Capítulo 20

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A manhã era a pior parte do dia para Hermione, sempre seguida de uma noite mal dormida, alguma crise depressiva, ou excesso de bebida. Com uma dor forte se instalando em suas têmporas ela apertou os olhos numa tentativa falha de afastar a dor, se sentou na cama com sua conhecida carranca de mau humor, ela encarava a parede com o cenho franzido, esperando toda aquela raiva momentânea passar. 

E provavelmente não passaria. 

Em uma olhada rápida ao outro lado da cama ela sentiu o tecido frio, e sentiu falta de sua amiga, que provavelmente estava assistindo algum seriado na tv da sala, ela deu um último suspiro antes de levantar, em passos pacientes ela foi até o banheiro, prendeu os longos cachos num coque apressado, escovou os dentes lentamente, ainda esperando seu espírito voltar a seu corpo, como algo normal, pode se dizer que Hermione Granger não funciona antes das oito e meia da manhã, e eram horrorosas seis e quarenta. Após a escovação ela jogou água fria no rosto e estremeceu logo após, se enxugou com uma pequena toalha e saiu do banheiro. 

Descendo as escadas ela encontrou a cena que esperava. Ginny deitada enrolada em uma coberta grossa, centrada num episódio repetido de Friends, ela percebeu os passos pesados de Hermione e sorriu, sabendo exatamente como ela era um monstro matinal. 

- Bom dia. - A ruiva disse sorrindo para a amiga que respondeu apenas com um murmuro alto. 

A morena prosseguiu até a cozinha, onde se serviu com um copo enorme de café preto cheio de açúcar. Encostada no balcão ela tentava afastar qualquer tipo de pensamento, queria manter sua mente limpa, pelo almenos até chegar ao ministério, mas era impossível tentar esquecer que hoje seria o julgamento de Daphne, ela suspirou mais uma vez, deu um leve sorriso ao ver Gina gargalhando pela terceira vez, balançou a cabeça e deixou o copo vazio na pia, estremeceu ao sentir uma brisa extremamente fria que saía da janela ao lado, respirou o ar gélido que ela tanto gostava, deixou suas narinas arderem com a sensação por um tempo, ao passar pela sala, ela deu um beijo na testa de sua amiga e saiu andando até seu quarto. 

Andando firmemente graças a cafeína. 

Novamente entrou no banheiro da grande suíte ela arrancou as roupas e entrou de baixo da água quente que jorrava do chuveiro. Após o banho demorado ela foi direto ao closet, vestindo-se com um habitual terno, dessa vez, mais despojado, deixando o paletó de lado, ela se olhou no espelho, observando a calça preta e os suspensórios, junto a uma camisa branca, que tinha as mangas dobradas até o cotovelo, calçou um scarpin preto e deixou-se por alguns segundos se admirar, coisa que não tinha o hábito de fazer pelo fato de estar sempre acostumada a se criticar, ou gorda demais, ou magra demais, cabelos muito curtos, ou muito longos, pele pálida, muitas sardas, mas aquele momento foi exclusivamente a admirar, a mulher forte que estava de pé, mesmo depois de tantas coisas péssimas que a aconteceram, ela continuava ali, de pé. 

Marcas internas nunca são previsíveis, ou fáceis de curar, mas o importante era estar ali, viva. 

Lábios cobertos pelo batom marsala, escuro e provocante como um bom pecado, as bochechas rosadas e salpicadas por muitas sardas, os cílios volumosos que se destacavam pelos olhos âmbar hipnotizantes, os longos cachos definidos que corriam pelas costas e acabavam no começo do coxis, o castanho brilhava pela quantidade excessiva de creme e também pela luz solar fraca que adentrava o quarto grande. O cômodo frio e enorme que era sempre seu refúgio, mas também uma de suas tristezas, trazendo com a noite estrelada e gelada uma solidão costumeira. 

Ou deprimente. 

Se banhou com seu habitual perfume, ela respirou o cheiro adocicado com calma, dando uma última checada no espelho logo em seguida, ela equilibrou-se nos saltos e antes de sair do quarto, arrumou a grande cama, dobrando e organizando os lençóis de seda vermelho. 

Alma vazia - Dramione [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora