Wolf Like Me

Plano A

[Nota da autora: já peço desculpas pelo capítulo IMENSO. Não dava pra dividir...]

Na primeira hora em que eu acordei na manhã seguinte eu decidi que não valeria a pena tentar dormir novamente e insistir em mais horas de sonhos desconexos que renderiam descrições vagas nos meus livros/diários. Me levantei num pulo e vesti a roupa que eu havia separado para poder correr, coisa que eu não fazia há um tempo e que até tinha prometido para mim mesma que seria a minha meta para o verão. Já tinha começado aquele hábito com o pé esquerdo.

Desci as escadas e encontrei a minha mãe sozinha colocando café em um copo térmico do tamanho do meu antebraço.

- Bom dia - ela me cumprimentou distraidamente. - Aonde vai assim tão cedo?

- Correr - respondi dando ombros como se fosse óbvio. - E você?

- Preciso ir ao correio em Forks enviar os artigos dos meus alunos - ela indicou uma caixa em cima da bancada da cozinha, e depois me deu uma boa olhada. - Você não pretende correr no meio da floresta, não é Blair?

- Sim - menti. Na verdade eu queria correr na trilha de bicicletas que ficava próxima à escola, mas obviamente agora era tarde demais para recorrer a este plano. - Qual o problema?

- Será que preciso mesmo explicar? - minha mãe ironizou, e depois puxou a bolsa de uma cadeira e passou-a pelos ombros. - Vamos, eu te levo até La Push e você corre na praia.

Aquilo não estava tão longe do meu plano original, então tive que aceitar. Segui minha mãe até o carro do meu pai que ela fizera questão de avisar que usaria porque o painel do outro ainda estava quebrado. E eu, mais uma vez, prometi que o conserto ficaria por minha conta.

Qualquer um dirigia com mais habilidade do que eu, então o trajeto até a First Beach não demorou tanto - mas foi o suficiente para que eu fechasse os olhos por dez minutos e cochilasse devido ao cansaço. Ao descer do carro minha mãe pediu para que dessa vez eu a avisasse que queria voltar para casa e não tentasse andar pela floresta sozinha que nem um personagem de conto de fadas. Eu prometi que ligaria para ela mais tarde, apesar de achar aquela analogia bastante ofensiva.

Percebi que em mais de seis meses em La Push eu nunca havia pisado na praia. Eu não estava tecnicamente na areia, mas o segmento de asfalto destinado às bicicletas era perto o suficiente para que eu sentisse o cheiro do mar e ouvisse as ondas quebrando logo à minha frente. Não fazia sentido no lugar mais chuvoso, nublado e frio do país. No verão o clima estava mais ameno, pelo menos por algumas horas por dia era possível ver o sol de relance e quem sabe um pedaço de céu azul também dava as caras. Era agradável.

Logo coloquei os meus fones e parti para correr sozinha na longa faixa plana que se estendia por alguns quilômetros seguindo a praia. Não havia pessoa alguma nas redondezas, que surpresa, então eu poderia alcançar o máximo de velocidade que eu quisesse sem ter medo de esbarrar em ninguém. Senti que as minhas pernas eram fortes e que me impulsionavam para longe com bastante rapidez, fazendo com que tudo a minha volta fosse um borrão de cores e imagens. A música alta e raivosa que ecoava nos meus ouvidos me impedia de ouvir os meus pés batendo no chão, então eu não sabia dizer qual era o ritmo dos meus passos tão apressados, mas eu imaginava que eu não estava correndo em uma velocidade normal.

Será que aquilo fazia parte do meu coletivo de poderes? Ou era só um efeito placebo - quer dizer, se eu me imaginava forte e ágil, então eu seria forte e ágil? O quanto da carga genética sobrenatural do meu pai eu havia herdado se manifestaria em mim? Se eu conseguia exalar algum tipo de poder - se é mesmo que correr rápido era um poder - eu estava fazendo aquilo sem estar sob ameaça. E para tirar a prova, eu olhei para trás para me certificar que não havia ninguém me perseguindo.