Halloween - Parte XV

999 81 32
                                    

[Nota da autora: Olá! Este é o primeiro capítulo especial de data comemorativa no ano de 2020. Não é necessário para a leitura e andamento da narrativa atual, porém oferece mais contexto sobre personagens originais, memórias, fatos, etc. Não está em formato de flasback pois não se trata de ninguém se lembrando voluntariamente; são apenas extratos do passado.

Quis fazê-lo como um "especial de Halloween" pois essa data é muito simbólica. O próximo sairá no Natal!

 Espero que gostem! Boa leitura.]



Dois anos antes

Agosto

Só se ouvia o som dos meus passos no asfalto enquanto eu andava sem pressa alguma pela Rodovia Yankee Division. Depois que eu finalmente cruzara a divisa entre Salem e Danvers pela ponte do rio Crane eu achei que deveria me sentir mais segura, afinal, aquela era a "minha área", mas no final das contas dava na mesma. Salem nem era a cidade de Salem que todo mundo temia; realmente pouca coisa aconteceu por lá. A antiga vila de Salem era hoje a cidade de Danvers, e ali sim foi o palco de uma das piores histerias que já haviam tomado conta dessa terra: o fanatismo aliado ao preconceito. Talvez por isso eu não me sentisse especialmente segura em casa. A ignorância ainda matava diariamente independente da localização.

Minha mochila pesava, já começava a fazer frio e eu não estava com o meu celular para poder colocar fones de ouvido. A minha única distração eram os meus próprios pensamentos, e ficar muito tempo na minha mente não era uma boa ideia. Desejei ter forças para me locomover de outro jeito, mas eu estava exausta fisicamente e esgotada de outras maneiras também. Eu só queria chegar na rua da Target para poder pedir um táxi, isso se eu tivesse sorte àquela hora. Pela posição da lua eu acreditava que já havia passado das onze da noite. E em plena quinta feira? Só com muita sorte mesmo.

A minha caminhada começou a fazer um eco bastante suspeito, e então eu parei abruptamente, mas ainda assim ouvi alguns passos atrás de mim. Eu não estava sozinha no plano físico. Antes de virar para trás eu pedi à deusa que não fosse um homem, mas infelizmente constatei no segundo seguinte que era. Só que o que eu vi a alguns metros de distância foi um rosto conhecido (não necessariamente amigável), mas que ainda não me havia sido apresentado formalmente. Não foi o suficiente para me deixar na completa paz de espírito, mas pelo menos eu não me sentia ameaçada. Só incomodada.

- Ei, você precisa de uma carona? – ele gritou enquanto se dirigia a mim. Eu estava parada com metade do meu corpo virado para trás, encarando ele se aproximar num ritmo mais veloz que o meu.

- Você está a pé – eu observei, erguendo uma sobrancelha para aquela figura.

- Ah, sim, é claro... – o rapaz de olhos claros sorriu como se estivesse desconcertado. Eu desconfiei daquela inocência. – Quero dizer, você quer companhia?

Ele já estava quase me alcançando, portanto voltei a andar fingindo ignorar aquela presença. Naquele dia especialmente eu estava sem paciência.

- A gente se conhece? – ele surgiu ao meu lado. Andava com as mãos dentro dos bolsos da frente da calça jeans.

- Não – menti.

Soltei uma risada baixa e segui caminhando. Ele parou quase no mesmo lugar de antes, estalou os lábios com descrença e praticamente me acusou:

- Você está mentindo!

Freei os meus pés. Tive que esfregar os meus olhos para espantar o sono que já começava a bater. Separados por uns três metros, começamos um diálogo que parecia coisa de gente doida, mas aquilo não faltava em Danvers. Ou Salem.

Wolf Like MeOnde histórias criam vida. Descubra agora