23. Onyx

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O líquido laranja começa a encher toda a cápsula, cobrindo o corpo de Léo, já ligado aos fios que entram na estrutura cinza. Onyx se inclina sobre o vidro, olhando o rosto dele antes de se atentar à pequena tela digital do lado direito da cápsula, onde começa a regular a quantidade de oxigênio e temperatura da cápsula. Suspira e olha mais uma vez para o rosto de Léo, calmo, dormindo. Não parecia o rosto de um assassino.

- Não precisava fazer isso. - diz Ruth, surgindo ao seu lado. - Qualquer um de nós poderia fazer.

- Não tem problema. - responde Onyx. - Eu... Precisava.

Ambas olham para a porta quando Hugo aparece. Ele olha para as duas, os olhos assustados e a boca aberta, e sem nada dizer se aproxima da cápsula. Onyx ouve ele sussurrando alguma coisa enquanto pousa as mãos sobre o aço, mas Ruth a puxa gentilmente para fora da sala. Elas saem da Geladeira e seguem pelo corredor. Onyx está pensativa, anda abraçando o próprio corpo.

- Como vocês estão? - pergunta Ruth, baixinho.

Onyx meneia com a cabeça.

- Eu sei lá. - diz. - Wilson não falou com ninguém depois daquilo, só... Fica na Navegação, o tempo todo... Todo o tempo.

- E o Tomas?

- Ele não sabe o que fazer sobre a Comunicação. Mesmo eu falando sobre a possibilidade do Léo ter... Enfim, hackeado o sistema... Eu não sei se ele entende o suficiente... Você falou com o Hugo?

- Falei... Ele deve tentar ajudar à qualquer momento... Não está sendo fácil para ninguém, na verdade.

Elas se aproximam da Enfermaria e Onyx entra, fazendo com que Ruth a siga.

- Ele parecia bem... Próximo do mecânico. - diz ela, parando ao lado da Cápsula.

Ruth respira fundo.

- Eles eram bons colegas. - responde. - Acho que nenhum de nós pode dizer o mesmo, principalmente agora.

- Você não sabia, não é?

A pergunta de Onyx pega Ruth de surpresa, ela sabe disso. A soldado a encara por alguns momentos, meio perdida, antes de dizer:

- Eu acho que só uma pessoa entre nós sabia.

- Ele não parecia um assassino.

- Ninguém parece.

As duas se encaram.


Mais tarde, Onyx está no dormitório da equipe, arrumando mais uma vez sua própria cama. Ela vira o travesseiro de um lado, depois do outro. Olha em volta e vê o "Guia completo sobre o modelo Mother" na cama de Tomas. Pega o livro e folheia, rapidamente lendo algumas palavras. Seu dedo instintivamente para sobre o capítulo que aborda as cápsulas, como a que ela colocou Léo para dormir. De repente ela pensa nas mil e quinhentas cápsulas no Laboratório e joga o livro sobre a cama de Tomas.

- Mentiras. - diz.

Na porta aberta, Tomas a está observando. Ela o vê e passa as mãos na calça, sem saber como agir. Ele entra e as portas fecham atrás dele.

- E então? - diz ele. - Tentando digerir?

- É como digerir um prato de pedras. - retruca ela. Tomas se aproxima mais, tentando olhar em seus olhos. - Não devíamos ficar sozinhos.

Ele para à alguns passos de distância.

- Onyx... - diz. - Ninguém vai entrar aqui. E não tem câmera alguma, aquilo foi... Só um erro.

- Que pode custar nossa carreira.

- Não mais. - diz Tomas. Onyx olha para ele, com raiva, mas sabe que ele está certo. Ela nem sabe o que vai fazer quando chegar em Marte, como... Reagir.

Onyx passa a mão pelos cabelos e vira de costas para Tomas, andando na direção contrária dele;

- Eu sei lá, eu só... - ela para perto de uma pequena mesa com uma garrafa e copos. Despeja a água num copo e bebe, para não precisar falar. Sente os braços de Tomas a abraçando por trás, e se aconchega automaticamente, por mais que contrarie: - Não, Tomas...

- Shhh - faz ele, beijando sua cabeça, enquanto sussurra para ela. - Está tudo bem. Todo mundo está meio perdido agora.

Ele pega o copo que ela segura e pousa sobre a mesa. Onyx, ainda no abraço dele, se vira. Tomas toca a testa na dela, e a ponta do nariz. Ela consegue sentir a respiração dele.

- Você é boa demais, Onyx. - sussurra ele, e a beija.

Onyx retribui o beijo, que começa lento e carinhoso, mas logo se torna algo mais. Aproxima mais o corpo do dele e Tomas a puxa mais para si. Ela passa os braços em volta do seu pescoço e ele, segurando-a pelas pernas, a ergue, passando pela mesinha e imprensando-a entre seu corpo e a parede. A boca dele desce para o pescoço dela.

O copo cai da mesa, a água escorrendo pelo chão.

AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora