Um estranho beijo

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Capítulo 23 - Um estranho beijo

Harry sentia o leve balançar do carro que o Ministério da Magia emprestou para levar a todos com segurança até a estação de Kings Cross. Em sua mente ele revia os pequenos momentos de alegria e descontração que passara nos últimos dias de férias com os Weasley e também sentia o enorme buraco que a falta de Snape lhe causava. Por que sentia esse buraco ele mesmo ainda não conseguia explicar. Estava livre, não pertencia a mais ninguém, não daquela forma possessiva de antes. Não pertencia mais a Snape como no início de suas férias, estava livre, mas ainda assim sentia necessidade de estar perto dele. Apesar da aparente tristeza por dentro sentia uma enorme felicidade por estar voltando para Hogwarts, assim poderia ver Snape e ter certeza de que ele estava bem, de que nada acontecera com ele.

- Harry, você está bem? – Perguntou Rony.

O garoto limitou-se a assentir com a cabeça, mas não era de tudo uma verdade. Andara muito preocupado nos últimos dias na Toca, seu coração apertara demais certa noite. Sentiu uma grande tristeza e um frio descomunal se apossar de seu corpo como se uma dor lancinante se instalasse em seu coração e em sua mente ele ouviu o pio triste de Edwiges que estava longe, muito longe.

- Está viajando aí Harry? – Foi a vez de Gina chamar sua atenção segurando seu braço e sorrindo com suas sardas realçadas pelo sol que batia na janela.

- Só estava pensando, nada mais. - Respondeu o menino simplesmente.

Harry retribuiu o sorriso da menina e virou-se novamente para a janela enquanto Gina brincava com Rony sentado ao seu lado. Era estranho, mas nessas férias ele e Gina estiveram mais perto do que de costume e ele gostara disso. Houve sorrisos e divertimento. A única menina entre os irmãos Weasley o encantou de verdade, ele gostava de estar ao seu lado e isso só fazia com que sua cabeça ficasse cada vez mais bagunçada.

Já no trem, Hermione e Rony foram para o vagão dos monitores e Harry se dirigiu para um vagão junto com Gina, Neville e Luna com quem se encontraram na estação. Os três já estavam bem instalados quando o sapo de Neville novamente fugiu por debaixo da porta.

- Ah não, de novo não! – Exclamou Neville já levantando-se para procurar pelo sapo. – Minha avó vai me matar.

- Eu te ajudo a procurar. – Disse Luna colocando um óculos colorido. – Eu sou boa em achar os bonsuors, acho que consigo achar seu sapo.

- O que são bonsuors?

- Melhor não perguntar Neville. – Disse Gina.

- Eu te ajudo também. – Disse Harry levantando-se quando a mão da grifinória o segurou puxando-o para novamente se sentar.

- Vão primeiro. Nós encontraremos vocês depois.

- Tudo bem, até mais. – Disse Luna acompanhando Neville pelos compartimentos do trem.

Harry sentia-se totalmente desconfortável naquele momento. Por ser a única menina entre os irmãos, ela sempre fora muito determinada e de um gênio difícil. O que ela queria, ela tinha, conseguia e Harry temia ter certeza do que ela queria naquele momento. O braço de Gina continuava grudado ao seu e sua mão estava em cima da sua. Engoliu em seco, por mais que gostasse dela, por mais que sentisse algo a mais, Harry não sabia como agir naquele momento. Seu passado o impediu de viver os pequenos momentos de paquera e namoro. Nunca namorara ou paquerara, simplesmente não sabia como era abraçar alguém dessa forma. Nem ao menos sabia como era iniciar um beijo por desejo. Todos os seus foram obrigados. Não o deixaram aprender isso.

- Acalme-se Harry, eu não vou mordê-lo.

- Eu sei, eu sei...é que...

- Harry?

- Sim.

- Olha para mim.

A pequena mão de Gina tocou o rosto de Harry com ternura virando-o devagar para que o menino a olhasse. A mão de Harry começou a tremer de leve quando o rosto dela aproximou-se devagar. Os dedos da menina acariciaram suas bochechas e afagavam seus cabelos. Ela o puxava delicadamente e com uma lentidão quase gritante. Harry podia sentir o hálito dela em seus lábios e isso despertou nele a lembrança do sonho que tivera logo que chegara na Toca. Isso o lembrara dele, o lembrara de seu toque macio e sua delicadeza em cuidar dele.

O menino fechou os olhos e deixou que a lembrança tomasse conta de sua mente o fazendo aproximar-se mais ainda da menina e tomar seus lábios com volúpia e vontade. Harry beijava a pequena boca como se sua vida dependesse daquilo, sua língua acariciava a outra se adaptando a um lugar que já era seu. Suas mãos aventuravam-se nos cabelos lisos puxando-os para trás até que ele ouviu um gemido, um baixo gemido. Sua boca parou de movimentar e sua mão afastou aquele corpo aos poucos, somente agora ele se dera conta de que a pessoa que estava em suas mãos não era aquele que ele queria. Aquele corpo era pequeno demais, aqueles cabelos eram longos demais, seus lábios eram pequenos e de gosto diferente, e sua língua não agia com a mesma fome que a dele.

Ao abrir os olhos, Harry contemplou a imagem de Gina Weasley com os olhos fechados respirando com dificuldade e, após alguns minutos percebeu que também respirava da mesma forma.

- Gina?

- Eu sonhei com esse dia durante anos e agora simplesmente não consigo acreditar que aconteceu.

Harry não sabia o que responder porque na hora em que ela abriu seus olhos ele se perdeu nas Iris brilhantes. Seu coração deu um pulo e suas mãos voltaram a segurar a menina.

- O que está acontecendo? – Perguntou mais para si do que para ela e ainda assim ele ouviu a resposta.

- Não sei Harry, mas é bom, é muito bom.

- Sim, é bom. – Encostou a cabeça no banco olhando para o teto. – Mas é estranho. – Concluiu em sua mente sem deixar que a menina soubesse as dúvidas que tinha em sua cabeça.

Gina aconchegou-se nos braços de Harry que acariciava seus cabelos tentando resolver o quebra cabeça de seus sentimentos. Depois de vários minutos, Neville e Luna chegaram trazendo Trevo que parecia desapontado por não ter conseguido fugir novamente. Harry e Gina não mais se tocaram depois que os dois chegaram e muito menos quando Rony entrou na cabine acompanhado por Hermione. A viagem não demorou muito e logo todos estavam desembarcando na estação perto de Hogwarts, Hermione ainda olhava preocupada para dentro do trem, Harry não havia saído com eles, continuava lá dentro desde a hora que saiu com a capa de invisibilidade escondida.

- Vamos Mione, ele já deve ter ido.

Hermione o seguiu mesmo contra sua vontade, ela sabia que Harry não tinha saído, que ele ainda estava ali dentro, mas precisava cuidar dos novos alunos e tinha confiança de que o amigo iria sair logo.

Harry achava que aquela noite não poderia ser pior. Fora enfeitiçado e chutado por Malfoy, quase não conseguira voltar para Hogwarts e se machucou ao pular do trem em movimento. Mas nada foi pior do que o que o aguardava no portão de Hogwarts. Snape em pessoa foi recebê-lo e não lhe dirigiu uma única palavra amiga, um único olhar solidário, era só raiva. Harry mal conseguiu se despedir de Tonks, ele apenas pensava em Snape que não olhava para ele.

Ele era odiado.

Snape por outro lado se controlava o máximo que podia para permanecer com o olhar de ódio, por um lado não era de tudo uma mentira, ele o estava odiando naquele momento, odiando por ter sido estúpido e seguido Malfoy que lhe deu todas as informações quando se gabou do que fez para seus amigos, estava o odiando por ter demorado e preocupado seu coração. Desde o dia em que fugiram das masmorras de Voldemort, ele não tentara mais se comunicar com Harry em seus sonhos usando o Sev como porta voz, ele o deixara viver sua vida como achava que seria melhor para ele, ainda mais depois da promessa que fez para Dumbledore. Uma promessa que quase lhe rendera a morte congelada no alto da torre de astronomia. Ele não conseguia olhar Harry nos olhos, pois não queria olhar as lindas esmeraldas e imaginá-las quebradas em breve.

Era melhor continuar assim, quanto mais longe Harry ficasse menos ele sofreria quando a hora fatídica chegasse. A distância era um bom remédio para quase tudo.

"Mas não para o seu coração". – Dissera Lily em sua mente.


O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora