13. O segundo

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Sentada no quarto de Sol, descalça,  Sara olha para os livros à sua frente. Cadernetas em branco, manuais, literatura e um "Guia completo sobre o modelo Mother", todos espalhados. 'Mother' era o nome do modelo das naves que levavam cápsulas de humanos para Marte, que era o modelo à qual a M09-2140 pertencia.

Mas nada disso importava para o que Sara queria. Ela não procurava por informações da nave, estava procurando por notas escritas à mão, bilhetes, qualquer coisa que Sol houvesse deixado. Como Lucas dissera, alguma coisa deveria estar ali. Deixada para trás.

Ao seu lado pousa o painel pessoal de Sol, que ela desistira de tentar acessar. Ela pensara em senhas variadas, modelos de segurança que a NewSpace usava e até senhas mais banais como o nome da nave, iniciais de patente e sobrenome ou algo do tipo. Nada havia funcionado e por isso ela chamara o mecânico.

O mecânico... Mais um da sua lista de problemas: Léo, Wilson, Sol e seu suicídio sem razão, Lucas e seus segredos que ele dizia ser referentes à ordens de superiores. Que ordens são essas? Como ela, como capitã, deveria comandar sem ter acesso à todas as informações possíveis?

As portas se abrem e Léo está lá, parado. Está reto, rosto frio, com a atitude claramente mudada depois da advertência.

- Me chamou, capitã?

Ela percebe que ele observa os livros ao redor dela. Sara se levanta, pegando o painel, e entrega nas mãos dele.

- Eu tentei várias senhas imagináveis. Preciso que você desbloqueie.

Léo olha para o painel, avançando para dentro do quarto.

- Esse tipo de painel só pode ser desbloqueado pela senha ou na sede. Você tentou os modelos de segurança?

- Todos.

- Iniciais de patente?

- Sim. Uma sigla com o nome de cada tripulante? Também. - Sara se senta na cama. - Esperava que você tivesse outras ideias.

Ele olha para ela, demoradamente. Parece que quer dizer algo, mas ao invés disso, respira fundo e anda pelo quarto enquanto digita.

O tempo passa. Sara volta aos livros. Léo passa a mão pelos cabelos, insatisfeito com as tentativas mal sucedidas. Sara encontra uma nota num dos livros sobre o pai de Sol, um importante comandante. Cita isso ao mecânico, que tenta de várias formas transformar numa senha, mas sem sucesso.

Por fim, depois do que parecem horas, Sara o libera. Ela senta no chão e apoia a cabeça na cama. O torpor da exaustão começa a tomar seus olhos e mente. Nada. Não encontrara nada. Sem capitã, sem comunicação, sem resposta...

Ela não sabe quando havia apagado. Mas volta a abrir os olhos quando ouve a sirene estridente e fria. Sara se levanta, apoiando-se na cama e corre para fora do quarto.

As luzes da nave piscam um vermelho forte. Num segundo, escuridão. No outro, vermelho-sangue. A sirene é alta, estridente, ecoando pelas paredes brancas de aço. Sara corre pelo corredor, a roupa amassada, os pés descalços.

- Droga, droga, droga...

Ela olha para o tablet grande em sua mão. A tela pisca um aviso em letras vermelhas garrafais "LABORATÓRIO". Ela joga o aparelho no chão, correndo com mais velocidade.

A porta do laboratório está aberta. Ela entra, avançando em meio as cápsulas escuras. Grita o nome de Lucas por sobre a sirene. Então ela vê, entrecortada pelos flashes vermelhos, a silhueta dele, próximo à uma bancada de experimento. Ele usa o macacão de proteção. Sara estende a mão:

- Você está...

Alguém segura o seu braço, puxando-a para trás. Ela reconhece o mecânico.

- O que tá fazendo aqui?

- A gente tem que sair. - diz Léo.

- Espera!

Sara tenta se soltar do aperto em seu pulso, mas então Lucas se aproxima. Escuridão. E no flash de luz vermelha ela consegue ver o rosto dele, pelo visor transparente. Sua pele está se desmanchando, como se tivesse contato com ácido. Mas não é ácido. Ela consegue ver algo parecido com um fungo se espalhando pelo rosto dele, e ele está com a boca aberta como se gritasse, mas Sara não consegue ouvir nada além da sirene.

O mecânico a puxa para fora da sala, e ela vê Wilson se aproximando. Lucas, tomado pelo fungo, avança para eles mas a porta se fecha antes que ele saia. As sirenes param, mas a luz continua piscando.

Sara está no chão, assim como Léo. Wilson olha para os dois e depois para as portas do laboratório.

- O que aconteceu? - pergunta. Sara e Léo respiram pesadamente. - O QUE ACONTECEU?!

O grito de Wilson é desesperado. Ele está confuso e corre para a porta, batendo no painel e no aço, numa tentativa falha de abrir.

- LUCAS!!

[RECADO DO AUTOR: R.I.P Lucas ☣️✝️]

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