Capítulo 18

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Harry estava levando muito a sério seu papel de curandeiro particular. Ele me encheu de vitaminas trouxas, e nas refeições fazia questão de que eu comesse tudo o que havia no meu prato. Por um lado, aquela preocupação toda me enternecia. Por outro, me deixava extremamente irritado. E no final das contas, Harry sempre levava a melhor. Não havia mais como desobedecê-lo, não quando eu havia dado a minha palavra de que não mais o faria. Mesmo que eu quisesse, e meu espírito rebelde realmente queria, não tinha forças.

Nos três dias que passamos no Cairo, eu quase não saí do quarto. A prioridade era melhorar. Harry passava quase o dia todo fora, mas fazia questão de vir comer comigo. E quando isso acontecia, não conversávamos sobre nossa estranha relação, nem mesmo sobre o Livro dos Mortos. Curiosamente, nossos papos eram os mais triviais possíveis. Livros de ficção, Quadribol, as últimas notícias do Pasquim, a política do Ministério. Se eu não soubesse melhor, acharia que estávamos num encontro. Duas pessoas interessadas em se conhecerem melhor. Era bizarro, para dizer o mínimo, mas deveras divertido. Principalmente porque discordávamos de quase tudo.

Infelizmente, não passávamos as noites juntos. Harry tinha seu próprio quarto, e seus olhos raramente traíam seu desejo por mim. O desgraçado estava conseguindo se controlar muito bem, tanto que eu começava a pensar que tudo o que acontecera entre nós havia sido mesmo fruto da minha imaginação.

Finalmente Harry conseguiu a informação que queria, e partimos para uma cidade mais ao sul do Egito. Não Aparatamos por minha causa. Eu havia melhorado, mas Harry não queria que eu me arriscasse. Sua preocupação, eu sabia, não era somente com a minha saúde, mas também com o tempo que perderíamos se eu caísse doente mais uma vez. Harry tivera notícias de que dois bruxos Ingleses andavam pelo Egito a perguntar pelo Livro dos Mortos. Precisávamos correr.

Nossa viagem de carro não foi tão ruim quanto eu pensara. Embora o calor fosse insuportável, nosso carro tinha ar-condicionado e era magicamente adaptado. Não era a primeira vez que andava de carro, mas era a primeira vez que me sentia relaxado. Devia ser porque Harry estava na direção.

- Considerando a idéia de ter um, Malfoy? - Harry provocou quando me viu admirando o veículo e analisando-o com interesse.

Fiz uma careta.

- Talvez.

- É bastante conveniente. Sem contar que é divertido ao extremo. Meus filhos adoram.

- Seus filhos dirigem? - perguntei horrorizado.

Ele riu.

- Claro que não. Embora James já tenha pegado o carro escondido mais de uma vez... - Harry fez uma carranca ao mencionar o fato. A lembrança não o agradava nem um pouco. - Costumamos levá-los para A Toca de carro. Lilian não pára de falar a viagem toda. Alvo lê e James... Bem, James fica o tempo todo tentando irritá-lo.

Essa lembrança teve um efeito diferente em Harry. Seus olhos ficaram distantes, e um suspiro pesado escapou de seus lábios, como se algo dentro dele doesse.

Algo definitivamente estava errado na casa dos Potter. Como eu gostaria de descobrir o quê.

- Escorpio nunca andou em um carro... - disse para distraí-lo.

Para meu horror, havia pesar na minha voz. Talvez eu realmente devesse comprar um carro caso voltasse para casa com vida. Não queria privar meu filho daquela experiência, não quando a maioria dos bruxos possuía um. Além disso, meu preconceito era tão ultrapassado. Por que eu ainda me apegava a valores tão antigos?

Harry não disse nada, o que me deixou intrigado. Aquele era o momento perfeito para jogar na minha cara o quão esnobe eu era. Curiosamente, ele não o fez.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora