Capítulo 1

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A algazarra ao redor me sufocava, mas me mantive altivo e estoico até o fim. Aquele momento era de extrema importância para Scorpius. Seu primeiro ano em Hogwarts. Ali começaria uma nova etapa de sua vida, uma que eu esperava que fosse mais feliz que a minha.

Não que eu tivesse sido tão infeliz assim na escola. Apenas no meu Sexto ano eu realmente iria vir a sentir o peso do medo, da culpa, do remorso.

Meus dois últimos anos haviam me transformado no que eu era hoje. Um homem cheio de medos e inseguranças, que lutava contra o pânico contínuo todos os dias. Há muito tempo eu perdi o gosto pela vida. Dezenove anos depois e eu continuava me sentindo o mesmo garoto assustado que fizera tantas idiotices na adolescência. Eu tomava remédios. Todos os dias. Rejeitara a ajuda de psiquiatras até que não houvera mais jeito. Já estava em terapia há quase dez anos, com poucos progressos. Mas ao menos eu conseguira enfrentar Londres com toda a poluição, e barulho, e aquelas máquinas de quatro rodas assassinas. E todos aqueles trouxas...

Não me leve a mal, já não odeio os trouxas como antes. Só acho que eles estão acabando com nosso mundo em geral, naquela tentativa insana de suprir a magia através do que eles chamavam tecnologia. Tecnologia essa que agora estava por toda parte. Eu podia ver naquele mesmo instante, na Plataforma Nove ¾, vários bruxos e bruxas tirando pequeninos aparelhos celulares das bolsas, ou escutando música com eles, ou tirando fotos e fazendo pequenas filmagens de cada momento de suas vidas. A maioria também tinha carros enfeitiçados.

Realmente eram outros tempos. O mundo bruxo adorava o mundo trouxa. Mas eu não estava ali para analisar a vida ao meu redor. Estava ali para dar todo o meu apoio a Scorpius, que segurava minha mão com força. Ao meu lado, Astoria, minha esposa, parecia tão nervosa quanto ele.

Era um medo justificado. A família Malfoy já não tinha o prestígio de antes. Pelo contrário. Desde a última guerra, e apesar da nossa deserção de última hora, havíamos sido tachados de Comensais da Morte e o éramos até hoje. As pessoas cochichavam quando passávamos. Alguns eram abertamente hostis. O mundo bruxo agora detestava aqueles de puro sangue que haviam se aliado ao Lorde das Trevas, e adoravam aqueles nascidos de pais trouxas.

Astoria e eu tínhamos certo receio do que poderia acontecer a Scorpius em Hogwarts. Meu consolo era que Scorpius não era como eu. Fisicamente, era a minha cópia. Os mesmo cabelos e cor de olhos, a mesma beleza radiante dos Malfoys. Mas enquanto eu havia sido um garoto mimado e presunçoso, que sempre se achara melhor do que os outros apenas para esconder minha insegurança, Scorpius era o oposto. Era um garoto adorável e simples. Sabia ser altivo sem ser arrogante. Era um aristocrata nato, mas sem toda a pompa inútil e irritante.

Era o meu orgulho, e eu faria qualquer coisa por aquele que se tornara minha razão de viver. Eu amava Scorpius mais do que qualquer outra pessoa no mundo, e amaldiçoaria qualquer um que ousasse lhe fazer mal.

Sabia que seria um aluno brilhante, mas tinha medo de que ele fosse intimidado pelos outros. Um sorriso amargo ameaçou escapar de meus lábios. Se isso acontecesse, seria minha culpa. Afinal de contas, eu havia sido insuportável para muitos alunos de Hogwarts.

O principal deles estava há alguns metros de distância, e meu coração disparou no peito assim que o senti por perto. Meus olhos o procuraram instintivamente. Sempre fora assim. Anos de terapia me fizeram descobrir o porquê daquilo, mas era melhor não enveredar por aquele caminho. Não naquele momento.

Olhei então para Scorpius e dei um sorriso sincero pela primeira vez desde aquela manhã. Meu filho relaxou um pouco. Senti-me culpado por fazê-lo se preocupar tanto. Que droga de pai eu era.

– Como está se sentindo? - perguntei.

– Bem. - disse ele, e parecia dizer a verdade.

Senti-me um pouco menos nervoso. Astoria, no entanto, continuava irrequieta. Ela se abaixou para abotoar ainda mais o casaco pesado de Scorpius. Revirei os olhos, mas não reclamei em voz alta. Primeiro, porque estávamos em público. Segundo, porque eu era tão protetor quanto ela.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora