AMONG US - A trama

21. A missão

A porta do dormitório se abre e Sara entra. Ela anda na direção de Léo, que se levanta ao vê-la entrar. Ela empurra o painel pessoal no peito dele.

 - Eu sei. - diz. Sua voz treme, mas não é indecisão: é raiva. - Eu sei.

 - O que...? - faz Léo, segurando o painel e olhando para ele.

Sara vira de costas. Léo olha para o símbolo do Alto Comando na tela, depois para a capitã. Aperta a mensagem. Um vídeo abre na tela.

"Essa é uma mensagem de emergência pra todas as 'Mother' à caminho de Marte. O Projeto Marte foi descoberto, e os governos  e exércitos do mundo estão agindo para extinguir os rumores. No entanto, estamos recebendo mensagens da nossa frota colonizadora, relatando ataques coordenados contra a tripulação. O grupo terrorista SINTESE possui adeptos dentro da NewSpace e do Exército e já confirmou que os ataques são estratégia sua. Estão tomando as nossas naves ou destruindo-as. Essa mensagem é um aviso e uma carta branca aos nossos capitães: protejam as cobaias. Façam o que for necessário para proteger o Projeto. A NewSpace tomará as devidas providências quando chegarem à Marte".

A tela escurece: fim da mensagem. Léo olha para Sara:

 - O que significa isso? - pergunta.

 - Você me diz. - diz ela. - Sol recebeu essa mensagem e falou com Lucas sobre alguém na tripulação que tinha essa informação. Esse alguém era você.

Léo balança a cabeça, olhando novamente para o painel, sem entender.

 - Eu não sei do que ele falou. - diz. - Sara, eu não sei nada sobre isso... Estamos carregando cobaias?

Sara vai até ele e pega o painel pessoal. Se encaram, próximos um do outro.

 - O que você ia fazer, Léo? Matar todo mundo ou destruir a nave? Qual era o plano?

Léo abre a boca. Ele não sabe o que responder. Ele está confuso.

Sara se vira, caminhando para a porta.

 - Sara, espera! - exclama ele. - Eu juro que não sei nada sobre isso.

Ela sai do quarto. No corredor, respira fundo, não consegue se segurar e solta um grito gutural, enquanto escorrega na porta, sentando no chão. Solta o painel pessoal, que cai no chão com um barulho seco.

Cobaias... Todas aquelas pessoas... Cobaias? Lucas e o fungo tomando seu corpo, as deformações nos colonos, tudo aquilo estava acontecendo por baixo dos panos daquela missão. Essa era a missão à qual Lucas tinha se referido, e que Sol tinha conhecimento: utilizar material biológico no corpo dos colonos, possivelmente material biológico encontrado em Marte. Mas, por que? Adaptação?

Sara não se importa em ser vista naquele estado quando Ruth se aproxima. A segunda em comando corre em sua direção ao vê-la no chão.

 - Sara! - exclama, se abaixando e lhe tocando o rosto. - O que foi? Você desmaiou? Ei...

 - Ruth... - sussurra Sara. - Eu descobri porque ele matou a Sol. E o Lucas.

Ruth olha para ela. Sara lhe estende o painel pessoal.

Na Administração, a equipe está em volta da mesa, enquanto a projeção do vídeo sobre a mesa termina. Onyx, sentada, tem as mãos sobre a boca, enquanto de pé atrás dela Tomas a segura pelos ombros. Laura e Wilson também estão sentados. Hugo está de pé, os braços cruzados.

 - Bom... - sussurra Ruth. - Agora todos nós sabemos o motivo.

Hugo a encara. Ruth abre a boca para dizer algo, pois não dissera aquilo como um ataque à Léo, mas não diz nada. Observa Hugo mexer a cabeça em negação.

 - O que a gente vai fazer? - pergunta Onyx. - Quer dizer... Claramente a gente não devia saber disso.

 - A gente vai levar a nave para Marte. - responde Sara. - E quando chegarmos lá, cada um de nós vai decidir o que fazer quanto à isso.

Wilson ri, irônico. Todos olham para ele.

 - Você fica aí... Dizendo o que vamos ou não vamos fazer... E como a principal representante do Exército na nave quer que nós acreditemos que não sabia disso? Que magicamente descobriu essa mensagem?

Laura se levanta.

 - Ninguém mais tem paciência com você, Wilson. - diz. - Já passou dos limites há muito tempo.

 - É mesmo? - pergunta Wilson. Ele se levanta, e conforme fala sua voz fica cada vez mais alta, sua expressão rubra. - Quais limites? Você ouviu a mensagem: estava se dirigindo aos capitães, enquanto os governos e o Exército faziam o trabalho sujo de esconder a verdade, como sempre! Estão usando nossos colonos como... Cobaias, e a nossa missão tinha uma missão maior acontecendo, então de qual limite a gente está falando?! Ou vocês vão me dizer que tudo bem a gente aceitar que mil e quinhentas pessoas estão sendo tratadas como animais e eu não posso desconfiar de que vocês sabiam algo sobre isso?

Ele bate na mesa dá um grito de "Porra!". Laura tira sua arma e aponta para ele.