Capítulo 6

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O dia amanheceu frio e chuvoso. O céu nublado e o vento gelado não me animaram a tomar o café da manhã no solário, como era de praxe. Ao invés, preferi a sala de jantar, mais fechada e sóbria. Talvez para combinar com o meu humor. Não que eu estivesse com fome. O café da manhã era um ritual necessário. Além disso, eu precisava comer alguma coisa. Sabia que se não o fizesse só me sentiria pior.

Astoria apareceu com o pequeno Angel a tiracolo pouco tempo depois, quando eu tomava uma xícara de chá com leite. Agora ele estava propriamente vestido com antigas roupas de Scorpius. Era mesmo um garoto lindo. Os olhos verdes brilhavam tanto que chegavam a impressionar. A boca e o nariz pequenos eram perfeitos. Os cabelos castanhos, tão sujos quando o encontrei, agora estavam penteados e brilhantes. Astoria colocou-o sentado ao seu lado, numa cadeira própria para uma criança do seu tamanho.

Angel olhou para a mesa com os olhinhos arregalados. Sorri de maneira triste. Imagino que estivessem morando nas ruas por um bom tempo, e comida de verdade como ovos mexidos, pães frescos, bolos, sucos, leite e frutas fosse algo completamente novo. Senti um aperto no coração, e simpatizei ainda mais com a causa de Harry.

Eu nunca havia dado muita atenção à Fundação Alvo Dumbledore para Crianças Carentes. Convencia a mim mesmo de que era melhor ficar longe de tudo o que estivesse relacionado a Harry Potter. Analisando friamente os fatos, porém, era precisava admitir que fiquei longe por puro egoísmo e desinteresse.

Olhando para Angel agora, que mantinha a boca cheia de comida, como se esperasse que elas sumissem de suas vistas a qualquer momento, me senti o pior dos homens.

Eu achava que meu caráter havia melhorado desde a guerra, mas seria mesmo verdade? Como eu esperava que Harry me notasse se eu continuava o mesmo?

Desviei o olhar para o adolescente mal-humorado que entrou em seguida, também mais arrumado que na noite anterior. Ele sentou perto do irmão assim que o viu, e encarou a mim e a Astoria com desconfiança. Minha esposa sorriu para o garoto.

- Por favor, sirva-se. Pedirei para Cisne trazer mais uma xícara. – disse Astoria com a voz melodiosa.

- Não quero nada. – disse Alfred rudemente.

Fiz uma careta.

- Não seja mal-educado. – ralhei. - Aposto que não faz uma refeição decente há tempos. Aproveite.

O pequeno Angel olhava para o irmão com expectativa. Se Alfred começou a comer para deixar Angel mais sossegado, ou se foi por que seu estômago começou a roncar, não faço ideia. Só sei que o rapaz finalmente deixou a reclamação e a suspeita de lado e pôs-se a atacar a comida. Até mesmo respondeu às perguntas de Astoria sem ser agressivo. Ele, a exemplo do irmão, também estava faminto. Quase os invejei pela maneira como comiam tudo com prazer. Há quantos anos eu não sentia prazer algum em comer?

Quando eles terminaram e os elfos vieram tirar a mesa, levei os dois meninos para uma sala mais aberta e ensolarada nos fundos da Mansão. Era ali onde Scorpius gostava de brincar. Ainda havia alguns de seus antigos brinquedos espalhados ordenadamente aqui e ali.

Angel pareceu muito interessado em duas varinhas de brinquedo que estavam em cima de uma das mesinhas perto do sofá. Deixei que Astoria o levasse até elas e lhe desse permissão para tocá-las. Alfred vinha a meu lado, e olhava tudo como se esperasse ter que escapar a qualquer momento. Pobre garoto.

Do lado de fora, vi uma figura se movimentando. O homem de preto encontrou meu olhar e me deu aceno. Era um dos Aurores deixados por Harry na noite anterior. Engoli a irritação.

- Alfred, precisamos conversar. – disse para o rapaz ao meu lado, que deu um pulo ao ouvir seu nome. Ele estivera observando o Auror.

- Não acho que tenha nada pra dizer. – disse Alfred em tom de desafio.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora