Capítulo 4

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A Travessa do Tranco não havia mudado tanto assim. Talvez seus comerciantes tenham ficado um pouco mais ariscos, mas, pensando bem, eles sempre haviam sido daquela forma. Bruxos de respeito quase nunca eram vistos por ali, principalmente hoje em dia.

Por pelo menos cinco anos após o fim da guerra, a Travessa fora patrulhada e vigiada por Aurores diariamente. Apenas os Comensais mais estúpidos e menos importantes haviam sido pegos por ali.

Gastou-se um bom tempo debatendo-se a ideia de que a Travessa deveria ser fechada para sempre. De fato, algumas lojas estavam vazias há quinze anos ou mais. Outras, porém, continuavam de pé. Alguns itens só eram encontrados na Travessa do Tranco, e isso era um fato inegável. Infelizmente, a comunidade bruxa precisava de um lugar como aquele.

No momento, a Travessa me era mais do que conveniente. Eu não queria estar ali, mas era necessário. Eu precisava de informações.

As ruas estreitas continuavam sujas. Quase não se via ninguém, e as poucas pessoas que se arriscavam a andar por ali estavam devidamente encapuzadas. Uma bruxa de aparência grotesca passou por mim. Seus olhos encontraram os meus por um instante e eu me retraí sem querer.

Odiava estar ali. Quando mais novo, sentia-me importante andando por aqueles becos mal-iluminados ao encalço do meu pai. Artefatos amaldiçoados sempre haviam me fascinado. Eu podia passar horas na Borgin & Burkes explorando cada item maligno, sonhando em possuir alguns. Minha visão havia mudado muito depois da guerra. Não era hipócrita o suficiente para dizer que agora abominava tudo que fosse magia negra. Magia negra ainda me interessava. Porém, já não me fascinava como antigamente.

Há quantos anos não entrava na Borgin & Burkes? As estantes empoeiradas continham artefatos não tão assustadores, mas não menos perigosos. Quase todos traziam uma placa com os dizeres 'não toque'. Havia uma jarra de olhos humanos no balcão. Um deles piscou para mim. Nas paredes, máscaras contorcidas pareciam querer me afugentar dali.

O velho Burke, ainda vivo, apareceu pela porta dos fundos e estancou assim que me viu. Seu rosto empalideceu e achei que ele fosse me dar as costas e sair correndo. Porém, surpreendentemente, veio ao meu encontro mancando bastante, os ombros um tanto curvados, um dos olhos completamente tomados por catarata. Acho que a ganância foi mais forte do que o medo.

– Já não o vejo há anos. Por um momento pensei estar diante de seu pai. Em que posso ajudá-lo? - disse Burke com a voz macilenta.

Imaginei com quantos anos ele estava.

– Preciso de informações, e estou disposto a pagar muito bem por elas.

Seu único olho bom brilhou cobiçoso.

– Ficarei feliz em poder ajudar.

Tirei de minhas vestes um saquinho cheio de moedas de ouro e o pus em cima do balcão para causar impacto. As mãos cheias de veias de Burke se mexeram inquietas. Acho que o velho já não via dinheiro há algum tempo. Não era de se estranhar. Magia negra não era nada popular.

– Matilda Junian. O que ela anda aprontando?

As mãos de Burke se fecharam como garras no saco antes que ele dissesse algo. Puxei o saco de volta com força. Senti meu corpo reagir negativamente ao lugar. Meu estômago se revirou. Todos os meus instintos me pediam para sumir dali naquele momento, procurar o sossego da minha casa. Precisei de toda a coragem que ainda me restava para ficar ali.

– Informações primeiro, Burke. - disse gélido.

Burke me olhou com ódio.

– Não sei de nada. Por que quer saber?

Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora