Capítulo 3

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O auditório da Mansão Junian estava lotado. À frente, Matilda pediu silêncio. Começou a velha ladainha de sempre. Ao começar a apresentação de Harry Potter, senti em suas palavras um toque de veneno, e me perguntei se Harry perceberia também. O que ele estaria pensando ao entrar naquele antro de cobras?

Sob aplausos mais curiosos que entusiasmados, Harry Potter entrou no palco usando um robe feito sob medida. Por baixo usava um pulôver verde, que combinava perfeitamente com seus olhos. A gravata era da Grifinória, destoando totalmente do resto da roupa, e sorri por dentro ao imaginar se ele o fizera de propósito. Afinal de contas, o Clube dos Bruxos era o antro de ex-alunos da Sonserina.

Confesso que não prestei muita atenção ao discurso, mas meus olhos não perderam um minuto da visão a minha frente. Queria me refestelar nele, nos olhos verdes que brilhavam mais e mais a cada palavra proferida, nos cabelos rebeldes que ele tentara domar sem sucesso, na boca que se mexia sensualmente, no som que saía dela e me envolvia como uma poção do amor.

Nossos olhos se encontraram uma dúzia de vezes. A cada uma delas, sentia meu coração bater apressado e meu rosto esquentar. A cada olhar, sentia-me vivo. Gostaria de poder usar Legilimência nele e lhe despir os pensamentos. Sabia que Harry nunca havia sido bom em Oclumência, portanto eu não teria problema algum em saber o que passava pela mente dele. Claro, isso não o impediria de me amaldiçoar até o próximo século.

Sorri e nossos olhos se encontraram novamente. Harry pareceu curioso, talvez imaginando o que eu estava achando de tão engraçado diante de um assunto tão sério. Gostei da ideia de que talvez ainda conseguisse deixá-lo furioso. Ao menos conseguiria alguma reação dele, e não aquela indiferença que ele agora parecia nutrir contra a minha pessoa.

O discurso durou cerca de meia-hora, e Harry se despediu sob aplausos contidos. Ele não pareceu muito satisfeito com a falta de entusiasmo geral. Achei bonitinho que ele ainda fosse inocente a ponto de imaginar que conseguiria amolecer o coração daquele bando de bruxos interesseiros. Matilda, porém, havia achado tudo maravilhoso, e prometeu a Harry uma quantia substancial para o Fundo de Ajuda às Crianças Carentes, criado por ele logo depois da guerra.

Não conseguia entender porque Harry precisava da ajuda de bruxos que, em circunstâncias normais, não teriam nem olhado na sua cara. E essa foi exatamente a pergunta de um repórter do Pasquim, agora comandado por Luna Lovegood, eterna devota de Harry.

Aproximei-me um pouco para escutar a resposta de Harry, e me diverti com os olhares de estupefação de alguns dos bruxos que estavam por perto ante àquela pergunta impertinente.

– Queremos a união de todos os segmentos do mundo bruxo nesse assunto. - começou Harry. – Principalmente nesse momento em que cresce a delinquência juvenil. Acredito que temos nossa cota de culpa nisso. Esses meninos não teriam entrado no mundo do crime se estivéssemos prestando atenção às suas necessidades.

Estava tão perto agora que podia sentir o perfume amadeirado dele.

– O fato de esses meninos serem filhos e netos de ex-Comensais apenas agrava o assunto. - Harry continuou. – Eu espero que todos possam abraçar a causa.

– Pois eu acho uma atitude um tanto hipócrita. - disse Ulian Karl, um bruxo de meia-idade que não se juntara ao Lorde das Trevas no passado, mas também não tomara partido da Ordem. O Sr. Karl era o verdadeiro exemplo de alguém que estava sempre em cima do muro. Era mais do que bizarro vê-lo falar com Harry daquele jeito grosseiro.

– Hipócrita? - Harry tinha um quê de raiva na voz, mas aparentemente ele se mostrava sereno.

Aproximei-me ainda mais. O perfume agora tomava todo meu ser.

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora