Mais atos idiotas

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Capítulo 17 - Mais atos idiotas

Era muito incomodo ficar deitado naquele chão imundo esperando enquanto Harry esperneava tentando se soltar dos braços dos comensais. Snape tinha a impressão de já ter visto essa cena uma vez ou várias vezes, mas na época ele era apenas um menino magricela que esperava em silêncio embaixo da cama enquanto sua mãe se debatia nos braços violentos de seu pai. O pequeno menino magrela cresceu, mas ainda estava deitado ouvindo os gritos dele. Sempre esperou que o torpor o dominasse, mas nunca aconteceu, ele apenas continuou quieto ouvindo tudo e pedindo a Deus que acabasse logo.

Harry já sabia o que viria, já esteve diante de Voldemort três vezes e em duas delas ele pôde guardar todos os detalhes de seu encontro com o ser reptileno. Voldemort se levantaria de seu trono e caminharia lentamente até perto de si. Todos os seus servos se curvariam como se a monstruosidade a sua frente fosse a própria imagem de um deus. E ele começaria a falar de como era poderoso e como mataria Harry Potter. O menino não estava interessado em ouvir isso novamente. Apesar de seus olhos estarem presos nos vermelhos do réptil, todos os outros sentidos eram direcionados para Snape. Só prestou atenção quando os comensais começaram a levá-lo para longe. Seus braços doíam pelas mãos deles que o apertavam sem piedade o arrastando até uma cela escura em uma masmorra escondida. Ali era frio, mal havia ar e Harry já começava a se sentir sufocado, mas a imagem de Snape desmaiado o permitiu ter a força necessária para permanecer de olhos abertos e com o coração batendo.

Com dificuldades em respirar Harry se encolheu em um canto e chorou. Chorou de medo, chorou de solidão, chorou de tristeza e angústia, mas principalmente chorou por ele. Deveria estar ao seu lado, era assim que deveria ser, era uma regra que não poderia ser quebrada. Snape era, no momento, seu cliente e era seu dever cuidar, servir, proteger e obedecer, no entanto como poderia fazer isso estando tão longe dele? O tempo passava e com ele a razão e consciência de Harry. Em sua mente ele só via o rosto de Snape de todas as formas que conhecia, seus tiques, seus traços, seus olhares. Nunca havia acontecido de um cliente o prender tanto assim, mas era Snape. Snape que durante um tempo ele amou como se ele não fosse mais existir. Snape que ele amava e que desejava ao seu lado. Snape que deveria estar jogado em alguma masmorra como ele.

Snape.

Finalmente o cansaço o venceu e seus olhos se fecharam. Em seu sonho ilógico via aquela sombra negra se aproximando, era sombria e fria, mas não lhe dava medo, pelo contrário, era atraído para ela como se pertencessem um ao outro. O vulto aproximava-se cada vez mais, Harry era capaz de tocá-lo, podia sentir seu cheiro de ervas, mas não conseguia vê-lo, seu rosto, ao contrário de suas mãos era transparente, não era possível vê-lo.

- Me ajude. – Pediu Harry baixinho olhando para onde achava que deveriam estar os olhos dele. – Por favor me ajude.

- Não posso. – Disse a voz aveludada. – Tudo agora está nas suas mãos, só você pode fazer isso, tem que ter coragem, aguente.

Aguente, era sempre isso que o vulto lhe dizia. Três dias consecutivos, três sonhos com ele, três vezes sentindo suas mãos acarinhando seus cabelos e três conselhos iguais. Ele não podia fazer nada, ninguém nunca podia fazer nada.

Durante três dias Harry não comeu, nem bebeu. Sentia-se fraco e quase sempre dormia, ainda que tentasse ficar acordado. Sempre tentava uma chance de ver Snape. No começo ele gritava, mas depois não havia voz nem força para sequer sussurrar. Somente no quarto dia seus esforços foram, de certa forma, recompensados. A cela foi aberta e a luz dos archotes quase cegaram seus olhos já acostumados com a escuridão. Harry protegeu os olhos com as mãos e viu o vulto de algumas pessoas entrarem e logo depois um grande vulto com a cobra aos seus pés. Voldemort estava na mesma cela que ele. Harry se levantou devagar e com cuidado tirou as mãos da frente de seus olhos esperando que eles se acostumassem com a claridade. Quando finalmente conseguiu manter seus olhos abertos a primeira imagem que viu foi Snape atrás de praticamente todos os comensais.

O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora