37. Ar parte 2

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A luz da lanterna de Sara ilumina a porta aberta, seguindo para os painéis do controle de oxigênio da nave. Sara se aproxima, analisando os números e ponteiros, as sobrancelhas franzidas.

 - E então? - pergunta Ruth, atrás dela, a lanterna iluminando um dos lados do corredor.

 - Parece que está tudo certo. - diz Sara. - O Tomas não mexeu aqui.

Ruth aperta os olhos e olha para a capitã. Sara se volta para ela:

 - Chegamos antes.

Ruth balança a cabeça. Tem algo errado.

 - E se ele não vier para cá? - pergunta. - Foi muito fácil saber o que ele faria, e se a ideia era nos trazer para cá?

Ruth vasculha o corredor ao seu redor, a lanterna iluminando as paredes vazias e frias. Sara fala ao comunicador.

 - Hugo! Hugo, aqui está tudo certo... Tome cuidado, ele pode se aproveitar que você está sozinho...

Um tiro soa. Sara grita, assustada, e e vira para trás. Observa Ruth cair no chão, os olhos perdidos, a boca semiaberta. Seu corpo bate no chão com um ruído abafado.

 - Ruth! - grita Sara, se abaixando. Ela se aproxima do corpo e o balança: Ruth está morta, a bala fora certeira em sua cabeça. E então novamente um tiro soa, passando próximo à ela. Sara pega a arma e atira também, para o lado do qual viera o tiro, e apaga a sua lanterna. No completo escuro, ela se levanta com dificuldade, os olhos embaçados, e corre pelo corredor, se afastando. Os barulhos de seus passos parece ter alertado Tomas, pois ela consegue ver o brilho da lanterna dele, momentos antes de outro tiro soar, acertando-a no ombro.

Uma dor alucinante percorre seu corpo. Sara vira o corredor, praticamente se jogando na direção do Laboratório. Seus passos a levam para a ventilação, pela qual ela se arrasta, ofegante.

 - Hugo... - chama, pelo comunicador. Sua voz está embargada. - Hugo, Ruth está morta.

No meio do corredor escurecido, Hugo para de andar.

 - O quê?! - grita.

"Ele matou a... A Ruth....".

Hugo encosta numa parede. Suas mãos começam a tremer.

"Eu te encontro aí", diz Sara. "Fica aí".

Hugo engole em seco.

 - Eu não estou no dormitório. - sussurra.

Faz-se silêncio. Hugo abaixa a cabeça, a respiração pesada.

 - MAS QUE MERDA, ONDE VOCÊ TÁ?! - grita Sara, a voz ecoando nas paredes ao seu redor. Ela sabe que não devia ter gritado, mas todo o seu corpo treme, sua voz está estridente, sua cabeça não está funcionado como ela gostaria. E Hugo não responde. Sara abaixa a voz. - Hugo, você não foi para o re...

Ela para. Do outro lado da nave, Hugo respira fundo.

 - Eu sei o que estou fazendo, Sara. - diz.

 - Você não devia ter saído!!

A respiração dela perde totalmente o compasso. Ela começa a sentir como se as paredes da ventilação estivessem espremendo-a, como se o ar que estivesse ali não fosse o suficiente. Suas mãos tateiam ao redor enquanto ela se puxa desesperada procurando uma saída. 

Hugo, por sua vez, se desencosta da parede e segue seu caminho pelo corredor. Consegue ver as portas do reator e, mancando, se aproxima delas. Se apoia na parede, aperta alguns botões no painel e tira o crachá, passando-o. Ao invés de as portas se abrirem, o painel emite um apito diferente e uma mensagem aparece: SENHA REQUERIDA.

Os dedos de Hugo tremem enquanto ele aperta os dígitos. Espera. "SENHA INCORRETA" aparece no pequeno visor do painel.

 - Merda. - diz o soldado, voltando a digitar.

Ele digita novamente, mais lentamente para ter certeza de que estava colocando a senha certa, quando ouve passos se aproximando. Olha para trás, atento, e então novamente para o visor. O ruído dos passos parece vir da sua esquerda, no sentido da Elétrica. Hugo engole em seco e olha para o visor novamente.

SENHA RECONHECIDA. PROCEDIMENTO DE SEGURANÇA ATIVADO. REATOR TRANCADO.

Hugo suspira. Os passos soam mais altos. Hugo olha para o corredor e apaga a lanterna.



As mãos de Sara empurram o gradeado da ventilação com força e ela se arrasta para fora. Seu corpo toca a superfície fria do chão e ela se puxa, se encolhendo um pouco. Respira fundo, enquanto sente a estabilidade do lugar, e a sensação de claustrofobia se esvai aos poucos. Um flash do tiro na cabeça de Ruth passa por sua mente e ela grita, um grito rápido e seco, colocando o rosto entre as mãos.

Aos poucos, Sara se senta e pega a lanterna. Sua respiração se estabiliza. Ela acende a lanterna, a luz iluminando o rosto morto de Sol, banhado no líquido alaranjado da cápsula.

AMONG US - A tramaOnde histórias criam vida. Descubra agora