Salvando o príncipe do Dragão

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Capítulo 14 – Salvando o príncipe do Dragão

Quando a consciência quis devolver Harry para o mundo real, esse se negou. Era bom onde estava, tão escondido de todos, beirando o abismo do mundo onde a neblina o encobria e o protegia da verdade que a luz sempre lhe trazia. Era quente e confortável como uma manta aquecida que se deita sobre a pele afastando os arrepios e causando sonolência. Tinha até mesmo um cheiro bom, muito bom para ser mais exato, vinha pelo ar, voando em sua direção e entrava por sua narina lhe lembrando o delicioso gosto de ovos mexidos e bacon. Mas havia algo mais naquele odor saboroso, algo que lhe chamou atenção e despertou seu corpo, parecia o refrescante e suave perfume de ervas doces que já sentira antes. Um cheiro característico de uma pessoa que conhecia muito bem.

A dor perpassou seu corpo como uma espada afiada que rasga a pele sem dó nem piedade, apenas avança contra a carne abrindo caminho e sujando sua superfície com sangue rubro e fresco. Era cruel, horrivelmente cruel se lembrar daquele cheiro naquele momento. Recordar do odor da pele pálida dele, pele do corpo dele. Dele. Devagar balançou a cabeça e apertou a mão em punho tentando afastar esse pensamento, não podia se prender a isso naquele momento, não enquanto precisava apenas se desligar de tudo e manter-se longe de qualquer sentimento.

Desistindo de tentar afastar aquele pensamento arriscou abrir os olhos mesmo que não quisesse encontrar a verdade, ver o que acontecera consigo após aquela sessão. Odiava ter que se olhar e perceber as marcas vermelhas em sua pele branca ou o resíduo que ninguém se preocupava em limpar. Mas o pior seria constatar o quão dolorido estaria. Aos poucos ergueu o tronco e franziu a testa antes de realmente abrir os olhos. O que estava fazendo em uma cama?

A pergunta seria idiota para qualquer outra pessoa, mas para Harry era mais do que natural. Não conseguia se lembrar desde quando acordou em uma cama quente e com uma coberta confortável quando estava trabalhando. Respirando fundo abriu as pálpebras pesadas e sentiu os olhos arderem com a entrada de uma luz forte, rapidamente levou a mão aos olhos e contraiu o corpo com o vento frio que o atacou vindo de uma janela que não deveria estar ali

- Eu a coloque ali. – Disse Snape respondendo a pergunta muda do menino. – Ao contrário do que todos pensam eu não gosto de lugares abafados.

Por um momento Harry ficou completamente perplexo e perdido vendo a figura de negro naquele ambiente olhando-o com um misto de curiosidade e frieza. O que ele estava fazendo ali? Ali, exatamente ali. Quando entendeu onde ele mesmo estava Harry pulou da cama e se ergueu rapidamente, porém se arrependeu ao sentir uma forte pontada no abdômen que se espalhou pelo corpo o levando ao chão. Harry franziu o rosto com força e levou a mão ao local da pontada como se o fato de encostar ali fizesse com que qualquer dor fosse suprimida. Mas foi somente quando o homem se aproximou e o pegou em seus braços o carregando gentilmente para a cama onde o deitou com cuidado e o cobriu.

- Por que fez isso? Não deve se levantar. – Ralhou Snape afastando os cabelos de sua testa.

- Desculpe, senhor. – Pediu Harry baixinho se encolhendo em posição fetal.

Apesar de Harry estar se desculpando com uma voz quase inaudível, Snape foi capaz de captar a pontada de medo que atravessou a barreira do som e o atingiu com ferocidade. O tom de voz do menino não era de arrependimento, era de medo, medo de ter feito algo errado, medo de vê-lo aborrecido.

- Diga-me, onde dói?

- Não está doendo professor, estou bem. – Gemeu.

- Potter, você não está bem.

- Estou sim. Preciso saber o que combinou com meu tio. O que quer que eu faça? De que maneira devo satisfazê-lo?

"Então se trata disso o olhar dele" Pensou Snape entendendo finalmente o medo em seus olhos, a vergonha e a humilhação. Ele era um submisso, só via as pessoas para satisfazê-los. Sua mente estava longe pensando na monstruosidade que fizeram com aquele menino quando percebeu pelo canto do olho que ele se levantou devagar e se ajoelhou na sua frente passando a mão pelas suas coxas encontrando o feixe do cinto e o abrindo. Completamente tomado de surpresa Snape arregalou os olhos encarando o menino e sentiu o coração apertar dentro do peito quando viu as lágrimas encherem aquelas duas esmeraldas cristalinas. Lágrimas que o menino não deixava cair, que fazia força para não derrubar. Quantas vezes deve ter apanhado por cada lágrima? Quanto um choro lhe custava?

O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora