Capitulo 24 - Não acredito que fez isso
- Seboso Maldito!
- Nossa, calma Harry, o que houve? – Perguntou Gina quando o grifinório sentou ao seu lado. – Por que você demorou tanto? E por que Snape estava com você?
- Não faça tantas perguntas! - Disse Harry raivoso.
- Desculpe.
- Não, não se desculpe. – Sussurrou Harry sentindo-se pior por ter magoado a menina. – Eu fui estúpido, desculpe. É que estou com raiva.
E não era mentira, a devoção, amor e preocupação deram lugar para o ódio e raiva. Harry não conseguia acreditar que ele nem ao menos olhou em seus olhos e que ainda teve a coragem de zombar dele. Será que tudo que havia demonstrado aqueles dias em que esteve com ele foram realmente mentiras ou se acabaram quando teve a estúpida ideia de fugir de Voldemort levando-o consigo? Será que o morcego das masmorras não percebia que o fazia sofrer com essa raiva que se instalava em seu peito e o fazia sentir o que não queria sentir?
- Está tudo bem, Harry. – A voz de Gina o trouxe de volta de seu devaneio. – Não se preocupe.
A menina colocou sua mão na perna do grifinório e acariciou seu joelho. Harry tentava pensar que aquilo era apenas um carinho de conforto, apenas mais uma demonstração de amizade, mas o olhar de Gina não dizia isso e por certo momento Harry tremeu, definitivamente estava em uma situação que não sabia lidar. A mão dela continuou em seu joelho até que ele terminasse o jantar que mal tocou. Quando se levantou a menina foi junto andando praticamente colada em seu corpo. Hermione vinha logo atrás e dava risinhos baixos em direção à amiga, elas haviam conversado muito antes dele chegar. Rony vinha atrás de Hermione e segurava em sua mão, sua expressão era a de quem tinha acabado de tomar um tapa, estaria ele perplexo por algo que sua única irmã havia lhe contado? O que ela havia lhe contado?
Harry temia que Gina confundisse o que havia acontecido no trem de Hogwarts, mas não podia culpá-la, ele mesmo estava confuso e a mão da grifinória entrelaçada à sua lhe dava uma sensação confortável, quase prazerosa, mas ao mesmo tempo sentia que aquela mão era desproporcional, não combinava, era estranha.
- Ei Harry. – Chamou Rony cutucando seu ombro. – Por que não me contou?
- Contei o que?
- Que está namorando minha irmã.
- O que...
- Não se preocupe Harry, eu contei para ele. - Disse Gina sorrindo. - Mas disse que não era para ele te encher o saco, ele é idiota, porém sabe que não deve mexer comigo e nem no que é meu.
Harry mal teve tempo para raciocinar antes dos lábios da grifinória atacaram os seus com vontade. Sua língua adentrou sua boca e procurou pela sua igual. O menino estava surpreso e mal conseguiu agir, mas não era preciso, a menina agia pelos dois beijando-o com força e intensidade, suas mãos femininas passeavam pelos cabelos negros e bagunçados e seus braços impediam Harry de se afastar. Ele estava totalmente alheio ao que estava acontecendo a sua volta, pois sua cabeça pensava apenas em como fora parar naquela confusão. De repente uma mão agarrou seu ombro e o puxou de leve, Gina continuou de olhos fechados agarrada ao pescoço de Harry quando o mesmo abriu os olhos e se deparou com os túneis vazios e profundos que eram os olhos de Snape parado no corredor. O ódio transbordava e até mesmo Hermione, que ainda mantinha a mão no ombro do amigo, conseguia sentir. Era horripilante, não era uma sensação boa, era cruel. Ela puxou Rony pelo braço e foram levar os primeiranistas para seus dormitórios.
O professor levantou as duas mãos na altura de seus olhos e as levou de encontro uma com a outra fazendo o barulho de sua palma reverberar pelas paredes do castelo agora quase vazio. Ele se aproximava devagar um pé depois do outro, sua capa esvoaçando atrás de si cada vez que chegava mais perto do grifinório olhando no fundo de seus olhos. Se algum dia Harry pensou em como era ver Snape como comensal, esse dia havia chegado, naquele momento ele estava encarando a face gélida de um comensal enfurecido e magoado.
- Que belíssima demonstração de amor. Tal cena deveria estar em uma página de um livro. Infelizmente para vocês, nem todos gostam de assistir tal desrespeito, por isso a santa Grifinória começará com os pontos negativos, acho que vinte pontos a menos para cada um é o suficiente para ensinar-lhes que não se deve sair por ai fazendo demonstrações tão vulgares, principalmente para uma menina. – Disse olhando para os olhos da grifinória ainda agarrada a Harry, a mão que afagava os cabelos do grifinório não passou despercebido por Snape e seus olhos perfuraram os de Gina. – Se bem que tal ato já era esperado de uma pessoa como a senhorita.
- Está me chamando do que professor?
- A interpretação fica por sua conta senhorita Weasley. Apesar de esperar não ver mais esse ato em pleno corredor, sei que não conseguirá segurar seus hormônios dentro do corpo, então prepare-se para perder muitos pontos e o mesmo vale para o senhor Potter. – Snape se aproximou tanto que somente Harry pôde ouvir suas últimas palavras. Palavras que rasgaram sua alma. – Nunca imaginei que faria isso.
Harry sentiu um arrepio em sua espinha. Os lábios de Snape estavam quase em seu ouvido, ele podia sentir o hálito quente do professor em seu pescoço. Ninguém mais podia ver o quanto Snape estava perto dele e como ele continuava a respirar lentamente em seu pescoço sem dizer uma única palavra. Por um breve instante Harry sentiu que ali estava aquele Snape que o resgatou de seus tios e que cuidou dele, ali estava o seu Snape. Mas o breve momento passou e o olhar de ódio voltou quando o professor se afastou. Harry entendeu perfeitamente o que o professor queria dizer e por esse motivo não abriu a boca. Algumas vezes não há palavras para serem ditas.
Com um pesar enorme no coração Harry observou Snape afastar-se, cada passo era um lamento, cada passo era uma tortura, cada passo era um passo para longe dele. Gina estava agarrada em seu braço e lançava um olhar furioso para as costas do professor. Mesmo quando a grifinória o abraçou ele sentiu dentro do peito uma solidão grande e devastadora começar a se espalhar. Era deveras estranho, já havia sentido isso antes, mas não se lembrava quando o sentira.
"Eu sei quando"
Sussurrou a voz dele em sua mente. No mesmo momento sua cicatriz, que há tempos não se manifestava, ardeu em brasa.
- Tudo bem Harry? – Perguntou Gina acariciando seu rosto.
- Tudo, só fiquei com raiva.
- Não liga para aquele seboso nojento, ele terá o que merece.
A menina lhe sorriu e puxou sua mão para irem para a torre da grifinória. Harry seguia o caminho indicado pela menina sem verdadeiramente ver onde estava indo. Sua mente só processava as palavras que repetiam dentro de sua cabeça.
"Eu sei quando"
Sua cicatriz doía intensamente e cada palavra de Gina parecia uma faca que era enfiada no ferimento. Harry queria que ela parasse de falar, que ficasse quieta por um minuto, que permitisse que sua cabeça parasse de doer. Uma raiva começou a crescer em seu peito. Mas porque estava com raiva da menina? Ela não fez nada, ainda assim isso não tira o fato de que Harry começou a sentir uma raiva crescer dentro dele.
- Harry, você está me escutando?
- Desculpe Giny. Estou cansado, acho que vou dormir tá bom, te vejo amanhã.
Harry despediu-se da menina com um aceno e passou pelo quadro da mulher gorda subindo direto para seu dormitório. Para sua sorte não havia ninguém dentro do dormitório e pôde largar-se em sua cama sem se preocupar com perguntas e questionamentos. Seu coração doía e sua cicatriz mais ainda. O que era aquela voz em sua cabeça?
Naquela noite ele não dormiu.
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O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)
Roman d'amourE se tudo pesasse? Se os pesadelos lhe levassem para a morte recente de um jovem lufano? Se o trabalho que seus tios lhe obrigavam a fazer nas férias pudesse agora ser feito no mundo bruxo o trazendo mais dor? O que você faria? O que Harry faria? Co...