Wolf Like Me

Déjà-vu

Eu não sabia que era possível ver neve tão cedo em dezembro, mas aparentemente quanto mais perto do Ártico, mais normal a paisagem coberta pela geada da noite anterior se tornava. Mas a cor branca logo desaparecia quando começava a chover, e eu também não estava preparada para a água tão gélida que não cessava nas poucas horas diurnas. Como se eu já não soubesse antes, foi nessa época que eu entendi perfeitamente o motivo dos Cullen escolherem aquela região para se esconderem do mundo. Eu saía de casa vendo poucos indícios do amanhecer e voltava quando o sol já havia se posto na metade da tarde. Passei a cronometrar o tempo que se arrastava de um jeito sinistro para mim. Há seis semanas Harvey havia desaparecido.

Como se um ano tivesse sido jogado no lixo, eu me sentia de volta ao limbo de culpa que me foi tão familiar quando eu me mudei às pressas em janeiro. Praticamente tudo estava ali: o medo de ter sido seguida (que agora nós já sabíamos da verdade), a vergonha por ter feito tudo de errado e ainda ter sido exposta por isso e a culpa por implicar mais pessoas num lapso de julgamento que só tinha a ver comigo. A única coisa que havia mudado era que eu não estranhava mais o que deveria ser o meu lar, eu já sentia que pertencia e me camuflava até naquela casa mal assombrada, mas isso nunca foi um ponto muito positivo - na verdade foi o que me fez ficar cada vez mais reclusa.

Isso também era bastante familiar. Me lembrei de quando eu não ia à escola e me recusava a ir até a reserva falar com a alcateia como Eric queria. Não me lembro de simplesmente não querer cooperar por orgulho ou prepotência, porque o que eu sentia de verdade era vergonha por ter causado tantos problemas e medo de envolver mais pessoas naquilo que se tornava uma grande bola de neve. Tudo isso voltava elevado à décima potência.

Nada me perturbava mais do que ouvir Sam planejando táticas e me perguntando novos detalhes sobre habilidades dos vampiros, o que era diferente do que ele conhecia dos frios. Achei que ele ainda se lembrasse de tudo que eu lhe contara meses atrás quando decidira falar de vez, mas ele decidira que agora tudo havia mudado e que todos nós (sim, eu inclusa) precisávamos nos organizar com novas estratégias. Eu não sabia o que era pior: ser a vítima ou fazer parte de seus planos enquanto eu ainda estava completamente amedrontada.

Eu era a única que ainda era racional o suficiente para ficar paranoica. Sam e o conselho, incluindo os meus pais, tinham certeza de que tudo estava sob controle e que não seria muito difícil conter quatro vampiros (uma vez que estávamos considerando todos os conhecidos que representavam uma ameaça em potencial) com a nossa vantagem numérica e mágica. Jacob e Eric assumiram o papel de não me deixar sozinha em momento algum, e depois de alguns dias aquilo me deixava entediada. Talvez Bella se tivesse se sentido assim. E eu sabia que o resto da alcateia estava em êxtase com a ideia de uma nova caçada, dessa vez com inimigos diferentes. Eu estava bastante ciente disso porque, de novo, ninguém me deixava sequer um segundo sozinha, e agora a presença e as vozes dos garotos era uma constante como se eu mesma compartilhasse da minha mente com eles de forma involuntária.

E eles já estavam na minha casa quando Jake e eu voltamos da aula depois de buscar Calvin na escola fundamental. O meu irmão criança, com toda a sua sensibilidade além da idade, não sentia nenhuma vontade de passar tempo com aquele bando de gente mais velha - coisa que eu adoraria ter feito se fosse ele.

- Quem deixou vocês entrarem? - perguntei olhando para Jared, Kim, Embry e Quil, mas logo avistei Eric voltando da cozinha com o que parecia ser uma bolsa térmica. Ele estava com uma aparência horrível e eu não o vi nas últimas aulas naquele dia. - Ah. O que houve com você?

- Só uma enxaqueca - Eric respondeu apontando para si mesmo. - Dormi mal.

- Agora pergunte o motivo - Quil parecia dizer aquilo com más intenções.