30. Meios e fins

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Na Administração, Sara aponta a arma e a lanterna para a porta, ao ouvir o tiro. Ofegante e tremendo, ela espera, mas nada acontece. Alguém havia atirado. Pensa. Hugo avisara sobre a sabotagem depois havia encontrado o corpo de Laura. Wilson dissera que não ficaria na Navegação...

 - Tem alguém aí? - pergunta, por fim, levando a mão ao comunicador.

"Sara...", é Tomas. "Wilson atirou. Ele acertou a Onyx, Wilson acertou a Onyx, eu não sei o que fazer...".

"Tomas, sai daí!", exclama Sara. "Sai daí agora, agora!".

O silêncio a responde de volta. Ela sente a adrenalina no corpo. Respira fundo. Ela precisa fazer alguma, precisa sair dali. Onde estava Hugo? Por que não havia respondido? Ela tinha que...

 - Ruth. - sussurra.


 - Me desculpa, Onyx. - diz Tomas, olhando para ela logo após falar no comunicador. A voz dele tem um sentimento real, mas não é possível identificar que sentimento é esse. - Eu sei que deve estar decepcionada.

Onyx olha para ele e diz algo ininteligível, enquanto contorce as mãos presas. Tomas se senta na cama.

 - Você não entenderia o porquê... Não depois de se arriscar daquele jeito para ver se Lucas tinha uma chance... Não... Você era a garota perfeita, mas no momento errado. No momento totalmente errado...

Ele estica uma das mãos e acaricia o rosto dela. Observa o olhar de ódio com o qual ela olha para ele.

 - Eu sei... - sussurra. - Eu sei... Mas nada disso é pessoal, sabe?... Você sabe quantas pessoas morreram para o homem chegar à Lua? Quantas pessoas estão morrendo por causa da seca, ou dos incêndios? E o governo brinca que está tudo bem, enquanto, por baixo dos panos... - ele usa a mão segurando a arma para indicar a nave ao redor deles. - Isso.

Os olhos dele estão marejados. Ele pisca, e algumas lágrimas escorrem para fora.

 - Nós só estamos fazendo isso porque... Porque não é justo. Nós estamos morrendo lá, nós estamos morrendo aqui, em nome do progresso dos que estão no poder. Ninguém pediu pela corrida da tomada do espaço, não é? E ninguém pediu para ser uma cobaia de experiências em Marte, não... Eles decidiram isso por nós... Você entende, Onyx?

Ela não responde e vira o rosto para não olhar para ele. Tomas abaixa os olhos e funga. Limpa as lágrimas.

 - Eles não podem continuar com isso. - diz. - Então... Nada disso é pessoal... Mas você... Você é muito pessoal para mim, Onyx... Eu te amo.

Ele pega um travesseiro que está sobre a cama e o levanta. Onyx arregala os olhos, mexendo o corpo enquanto se contorce e Tomas coloca o travesseiro sobre seu rosto. Ele não consegue segurar algumas lágrimas que escorrem enquanto força as mãos. Aos poucos as lágrimas param, assim como Onyx. Ele respira fundo, seu rosto mudando de tristeza para certeza.



As batidas nas portas de aço ecoam pelos corredores escuros.

 - RUTH!! - grita Sara, em frente à Enfermaria. - RUTH, ESTÁ ME OUVINDO?!

Não há resposta. Sara olha para as portas, coloca os dedos entre elas e tenta puxá-las, mas sabe que é em vão. Ela precisa de algo que a ajude a abri-las, de alguma forma. Se volta para o caminho que leva à sala de máquinas superior e ia começar a andar na direção dela quando algo ilumina suas costas. Rápida, ela se volta, a arma em punho.

 - Hugo. - sussurra.

O soldado está com uma mão segurando a lanterna e a outra que segura o pé de cabra para o alto. Sara suspira e baixa a arma.

 - Ah, meu Deus...

Ela avança na direção dele e o abraça. Ele não sabe como responder, ela percebe, mas mesmo assim o aperta em seu abraço e se deixa estar ali por um tempo.

 - Achei que tinha perdido você também... - sussurra. Vê o comunicador dele fora da orelha, pendendo sobre o ombro. O solta.

 - Eu... - começa Hugo, entre envergonhado e formal. Pigarreia. - Eu vim tirar a Ruth dali.

Sara assente, e ambos se aproximam da Enfermaria novamente. Não demora para que Hugo repita o processo de forçar as portas e logo elas se abrem. Sara ilumina o interior, ansiosa.

 - Ruth? - chama.

Ela entra, e Hugo a segue, antes iluminando ambos os lados do corredor. As lanternas iluminam a maca, a Cápsula, o armário. Está vazio. Sara leva a mão ao comunicador, mas vê Hugo se abaixando no chão. Ele levanta a mão, segurando o comunicador de Ruth.

 - Ela está sem. - diz.

Sara olha em volta. Não era possível... A luz de sua lanterna ilumina algo na parede e ela se aproxima, devagar.

 - Hugo... - chama, baixinho.

Hugo se levanta e vai até ela. Ele a olha e depois segue seu olhar para o feixe de luz, que ilumina a ventilação aberta.

 - Onde isso vai dar? - pergunta ele.

 - Em todo lugar. - responde Sara, os olhos perdidos. - Em todo lugar.

[RECADO DO AUTOR: Oola!! Como foram esses dois últimos capítulos? Eu espero que estejam bons 😅 Também quero saber se você já sabia, desconfiava ou nunca imaginou quem seria o "impostor"... A revelação foi uma surpresa tipo "O Q?? NAAAAO" ou tipo "MAS QUE &#*^#" ?? Conta pra mim!!]

AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora