Epílogo

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Cesar: QUEM VOCÊ ACHA QUE É SUA VADIA DE QUINTA? TA SE ACHANDO MUITO EM CARALHO- grita comigo no meio do morro enquanto eu corro para tentar fingir do meu pai.

Minha vida inteira foi assim, sendo humilhada, destratada, espancada, estrupada e muita outras coisas, o motivo? Eu realmente nunca entendi!

O meu nome é Carolina Monteiro, tenho 23 anos e moro com o meu pai, Cesar Henrique Monteiro, no complexo do canta galo, meu pai é um bêbado drogado, sabe?! Serve para porra nenhuma! Só serve para fazer dívida na boca, se tu me pergunta por que eu não larguei o velho de mão ainda, porra é meu pai tá ligado?! Pelo menos fiz a minha parte como filha!

Continuo correndo tentando fugir do velho que está tentando me agarrar de novo, não é primeira vez que isso acontece, desde criança eu passo por situações assim, minha situação está complicada, da até vergonha do povo me ver, minha blusa tá rasgada mostrando boa parte do meu seio, ele rasgou a minha calça jeans e estou descalça e descabelada correndo pela favela numa tentativa de fuga, dou de cara com uma coisa dura e vou de encontro com o chão.

Perigo: que porra tá pegando aqui?- pergunta me encarando sérinho e eu já começo a me despedir do mundo
Dona Dulce: esse drogado tá tentando estrupar a filha dele, esse velho nojento- fala vindo até o meu lado e me ajuda a levantar do chão
Cesar: cala a boca velha dos infernos, essa vagabunda que pegou o dinheiro da minha carteira- fala e eu o olho indignada, cafageste!
Perigo: procede essas idéias aí?- pergunta me encarando sérinho e eu nego com a cabeça
Eu: ele que pegou o dinheiro do aluguel da minha carteira chefe, perdi o emprego hoje e esse velho desgraçado roubou o meu último dinheiro que era pro aluguel e comprou cachaça- falo e o Perigo me encara atento como se estivesse me analisando
Perigo: BR leva esse maluco aí para trocar umas ideias com os papas cu da favela- fala e o BR sai arrastando o meu pai pelo morro que tentava se soltar a todo custo- tu vem comigo- fala e eu arregalo os olhos, ele revira os olhos e sai me arrastando para a principal.

Perigo é o dono aqui do complexo, todo mundo aqui tem medo dele, inclusive ele, moro aqui desde que eu nasci e hoje foi a primeira que eu tive contato com ele, dizem que ele mata sem dó nem piedade, se não for com a tua cara te mata, se for com a sua cara mata também, ele não sente remorso ao matar ninguém, nem pensa duas vezes antes de apertar o gatilho, pelo o que eu vejo geralmente, ele vive rodiado de mulher, teve até algumas vezes que eu estava indo para o trabalho e passava por um beco vendo ele comendo alguma das gurias do morro, passo reto e finjo que nem vi, sabe como é?!

Perigo: senta aí e fica pianinho- fala sério e eu sento, ele entra em uma porta da sala dele e eu fico lá que nem idiota tentando a todo custo cobrir pelo menos o meu sutiã já que a calça não tem mais jeito- veste aí- fala saindo da porta sem camisa e joga em mim, visto e ele senta no lugar dele me encarando por alguns segundos- o que aquele velho é teu?- pergunta e eu abaixo a cabeça tentando evitar lhe encarar, vai que ele da a doida e me mata também
Eu: meu pai- falo baixo e ele fica calado por alguns segundos
Perigo: tu tem quantos anos?- pergunta e eu levanto um pouco a cabeça lhe encarando
Eu: vinte e três- falo e ele nega com a cabeça aparentemente puto da vida
Perigo: trabalhava de que?- pergunta me encarando atento
Eu: trabalha em uma loja de roupas
Perigo: tirava quantos por mês?
Eu: mil e cem- falo e ele me olha atento
Perigo: você tem onde morar?- pergunta e eu nego com a cabeça- é a primeira vez que ele tenta abusar de tu?- pergunta e eu nego com a cabeça- começou com quantos anos?
Eu: quando eu tinha quatro anos- falo e ele respira fundo
Perigo: olha aqui garota, eu não te entendo não caralho, tu ganhava bem e não largou esse velho de mão, a dívida aqui na boca que nem tão cedo ele vai conseguir pagar, quem tá saindo no prejuízo aqui sou eu- fala e apoia as costas no apoio da cadeira- conheço a tua história é de hoje não, a mãe morreu quando tu tinha três anos, foi numa invasão que eu tô ligado, o velho vive montando em cima de você, o que mais chega de denuncia é os teus vizinhos falando de como o velho te trata, mas você nunca veio reclamar, por que?- pergunta e eu volto a abaixar a cabeça
Eu: vergonha- falo e vejo ele levantando do lugar dele
Perigo: fica quietinha se não quem vai te dar uma coça sou eu- fala me assustando e sai da sala.

Fico quietinha na minha lá, sinto um cheiro de perfume masculino muito gostoso, olho para a camiseta que eu estou vestindo e realmente é muito bonita porém me parece ser os olhos da cara, quem tem dinheiro pode né?!

Perigo: as regras da quebrada são claras, nada de estrupo ou bater em mulher- fala entrando e fechou a porta atrás dele- eu tava só esperando pegar no flagrante ou tu vim aqui fazer a tua denuncia, agora eu que vou resolver essa porra- fala e volta a se sentar de frente para mim- tenho um emprego para tu, a casa já não tenho muito o que fazer por tu não, vai ter pagar aluguel mas já bati uns papos com a tia lá e tu vai ficar três meses sem pagar, acho que é tempo o suficiente para tu se levantar- fala e eu sinto meus olhos enchendo d'água.

Será que finalmente vou conseguir a tão sonhada liberdade?

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