Flashes verdes. As luzes da Cápsula passam por todo o corpo de Sol, deitada sobre a base mecânica no chão. Onyx observa os gráficos e dados que aparecem na tela, suas roupas de dormir amassadas. Ela suspira.
- Relatório pronto. - diz. - Alta dose de sonífero. Está morta há aproximadamente duas horas...
Onyx indica a seringa que Sara havia encontrado, que está sobre a mesinha, guardada num saco plástico.
- Suicídio. - conclui.
Sara observa o corpo, pensativa. Olha para a seringa e depois para Onyx.
- Ela pediu o soro pra você?
- Não. - Onyx caminha até o armário, olhando os itens. - Meu estoque está o mesmo.
Sara assente. Respira fundo.
- Muito obrigada, Onyx. Vou pedir que você me acompanhe até a cafeteria, por favor.
As duas saem da Enfermaria e seguem pelo corredor. O aço parece mais frio, o eco dos passos parece mais forte. Elas entram na cafeteria, onde toda a tripulação está sentada, dividia em mesas. Nas três portas de saída, estão cada um dos soldados de Sara.
A tenente caminha para um ponto da cafeteria onde pode estar visível para todos. Onyx está ao seu lado direito.
- A Capitã Sol... Está morta. Há aproximadamente duas horas. O laudo médico é suicídio por... Sonífero. - seu olhar, de forma automática, pousa sobre Wilson. Ele a está encarando, visivelmente estressado. - Isso precisa ser reportado num relatório especial, e por isso estarei conversando com cada um de vocês, a sós, na Administração.
A nave balança, lembrando-os que ainda estão na área de detritos. Laura olha em volta, para a nave, preocupada.
- Sol vai ser levada de volta para a Geladeira, como diz o regulamento. Sendo assim, eu assumo o papel de capitã da missão. - completa Sara.
Há murmúrios entre a tripulação. Wilson olha para Lucas, que está impassível olhando à frente.
- E como segundo em comando - continua Sara. - Eu escolho a Soldado Ruth. De agora em diante ela atuará na minha antiga posição.
Ruth a encara, está tão surpresa como os outros. Sara observa cada um deles antes de finalizar:
- Esperem aqui até serem chamados.
- Precisamos de um tempo. - diz Wilson. - Foi uma amiga que morreu.
Sara olha para ele.
- Terão o tempo até que eu os chame.
Sara se senta à grande mesa da Administração. Respira fundo, pesadamente. Olha para o teto branco. Não faz sentido. Não faz o menor sentido. A nave balança, enquanto o som de um asteroide batendo no escudo soa.
Ruth entra na sala, batendo continência.
- Tenen- digo, capitã.
Sara sorri.
- Pode chamar o primeiro, Ruth.
Um à um, cada tripulante da M09-2140 se senta à frente de Sara, e responde suas perguntas. "Qual a última vez que você viu a Capitã Sol?". "Ela parecia abatida, ou fraca? Havia algum sinal, mínimo que fosse, de depressão?". "Sol em algum momento tinha apresentado comportamento auto-destrutivo?".
- Ela parecia bem. - diz Laura.
- Ela estava saudável. - diz Lucas.
E todos os outros dizem o mesmo.
- Onde você estava, no horário da morte?
Estranho. Olhos apertados. Nenhum deles entendeu a razão da pergunta. "Dormindo", era a resposta de Hugo e Ruth, Léo e Tomas, Onyx e ela própria. Laura estava na Navegação, como lhe havia sido disposto. Lucas estava acordado no Laboratório. Wilson estava dormindo, mas acredita que há mais a ser dito.
- Eu sei o que está pensando. - diz ele, olhando nos olhos de Sara. - Sol nunca se mataria, então... Quem tinha acesso ao sonífero? É isso, não é?
Ele bate as mãos na mesa.
- Isso é só uma desculpa para um interrogatório! Vocês acham que eu... - ele não termina. Sara o observa, impassível. - O Exército nunca foi submisso a nada. Não seria numa missão espacial.
- Está sugerindo alguma coisa? - pergunta Sara.
Wilson se levanta e se vira para a porta, saindo da sala. Sara apoia o rosto numa das mãos. Olha para a lista em seu tablet. Falta o mecânico.
Léo, pela primeira vez, não parece relaxado. Responde a todas as perguntas num tom polido e direto.
- Quando eu o vi no depósito - diz Sara. - Estava movendo caixas da Enfermaria.
- Eu sei. - responde ele.
Estão se encarando, nenhum dos dois desvia o olhar.
- Se houvesse uma chance de Sol não ter cometido suicídio... - começa Sara. - O estoque de Onyx está completo. Wilson ainda tem a seringa dele...
- Se alguém a matou, o que eu acho improvável, não fui eu.
A resposta dele é direta, como todas as outras. Mesmo assim, Sara não se abala.
- Por que?
- Porque eu não tenho um motivo.
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AMONG US - A trama
Mystère / Thriller🥇#1° LUGAR Categoria Suspense: Concurso The Cats, 2021. Esta história é inspirada pelo jogo "Among Us". A M09-2140 está em seus últimos dias de viagem à Marte, com o carregamento de 1500 colonos adormecidos. Seus dez tripulantes não têm apenas pap...