Capítulo 4 (Gatilho - Violência sexual)

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Se vontades movessem a vida, tudo seria perfeito, Hermione queria sair com os amigos, mas não com o Malfoy junto, já havia se estressado demais com ele, sabia sim que ele havia mudado, era um novo homem, ainda guardava a última carta que ele havia lhe mandado, mas ainda assim, ficara ressentida.

Estava andando por sua nova sala, era enorme, haviam duas estantes cheias de livros, um grande sofá de 4 lugares ao lado da porta de entrada, a luz entrava pela parede de vidro, atrás de sua mesa, ela conseguia ver praticamente toda a cidade dali, sua mesa preta já estava ocupada com seus pertences, o principal ali era um porta retrato, com uma linda foto de Marsh e Amy, ao lado da mesa, prateleiras corriam por quase toda a parede, com algumas poucas e simples decorações.

Ouviu o soar da porta abrir, estava sentada atrás de sua mesa, terminando de assinar seu novo contrato.

- Você e essa mania irritante de não bater na porta. - Ela disse calmamente sem tirar os olhos dos papéis.

- Como sabia que era eu? - Ele fechou a porta e a trancou, a castanha subiu seu olhar ao homem a sua frente. 

"Eu sempre sei quando você vem atrás de mim." Foi o que ela pensou de imediato.

- Só você entra nos lugares como se tudo fosse seu. - Ela acenou com a mão esquerda o pedindo para se sentar, e ele assim o fez.

- Precisamos conversar. - Ele estava sério, se não fosse Draco Malfoy ali na sua frente, ela poderia dizer que ele estava nervoso de estar perto dela.

- Nós não nos vemos há anos Malfoy, o que temos para conversar? - Ela se recostou em sua cadeira, cruzou os braços e encarou as orbes acinzentadas a sua frente.

- E é exatamente esse o assunto, o nosso último ano em Hogwarts. - O loiro apoiou os cotovelos em seus joelhos, passando uma das mãos em seu cabelo. - Quero saber por que ainda está brava comigo.

- Deixe de ser egocêntrico, não estou brava com você. - Sim ela estava, mas nunca admitiria - Nós só perdemos contato, acho que estamos grandinhos demais para ficar remoendo traumas do passado não acha?

- Não Granger, nós não perdemos o contato, você me ignorou por anos. - Suspirou - Eu só não quis continuar fazendo um papel de otário, implorando sua atenção.

Hermione fechou os olhos, levou os cabelos para cima os prendendo num coque mal feito, seu cérebro e seu coração estavam em uma enorme guerra, a duvida entre falar o que a incomoda e se manter calada era a maior no momento. Ela se levantou, foi até uma das prateleiras, levou sua mão até dois copos e uma garrafa de Firewisky, voltou a sua mesa e os colocou sob ela, se sentou novamente, sentiu o olhar de Draco sob si durante todo o caminho, ela não fazia ideia do porquê de ele querer trazer tudo isso de volta, mas, uma hora ou outra, eles teriam que colocar um ponto final em tudo, e seria agora. Serviu os dois copos com o líquido, pegou o primeiro copo e o levou até a boca, acabando com tudo em apenas um gole. 

- Primeiramente eu queria dizer que nem toda a minha raiva está relacionada a você, sim, eu fiquei chateada mas, isso não vem ao caso. - Cruzou suas pernas - Se lembra do que aconteceu?

- Não muito bem... - Ele abaixou a cabeça.

- Pensei que não. - Ela balançava as pernas tentando mandar embora toda a ansiedade daquele momento - Quando estávamos indo embora, você me abraçou, prometeu que em uma semana me buscaria na estação, era uma surpresa, nuca soube o que era, mas o ponto é, naquele dia você foi embora com Astoria.

"Eu como a mais nova "amiga" de Draco Malfoy, acreditei em você, é claro, briguei com quase toda a família Weasley, por sua causa, e como o esperado, eu apareci na estação uma semana depois. Passei o dia todo te esperando, mas acabou que você não apareceu, e essa não é a pior parte. - Ela puxou uma grande quantidade de ar, tentando conter a vontade de chorar - Já era tarde da noite quando eu estava indo embora, fui cercada por dois homens em uma rua escura, eu estava chorando tanto que nem vi eles se aproximarem... - Ela limpou uma lágrima rápida e sorriu triste. - Eles me encurralaram em um beco... e me estupraram Draco, depois me espancaram, eles queriam me matar, me desarmaram e me amarraram, eu fui torturada duas vezes em um espaço de um ano e meio. Mas antes de desmaiar, eu vi Daphne Greencass com um homem ao seu lado. - Draco a olhou espantado, ela conseguia ouvir seu as engrenagens de seu cérebro trabalhando para entender, ela podia sentir o quanto ele estava triste. - Mas, depois de todo aquele inferno, me encontraram quase morta naquele lugar deplorável, nua e sem minha varinha, me levaram ao St. Mungus, fiquei meses naquele lugar, eu tive uma hemorragia interna, e mais um monte de problemas. - Respirou fundo - Ninguém sabia disso até hoje, todos acharam que depois de não te encontrar aquele dia, eu voltei para a casa dos meus pais, mas, enfim... Meses depois eu descobri estar grávida, de um dos meus estupradores, mas fiz todos acreditarem que a criança era do Ronald, eu optei por não seguir a gravidez, fiz um aborto, eu não conseguiria viver olhando o fruto de uma desgraça, e novamente, todos pensam que eu tive um aborto espontâneo." 

- Tenho cicatrizes que insistem em me lembrar de tudo de ruim que aconteceu nessa época. - Ela terminou, temeu não conseguir segurar o choro, não queria demonstrar tamanha fragilidade na frente dele, se levantou e foi até as estantes, levou a mão a boca para tenta abafar o barulho, sem sucesso.

A dificuldade para respirou logo chegou, o peito começou a apertar, o coração a palpitar, a fraqueza no corpo e as tremedeiras já eram presentes, estava tendo uma crise de ansiedade, como em todas as vezes que ela se permitia chegar a esse assunto.

Sentiu duas mãos grandes a puxar para um abraço, o loiro não disse nada, mas ela viu que ele estava com os olhos marejados, sua cabeça gritava para que ela parasse com tudo aquilo, mas ela não conseguia se controlar, ela precisava, esse segredo estava guardado a tantos anos, e com ele a mágoa de tudo, ela sentia que finalmente contar tudo a ele era o melhor a se fazer.

- Eu sinto muito por isso Mi, eu juro que não faço a mínima ideia do que aconteceu naquela época. - A cada suspiro, ele fazia questão de a apertar mais contra seu peito.

- Oito anos Draco, oito anos que eu não durmo, que eu não vivo. - Ela saiu dos braços do loiro e o olhou, passou as mãos pelo cabelo, ainda sem conseguir conter as lágrimas. - Eu saio, bebo, durmo com pessoas desconhecidas só pra tentar me convencer de que eu tenho controle sob a minha vida! - Ela já havia aumentado o tom de voz.

Draco lançou um Abafiatto na sala, ele não fazia a minima idéia do que ela iria dizer, mas sabia que ela precisava desabafar.

- Antes disso tudo eu achava que a pior época da minha vida seria a guerra, mas para variar eu estava completamente errada. - Ela passou a mão nos cabelos de novo e se sentou no sofá  - Eu arranquei metade deste maldito cabelo, só pra ter a mínima sensação de que alguma coisa mudou, mas eu continuo sendo a mesma depressiva de merda.

- Granger, olhe para mim. - Ele foi até ela e se ajoelhou em sua frente, segurou o rosto da castanha em suas mãos e manteve seus olhos firmes aos dela. - Respire e inspire, devagar. - Ela o fazia, tentando manter sua respiração, apenas para se manter acordada. - Isso mesmo girassol. 

Ele a ofereceu um sorriso fraco, ela consegui controlar a respiração, mas não suas lágrimas.

- Ela provavelmente me viu como um ameaça... - Hermione limpou seu rosto, Draco se levantou e se sentou ao seu lado - Astoria sempre achou que eu gostava de você, por isso, ela e a irmã tramaram a minha morte, para que vocês dois pudessem ter a uma vidinha miserável de conto de fadas.

- Como sabe disso? Isso não faz sentido, você nunca gostou de mim. - Ele levantou uma das sobrancelhas e a olhou. - Gostou? 

- Quando nós éramos crianças, se eu não me engano, até o começo do quarto ano. - Ela deu um sorriso fraco e se encostou no sofá.

O loiro pegou as duas pernas da mulher e colocou em seu colo, eles sorriram, era algo comum entre eles, desde os tempos de colégio, a castanha então se acomodou mais no sofá, ficando quase deitada.

- É, acho que foi nessa época que eu comecei a gostar de você. - Malfoy falou num tom quase inaudível. 

- Você o que?!- Ela o olhou um tanto incrédula com a resposta. - Você gostava de mim e ainda conseguia me tratar mal? Você demonstra amor de uma forma um tanto singular. - O loiro gargalhou.

- Sinceramente querida, eu fui criado para me achar melhor do que todo mundo, eu demorei uns bons anos para descobrir como me expressar. - Ele suspirou. - Sei que não justifica nada do que eu te fiz, mas eu peço perdão Hermione, por tudo. 

- Eu descobri tudo quando matei os dois caras, realmente foi tudo a mando de Daphne e Astoria.

- Você matou duas pessoas?! - O loiro a olhou assutado.

- Corrigindo Malfoy, eu matei dois homens que me violentaram.

- Eu os torturaria, até eles perderem a sanidade, e depois matava. - Um sorriso maléfico surgiu em seus lábios.

Alma vazia - Dramione [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora