo que quase dez rapazes passaram por uma puberdade acelerada em questão de semanas.

Eu ouvia meu pai e tio Gabe conversando por telefone como se fizessem parte de uma sociedade secreta, e também o próprio pai de Jacob e a mãe de Seth apareciam lá em casa tarde da noite para algumas "reuniões" que eu nunca entendia muito bem do que se tratavam. Era muita ingenuidade achar que apenas garotos adolescentes tomavam conta da situação perigosa fazendo vigílias por aí; era óbvio que os membros mais ancestrais da reserva estavam controlando as coisas por trás das câmeras, era como eu gostava de pensar.

E eu, é claro, tinha o meu acordo bilateral com o clã de vampiros que ninguém poderia saber, exceto Jacob. A história do compromisso incondicional que ele deveria ter comigo parecia dar certo porque até então ninguém tinha me confrontado sobre o dia em que ele me viu no carro com Alice e Jasper Cullen, então as memórias dele estavam seguras.

Nada mais ocupava a minha mente senão as provas finais. A ideia de passar dois meses inteiros sem nada para fazer em La Push no completo tédio e possivelmente sozinha não era exatamente promissora, principalmente porque eu não poderia viajar por conta própria nas férias. Além disso, eu não sabia se queria descobrir como era o verão no extremo noroeste do país, se é que aquilo poderia ser chamado de verão de verdade.

Depois que eu terminei de ajudar Calvin com o dever de casa, voltei ao meu quarto para terminar um extenso trabalho para a aula de Inglês. Era um dos poucos que demandava um grande esforço na nota final então eu fazia questão de estudar para valer. Não faria mal me empenhar de outras maneiras, então preparei pequenas quantidades de resina de sândalo e olíbano que havia encontrado no antigo estoque de minha avó - o que tio Gabe me indicara meses antes - e as coloquei em minúsculos frascos de metal vazado.

A minha intenção era espalhar por toda a casa, mas foquei em colocar apenas no meu quarto, no quarto de Calvin e na sala, pois eram os cômodos em que havia maior concentração de energia que demandava aquele tipo de magia e necessidade por foco e clareza mental. Meus pais jamais perceberiam aqueles pequenos recipientes tão bem escondidos nos vários enfeites antigos espalhados pela casa velha, então não me preocupei demais em ser discreta. Fui até a sala com o último amuleto de metal e o coloquei dentro de uma bíblia - afinal, qual foi a última vez que alguém abriu aquilo na minha família?

Enquanto eu ainda estava na sala, a campainha tocou e o som me deixou completamente espantada - eu morava ali desde janeiro daquele ano e nós nunca tínhamos recebido alguma visita que tocara a campainha ou que sequer tivesse batido na porta. Fiquei sem reação por alguns segundos, esperei que tio Gabe descesse de seu escritório ou que talvez gritasse alguma coisa do segundo andar, mas nada aconteceu. Olhei para os lados como se ainda aguardasse alguma direção, mas a campainha tocou novamente e eu decidi, enfim, atendê-la.