Capítulo 19 - Vendo fantasmas
Nas entranhas do castelo de Hogwarts o morcego das masmorras não conseguia dormir. Seu corpo estendido no grande sofá parecia derrotado e seus olhos estavam mais vazios do que em qualquer momento já estivera. Pelo canto escorria uma límpida e cristalina lágrima que descia solitária o caminho por seu rosto e morria no canto de seus lábios. Uma lágrima única conjurada em um momento de extrema paixão, angústia, tristeza, medo e solidão.
Seu braço estendido para fora do sofá continha uma mão flácida que pendia em seus dedos sem força um último frasco da poção que fez seus sonhos mais ínfimos e distantes tornar-se, por um pequeno momento, realidade. Uma realidade que ele sentia apenas em sua mente e alma. O frasco caiu com um baque surdo em cima de seu tapete felpudo derramando o liquido vermelho que agora só lhe traria mais tristezas e angústias. Era necessário esquecer aquilo, esquecer onde seus desejos e anseios o levaram. Ele não tinha direito, ele não tinha permissão para sequer pensar em algo assim, ele tinha apenas que cumprir o que lhe foi confiado.
Snape fechou os olhos e contra sua vontade lembrou dele, lembrou do toque dele, do que não era real, mas era imaginário o suficiente para parecer verdade. Sua cabeça doía por se bater constantemente tentando afastar de si aquelas lembranças traiçoeiras, ele não deveria pensar nisso, não deveria lembrar-se disso, deveria esquecer todos esses sentimentos estranhos.
- Não tão estranhos assim não é Sev?
- Lily, por favor, agora não. Não é uma boa hora para eu começar a ver a sua imagem e falar com fantasmas.
- Sev.
Snape abriu os olhos e viu a bela e radiante imagem de Lilian em pé ao seu lado, olhando em seus olhos e sorrindo de uma maneira tão afetuosa que era quase um crime existir um sorriso tão encantado e brilhante como aquele.
- Posso me sentar?
- Sabe que pode. – Ele se espremeu no canto do sofá para que ela pudesse se sentar junto dele.
- Por que está se condenando tanto Sev? Pelo que eu me lembre você gostava muito de mostrar que gostava de mim.
- Gosto, amo você.
- Não mais. Você ama à ele.
- Não. Não amo, sabe que não. Você é a única pessoa da minha vida. Eu não amo seu filho, eu devo protegê-lo, só isso. Devo isso à você, devo fazer isso por você.
- E está fazendo bem, arriscando-se mais do que eu poderia permitir que fizesse por ele ou por qualquer pessoa. – As mãos de Lilian eram apenas luz e brilho, mas esquentaram o rosto de Snape de uma tal forma quando ela a deslizou por sua bochecha e queixo que ele pensou que iria explodir. – Mas dar esta proteção não quer dizer que não tem o direito de amá-lo. Sev, não desista desse sentimento que você demorou tanto para descobrir, tanto para sentir novamente.
- Ele não ama à mim Lily, ele ama o Sev, ele ama um vulto, ele ama alguém que está na imaginação dele.
- Ele ama aquele homem que o faz se sentir amado. Mas me diga Sev, como quer que ele ame a ti como um todo, se você não mostra o todo à ele?
- Lily eu devo apenas....
- Shhh. – Os dedos dela postaram-se em seus lábios impedindo-o de continuar. – Você já o salvou de todas as formas que ele poderia ser salvo. Agora salve a si mesmo, permita isso a você mesmo. Dê a ele e a você o que tanto querem um do outro.
- Eu não sei o que Potter quer.
- Você. Sev só um tolo cego como você pode não perceber que ele ama esse morcego velho, que ele quer estar com você, que deseja você. Ele não quer o vulto Sev, ele quer o Severus inteiro, mas você só deu a ele essa pequena parcela de você. Severus, se fossemos eu e você, se eu desse a você essa pequena parcela, você não iria se agarrar à ela?
- Com todas as minhas forças.
- Viu. É a mesma coisa. Você diz para ele abrir os olhos, mas quem precisar abrir é você. Você está cego para os verdadeiros sentimentos dele. Ele não vai procurá-lo porque pensa que você não o quer. Ele ficará com sua pequena parcela, mas sempre desejará o todo. Dê à ele Sev. Se dê para ele, se entregue. Você quer isso, ele também.
- Lily.
- Faça isso Sev. Eu estarei aqui te apoiando. Sempre estarei aqui.
- Você já vai? – Perguntou segurando a mão iluminada da mulher.
- Não. – Os olhos de Snape eram quase uma suplica. – Vou ficar até você dormir.
- Você é um anjo Lily, definitivamente um anjo. Eu te amo Lily.
- Eu também te amo Sev. Eu sempre te amei.
- Então por que... – Os olhos negros estavam quase se fechando tamanho o cansaço que sentia. – Por que me abandonou?
Os cabelos de Snape eram acariciados e logo seus olhos se fecharam levando-o para um sono tranquilo e sem pesadelos. – Foi você quem se abandonou Sev, eu sempre estive lá para você, mas você não viu. Agora durma, amanhã será um novo dia.
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O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)
Roman d'amourE se tudo pesasse? Se os pesadelos lhe levassem para a morte recente de um jovem lufano? Se o trabalho que seus tios lhe obrigavam a fazer nas férias pudesse agora ser feito no mundo bruxo o trazendo mais dor? O que você faria? O que Harry faria? Co...