Oclumência

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Capítulo 4 – Oclumência

Harry fechou a porta do banheiro e escorregou para o chão onde permaneceu deitado por um tempo até que ouviu barulho de passos no quarto e teve certeza de que Rony tinha voltado para ver como ele estava. Com dificuldade se levantou e entrou embaixo do chuveiro. Em nenhum momento quis se olhar no espelho, não conseguiria ver seus próprios olhos naquele momento, não suportaria a verdade estampada neles, a humilhação que passara quando pensara que estava livre de tudo aquilo, pelo menos ali dentro daquelas paredes grossas, mas estivera enganado, nem mesmo ali ele estava livre de suas obrigações.

No momento em que a água quente escorregou pelo seu corpo atingindo as partes machucadas fazendo-as arder, Harry segurou um grito dentro da garganta, forçou-o a descer e se aquietar em seu interior. Não gritava desde criança, não começaria agora. Estava acostumado com isso e ali era até mesmo melhor do que nas férias, pelo menos podia contar com os medicamentos mágicos que não havia na casa de seus tios.

Sua tarde não foi nada tentadora, teve aula de DCAT e logo depois a detenção com a professora. Estava tão cansado quando caminhava para sua primeira aula de Oclumência que nem mesmo ligou para os xingamentos dos alunos da Sonserina, apenas caminhava. Sua mão machucada pela detenção ainda vertia sangue onde estava escrito "Não devo contar mentiras". Seu corpo ainda estava dolorido devido o encontro com David e sabia que essas últimas dores iriam demorar muito mais para passar. Pelo menos seu coração estava leve, não saberia dizer exatamente o motivo, mas sempre sentia-se mais leve e livre após a detenção com a Umbridge, era como se algo o tomasse e o conduzisse sem que precisasse se preocupar com alguma coisa. Sabia que isso era errado, mas gostava desses momentos.

Ao chegar em frente a porta daquele escritório, Harry respirou fundo e fechou os olhos. Não queria estar ali mesmo, então por que não ir embora? Estava dolorido, cansado. Ainda teria que suportar essas aulas por causa de Dumbledore, para fazer mais um de seus caprichos, ganhando em troca apenas a sua indiferença. Não precisou pensar muito para dar as costas para a porta e voltar por onde veio, mas quando pensava em onde ir a porta se abriu revelando o professor com sua incrível e permanente expressão de poucos amigos. Os olhos negros atravessaram os seus como se tentassem ver mais do que o menino estava apresentando.

Harry fechou os olhos por um instante como se lutasse consigo tentando pensar se compensava dar as costas para o professor e continuar a caminhada, mas o cansaço e a pouca vontade de ouvi-lo tirando pontos de sua casa que o fizeram dar meia volta e rumar até diante do professor que se afastou e o permitiu entrar em seu escritório. O menino não se importou com os vidros de ingredientes e nem com o frio daquele local, apenas se sentou na carteira diante da mesa do professor e aguardou.

Snape fechou a porta lentamente sem tirar os olhos do menino. Após alguns segundos de pura observação o professor se caminhou lentamente para sua mesa e sentou-se diante dele. Ao olhá-lo de frente percebeu a mão sangrenta e os machucados no rosto, porém nada disse, apenas observou o quão abatido ele estava. De verdade, poderia dizer que Harry Potter havia acabado de ser beijado por um dementador.

- O senhor terá aulas de Oclumência toda noite após as nove horas, comigo. – Começou a explicar.

- Essa parte eu já sei. – Disse o menino completamente sem ânimo.

- Não me interrompa, Potter. Não torne essa situação mais irritante do que já é.

Harry deu de ombros e olhou para os vidros com olhos de cobras que estavam na estante ao lado. Cada momento próximo de Snape agindo da forma rude que sempre agiu consigo o distanciava da sensação de conforto que sentiu nos braços desse mesmo homem. Snape por sua vez sentia a necessidade de pegar aquele garoto novamente em seus braços e essa sensação o fazia se afastar cada vez mais. Nesse ângulo Snape pôde ver as marcas em seu rosto e pescoço mais detalhadamente. Era nítido que aquilo fora feito por uma mão, podia distinguir os contornos dos dedos. O que estaria acontecendo com esse menino?

O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora