Efeito borboleta

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Depois de quase uma hora esperando no completo silêncio e solidão eu me perguntei novamente onde estava a sensação de alívio e livramento que eu deveria sentir de imediato, mas parece que os meus sentimentos ainda eram complicados demais. Pensei que aquilo poderia ser a minha cabeça confusa que não conseguia lidar com a morte, a própria morte. Sumir do mundo, ter a existência apagada do futuro. Não consegui desassociar a real morte de Caleb com o mesmo destino de Harvey; na verdade, a ida do meu melhor amigo agora parecia mais substancial e palpável. Os dois se transformaram na mesma coisa.

Passou a chover, o que era melhor que a neve, mas de qualquer forma não era bom. Não me escondi nem tentei evitar ser vista. A água que se acumulou nos meus cabelos sujos foi o suficiente para eu limpar o rosto e os braços daquela matéria que restava do vampiro que eu recém matara. Toda a cena poderia ser muito dramática, até mesmo para os meus padrões, e então quanto mais o tempo passava mais eu ansiava por um banho. Queria queimar aquelas roupas, mas estava de saco cheio de lidar com as cinzas. Estava inquieta até demais.

Andei sem pressa até o outro lado da rodovia onde um ponto de ônibus indicava as direções para o porto mais próximo de Honeymoon Bay. Esperei até que o veículo certo chegasse e me sentei no primeiro banco disponível. Ninguém se aproximou para me fazer companhia.

O fim da luz do dia no auge invernal do Pacífico Noroeste sempre acontecia por volta das três da tarde, então logo eu me vi no escuro natural do estacionamento que aguardava o ferry vindo do continente. Esperei em pé por um par de horas, com os braços cruzados me protegendo do vento congelante enquanto encarava o balanço do mar cor de grafite. Ali também não fui incomodada.

Jacob chegou exatamente quando eu havia previsto depois de fazer as contas da distância até La Push, considerando que ele saiu no instante em que eu desligara o telefone público. Ele moveu o carro da plataforma para uma distância mínima do solo e deixou a porta do motorista aberta antes de correr até onde eu estava. Fiquei ainda mais consciente do meu estado e ele provavelmente pensou que eu tinha sido fisicamente machucada. Ainda havia muito sangue, mas que ele não sabia que não me pertencia.

Vê-lo tão perto, por mais que ainda estivesse a alguns metros de distância, fez com que eu quisesse literalmente derreter. Me preocupava que eu não me sentisse bem depois de cumprir com o meu dever, mas eu já deveria saber que algo estava faltando; não era à toa que eu estava tão entorpecida. O alívio já tinha chegado e estava bem ali vindo na minha direção. Era o único remédio que eu precisava para permitir que as boas sensações me atingissem.

Mas ele desacelerou antes de me alcançar. Estava escuro lá fora, mas eu ainda encontrei os seus olhos preocupados e cautelosos, e com certeza não era pelo meu visual. Me perguntei se eu parecia tão mal, e não muito tempo depois eu constataria que sim, eu estava ridiculamente frágil, dolorida e prejudicada. Por tudo. Mas eu entendi aquele gesto como respeito pelo meu espaço e a espera para que eu o garantisse que estava bem. E então eu acenei afirmativamente antes de responder à sua indagação silenciosa:

- Está tudo resolvido.

- Eu tenho medo de perguntar o que isso significa - sua voz reconfortante soou indecisa.

- Ele também está morto - senti meus nervos à flor da pele por ter dito também.

Pela primeira vez me senti frágil quando ele enfim me envolveu os um abraço quente. Tudo isso poderia ter sido mais fácil se eu estendesse a mesma confiança que ele tinha comigo, mas eu resistiria até o fim antes de pedir ajuda - disso ele deveria saber também. Se eu tivesse um pouco menos de força eu me deixaria ser carregada o caminho todo de volta, porém eu não estava tão fraca assim. Que eu soubesse.

Wolf Like MeOnde histórias criam vida. Descubra agora