Capítulo 14

545 64 11
                                    

"Em dez anos, quero viver numa casa com janelas grandes, quero que a casa seja grande o bastante para eu ter uma mesa com quatro cadeiras, mas não tão grande para que eu não sinta a profundidade da minha solidão, porque acho que vou estar sozinha."

- Maeve Wiley (Sex Education)

O azul da linda manhã de sábado, fora tomado pelo cinza assustadoramente cômodo no final da tarde, as lágrimas dos céus estavam se esgotando, assim como as de Hermione, mais cedo, poucos minutos depois de toda a desgraça os aurores já tinham revirado toda a mansão, levado o corpo falecido de Turner, e Daphne que permanecia inconsciente. O nome de seu antigo amor ecoava por sua cabeça, e quanto mais se repetia, mais ela sentia vontade de sumir, ter uma overdose talvez ou fugir para outro país, perder Alex era como ter perdido uma parte de seu corpo, ter que lidar com o fato de nunca mais rir das piadas, ou corar com os elogios fofos, as madrugadas de conversas aleatórias ou até mesmo um simples lanche num sábado a tarde. Assegurou a todos que estava bem, e que iria para casa sozinha e lá permaneceria, a solidão era sempre sua maior companhia em qualquer situação, raiva, tristeza, paz ou alegria.

Parada diante da grande janela de seu quarto, ela encarava o céu cinza, a quietude da cidade era incomodante, provavelmente a esse momento apenas os mais próximos de Alex sabiam de sua morte, ela torcia para que o funeral não estivesse lotado de fãs loucos e histéricos, e se perguntava a todo momento se iria ao funeral, o último fora de seus pais, há alguns anos, lembra-se exatamente da sensação de vazio ao ver o rosto angelical de sua mãe se transformar numa face mórbida, assim como seu pai. Já fora uma pessoa maravilhosa e sensível, hoje era apenas a carcaça de uma alma vazia, tentou repassar no mínimo três motivos para continuar vivendo, consequentemente, não encontrou nenhum sequer. Certamente todos tem seu próprio modo de lidar com problemas e perdas, Hermione bebia, e era exatamente isso que ela estava fazendo, um copo já vazio de sua quinta dose de firewhisky estava em cima do criado mudo, junto a um maço de cigarros, ela os encarou com os olhos inchados e vermelhos, em um movimento brusco se jogou em sua cama, assustando o pobre gato que a olhava curioso anteriormente, pousou a cabeça no travesseiro se encolhendo depois de se cobrir, e mais uma vez todas as lembranças de Alex a atacaram, um crucius seria menos doloroso. E então novamente, ela chorou, por Alex, por seus pais, por Dumbledore, por Lupin, por Tonks, por Fred mas principalmente, chorou por si mesma.

Amy em um pulo subiu a cama de Hermione, enquanto ela ainda se lamentava por sua vida inútil, a cachorra se aproximou lentamente dos braços da morena pedindo por um abraço, sabia que ela estava preocupada, o que era bem comum, ver um membro de sua família se destruir dia após dia, ela via Hermione chegar bêbada e deprimida frequentemente, ver homens entrando e saindo do quarto dela já era um hábito. A morena assim aceitou o carinho de sua companheira mais fiel, ela a abraçou e deixou-se confortar sob os pelos brancos, macios e recém limpos de Amethyst, que ajustou-se no peito de Hermione. Marsh estava deitado aos pés da mulher, soltando ronronados baixos, ele sempre fora muito independente e solto, mas todos sabiam que ele era como o irmão mais velho, curto, grosso, mas cuidadoso, era quem conseguia chegar até sua comida sozinho e ajudar sua "irmã" quando Hermione esquecia de colocar e quem deixava o lugar dela quente no sofá. Assim, aconchegada aos únicos seres que ela tinha certeza que nunca a decepcionariam, ela chorou baixinho até cochilar. 

Acordou quase uma hora depois, sentia-se menos cansada fisicamente, mas continuava a considerar ficar deitada na cama o resto da semana, não queria sair dali, era confortável, quente, nada de ruim a aconteceria ali. Junto a um suspiro, ela se sentou, seus companheiros continuavam a dormir tranquilamente, o mármore gelado se chocou com a pele quente e pálida de seus pés descalços, se incomodou por um momento por ainda estar usando o mesmo terno de mais cedo, sangue manchava toda a sua camisa por dentro do paletó, se direcionou ao banheiro, odiou ver aquela imagem no reflexo, os cabelos bagunçados eram o de menos, a roupa suja, olhos fundos e vermelhos, um corte na testa e no lábio inferior, mas a primeira vez que havia notado em semanas, havia perdido bastante peso. Retirou suas roupas o mais rápido possível, ela não aguentava mais olhar para si mesma, entrou de baixo da água morna que jorrava do chuveiro, respirou fundo, o choque térmico fez com que seus pelos se arrepiassem, ficou um bom tempo no banheiro apenas tentando jogar toda sua frustração pelo ralo, lavou seus cabelos, se ensaboou com seu sabonete preferido, olhou o mármore preto que cobria o banheiro, reparou em tudo, sua mente viajava a quilômetros de distância, preferia pensar no nada do que voltar para sua vida.

Alma vazia - Dramione [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora