Capítulo 8

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Duas atividades conseguiam me acalmar quando a ansiedade me atacava e eu me sentia como que preso dentro de mim mesmo, desesperado pela liberdade de simplesmente ser: caminhar pela minha propriedade tendo meus cães por companhia, e tocar piano.

Meu pai nunca havia gostado muito da ideia de que eu tocasse piano. Era, na visão dele, coisa de maricas. Minha mãe, porém, havia feito questão de que eu aprendesse. A arte de tocar piano, de correr os dedos pelas teclas, é mágica. Faz com que nossa alma transcenda a cada nota. Pelo menos era como eu me sentia.

Com a alma aos pedaços, me sentei ao piano e comecei a tocar. Rachmaninoff, concerto n.2. Deixei que a música tomasse conta do meu ser. Não tinha uma orquestra a me seguir, mas pude ouvi-la mesmo assim, cada instrumento entranhado em mim. Deixei-me levar com a esperança de que me esquecesse de Harry e do fato de não saber absolutamente nada sobre O Livro dos Mortos exceto o que estava escrito em livros de história bruxa e trouxa.

O Livro dos Mortos, um artefato egípcio desejado por todos aqueles apreciadores de magia ou história. Dizem que foi confeccionado há mais de três mil anos, por um bruxo poderoso da época. O livro continha poções e encantamentos. Um guia espiritual para a vida após a morte. No entanto, ia muito além. Era um livro de magia negra. Dizia poder trazer os mortos à vida desde que se tivesse um recipiente apropriado. Um corpo dotado de alma. Não era um tópico para fracos, e era tão tabu quanto as Maldições Imperdoáveis. No passado, porém, não havia sido. Não era essencialmente um livro maligno. Havia coisas além do nosso conhecimento nele. Muito além de pura e simples magia negra. Certo. Não tão simples, mas não menos interessante.

Os trouxas achavam que o tinham, ou ao menos parte dele, num museu em Londres. Um papiro de 24 metros. Continha coisas extraordinárias, é verdade, mas a parte que faltava continha encantamentos de arrepiar os cabelos. Era muito melhor e maior. Era completa. Talvez tivesse uns 50 metros ao todo, ou mais. Ninguém sabia com precisão. Uma janela para o outro mundo. Fora achado por nada menos que um trouxa. Mas diziam os livros que um bruxo havia feito a troca sorrateiramente, e a parte verdadeiramente bruxa havia há muito desaparecido. A parte que restara, embora interessante historicamente, não tinha nada de bruxaria em si.

E eu não fazia ideia de onde estava. Meu único consolo era saber que os Poderosos também não sabiam. Já havia me informado sobre o assunto. Burke fora, como sempre, reticente em suas respostas. Mas sendo um expert em artefatos de magia negra, era o homem ideal para se tentar obter informações. Ao menos ele havia me dito ter certeza de que ninguém sabia da localização do Livro dos Mortos.

Menos mal, menos mal.

Concentre-se na música, Draco. Talvez você obtenha respostas com ela. Eu esperava que cada nota me trouxesse inspiração se não esquecimento. Apenas eu e a música.

Um barulho repentino me tirou do ritmo. Olhei a minha volta e encontrei os olhos verdes infantis de Angel me observando. Ele parecia assustado por ter sido pego me espionando. Sorri.

- Tudo bem, Angel? – perguntei com suavidade.

Ele assentiu.

- Gosta de piano?

- Gosto. Eu ouvia de vez em quando... quando a gente morava perto do teatro...

- Venha até aqui então.

Após uma leve hesitação, ele veio se postar ao meu lado. O encorajei a sentir as teclas sob seus dedos, o que ele fez quase com reverência. Lembrei-me de Scorpius brincando ao piano com a mesma idade. Scorpius tocava, mas não tinha a mesma paixão que eu pelo instrumento. Podia ver, no entanto, que o pequeno já mostrava sinais claros de quem tinha jeito pra coisa. Para meu espanto, ele conseguiu tocar os primeiros acordes do concerto n.2 de cor. E era tão pequeno. Fiquei encantado.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora