Capítulo 14

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O dia seguinte amanheceu incrivelmente cinza. Até mesmo a comida, que começara a ter um gosto mais agradável, agora não tinha gosto algum. Mal percebi Astoria entrando e saindo do meu quarto com a expressão preocupada. Meu ouvido, porém, captou muito bem quando, do lado de fora, ouvi o Auror dizer a ela que Harry não voltaria naquele dia. Nem no dia seguinte. Complicações no trabalho. Nada que precisássemos nos preocupar.

Resmunguei algo não muito educado.

Minha alma fervia de raiva. Queria que eu me levantasse e fosse atrás do desgraçado; exigisse dele satisfações. Meu corpo, no entanto, recusava-se a cooperar. Sentia-se cansado, fraco. E concordava com a outra parte do meu cérebro que dizia para deixar que Harry se fosse de vez, pois Harry Potter não era meu, nem nunca seria. A noite que passáramos juntos fora um sonho. Não tinha o direito de exigir mais nada.

No terceiro dia, ouvi Astoria ler para mim cartas de minha mãe e Scorpius. Nada de novo em Paris, pela graça de Merlin. Ao menos meus pais pareciam alheios ao que acontecia na Grã-Bretanha. Scorpius também parecia completamente envolvido com a escola e dizia ter feito bons amigos. Não mencionou Alvo Potter, e eu não esperava que ele o fizesse. Conhecia o filho que tinha. Sabia que Scorpius escolheria conversar comigo sobre o amigo quando estivéssemos juntos novamente.

Ao menos ouvir notícias de Scorpius fez com que eu resolvesse sair do estupor e encarar a vida lá fora. Do meu jeito peculiar, é claro. Saí para caminhar com meus cães a tiracolo. Angel e Alfred me acompanharam. Alfred parecia estranhamente dócil, o que me deixou com a orelha em pé. O garoto devia estar querendo aprontar alguma.

- Onde está Potter? – ele perguntou com a típica insolência adolescente.

- É Sr. Potter pra você. – disse, olhando Angel brincar com Athos. – Não se esqueça que ele é Auror Chefe. É um homem muito ocupado.

- Mas ele prometeu me treinar!

Ah, a rebeldia adolescente estava ali afinal de contas. Conti o sorriso, pois sabia que aquilo só deixaria Alfred mais revoltado.

- E se eu treinasse você?

Odeio admitir, mas a risada sarcástica de Alfred me deixou profundamente chateado.

- Nem ia ter graça. – ele disse para me humilhar de vez.

Fiz uma careta.

- Pelo menos tenho força suficiente para te ensinar bons modos. – rosnei.

Para minha total surpresa, ele se desculpou.

- Não tive a intenção de ser rude. Foi só um fato. Você está doente.

Suspirei. Alfred tinha um jeito todo peculiar de demonstrar sua preocupação para com minha saúde.

- Doente, mas não morto. – atestei.

Alfred lançou um olhar sobre o irmão. Angel ia bem a nossa frente agora com os cães ao seu redor guardando-o como se ele fosse um bem precioso.

- Eu não entendo porque ninguém ainda tentou nos atacar. A única explicação plausível é que o Grupo dos Poderosos tem medo de Potter. Mas se ele não estiver aqui...

- Hei, hei. – cortei-o. – Estamos protegidos mesmo sem a presença física de Potter por perto. Ele é, afinal de contas, o fiel do segredo desse lugar. Ninguém pode entrar a não ser que ele queira.

- Há mais dois Aurores que sabem do segredo também...

- Não confia neles?

- Já disse que não confio em ninguém.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora