Um nome

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Todos os dias Harry subia os degraus da escola indo em direção ao seu refúgio, seu cantinho de tortura diária, onde se contentava em apenas deixar a mente solta. Após horas de aula de oclumência com o morcegão das masmorras o que precisava era liberdade. A dor era constante e ele sabia que a qualquer hora Voldemort a invadiria, mas aqueles pequenos momentos onde mesmo com dor, sua mente era somente sua, o fazia tentar arriscar e ficar vulnerável a qualquer invasão.

Sentado no chão, Harry apenas fechou os olhos e novamente ficou a pensar em sua rosa azul devidamente guardada em uma redoma de vidro em seu quarto no alto da torre da Grifinória. É claro que já não conseguia não pensar no homem que lhe deu tal formosura da natureza.

- Ainda continua vindo até aqui, Harry? – Perguntou uma voz no escuro.

Harry tentou ao máximo esconder o sorriso, mas era quase impossível. Sabia que era errado confiar em alguém que não mostrava o rosto, porém era esse homem que ele ansiava ver e ouvir, era culpa dele que o grifinório se arriscava todos os dias pelos corredores a noite, que não conseguisse dormir e que visitasse esse local constantemente. Harry não sabia exatamente quando começou a sonhar com aquele vulto, mas sempre queria voltar a dormir, na verdade dormiria eternamente se não fosse a vontade de vê-lo pessoalmente.

- Em que outro lugar eu poderia ir? – Perguntou Harry em resposta.

- Há tantos outros. O campo de quadribol onde pelo que sei você se dá muito bem com a sua vassoura ou seu próprio quarto refugiado pelas cortinas vermelhas agarrado ao travesseiro como tantas outras vezes.

Harry abriu os lindos olhos verdes e o observou. Uma figura encapuzada sentada no parapeito com a postura reta mostrando o quão imponente ele era, dessa vez suas mãos estavam a mostra, mãos de dedos longos, magros e pálidos. Apesar de seus olhos não estarem a mostra, Harry sabia que ele o olhava, o observava.

- Ainda não se cansou de minha beleza? – Perguntou Harry voltando a fechar os olhos.

- Não. – Respondeu a voz sedosa. – Ela é incansável.

A resposta fez Harry abrir os olhos novamente prestando mais atenção ao homem que agora se encontrava em pé. Perguntou-se o porquê de sentir que ele não lhe faria mal. Levantou-se devagar e foi em sua direção, levantando a mão afim de tirar-lhe o capuz, mas a mão pálida e gelada o impediu segurando a sua fortemente.

- Por que não me deixa ver quem é você? – Perguntou Harry sentindo o vento balançar seus cabelos.

- Antes mesmo do brilho das mais belas esmeraldas se apagar o meu objetivo era te proteger e para sua própria segurança e proteção é melhor não saber quem sou.

Harry abaixou a mão e foi até a beirada da sacada. O vento balançava seus cabelos rebeldes e a escuridão banhava o jardim impedindo-o de contemplar sua beleza.

- Diga-me Harry, por que gosta tanto de vir para cá? – Perguntou o homem encapuzado.

- Porque parece com minha vida. Gelada, solitária e a um passo do fim. – Respondeu o menino inclinando-se para fora do balaustre. - Acho que ninguém se incomodaria. – Comentou para si mesmo.

- O que o faz pensar nisso?

- Experiências próprias. Meus amigos só se importam se estou bem para que eu possa enfrentar Voldemort, até o próprio Dumbledore age assim. E meus tios me querem bem para que eu possa atender as exigências de seus clientes.

- Clientes? – Perguntou o homem demonstrando interesse. – Que tipo de clientes?

- Apenas clientes e nada mais. – Finalizou achando que falara demais.

O tom na voz de Harry encerrava aquele assunto. Nenhuma outra palavra foi trocada, mas Harry sentiu-se tão bem ao lado dele que até mesmo o silêncio era agradável.

- Eu não conhecia esse seu lado calado.

- A maioria das pessoas não me conhece completamente, apenas o que deixo transparecer. Que sou um grifinório corajoso e cheio de vida, que tenho os melhores amigos do mundo, e tenho mesmo, e que estou feliz o tempo todo.

- Você mente bem.

- Aprendi essa proeza. Na minha profissão ou você mente bem para si mesmo, ou se deixa cair em desgraça.

Algumas gotas de chuva caíram em seu rosto quando o primeiro trovão pôde ser ouvido ao longe.

- Acho melhor entrarmos. – Disse o homem.

Harry sentiu a mão grande segurar seu braço e o guiar para dentro do castelo. Se deixou levar sentindo que podia até mesmo fechar os olhos que nada aconteceria. Sabia que o homem o guiaria em segurança para seu destino e que estaria ao seu lado, protegendo-o.

- Qual seu nome? – Perguntou Harry.

O homem hesitou pensando, ainda segurava lentamente o braço do menino acariciando-o com o dedo, um gesto singelo que o fez suspirar.

- Pode me chamar como quiser.

- Sendo assim eu pensarei em um nome adequado, você não tem face nem nome. Farei de você quem eu quero que seja, que eu desejo que seja.

Harry disse a última frase mais para si do que para ele. Seus olhos procuravam uma única brecha entre as vestes que revelassem esse misterioso homem. O silêncio foi quebrado pelos miados de Madame Norra que rondava os corredores atrás dos alunos que, como Harry, estavam fora da cama.

- É melhor eu ir, espero vê-lo amanhã, ainda quero lhe dar um nome.

- Estarei aqui. Sempre estou aqui.

Harry fechou melhor a blusa e saiu olhando uma última vez para trás vendo que ele ainda não se mexera. Seguiu para seu quarto e fechou a cortina em volta de sua cama.

Um nome, ele precisava achar um nome para aquele ser que mexia com ele que o fazia suspirar. Passou horas pensando em um nome adequado, mas nenhum se encaixava com a imagem dele. No meio de tantos nomes que pensara, achou um que lhe lembrava um sentimento bom que sentiu e ainda que fosse doido pensar sobre isso, sabia que era o correto. Pensar naquele nome o fazia sentir a segurança de novo, aquele calor acalentador, aquele conforto. E parando para pensar, havia algo mais em relação aquele nome, era um sentimento que vinha escondendo de si mesmo, sonhos que negava ao abrir os olhos. Era o nome daquele que jamais soube e jamais saberia dos seus sentimentos. Nome daquele a quem dedicava suas lágrimas de amargura cada vez que as palavras ferinas eram direcionadas a ele. Era loucura, sabia disso.

Já sabia qual nome, sempre soube quem queria queele fosse, ainda que fosse impossível.

O Veneno que Corrói a Alma (Snarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora