AMONG US - A trama

31. Entrada sem portas

 - Capitã, espera...

A voz de Hugo sai cansada, enquanto anda de maneira rápida para acompanhar Sara. Ela mal ilumina os corredores e salas ao passar, continuando seu caminho depressa. Ela entra na Administração e começa a falar, sem ao menos saber se Hugo entrou atrás dela.

 - Eu não acredito que isso estava à nossa frente o tempo todo. - diz. - Eu sou tão... Estúpida.

Hugo a observa, enquanto ela se abaixa e pega o "Guia".

 - Do que você está falando?

 - Aqui. - Sara abre o livro e vasculha entre as páginas, encontrando o mapa das ventilações que vira momentos antes. Hugo se aproxima para ver melhor. - As ventilações estão por toda nave, exceto a área do reator, o que faz sentido. Mas o que nos interessa é isso.

Ela aponta para o Depósito.

 - Como alguém rouba das caixas da Enfermaria e entra no quarto de Sol sem ter acesso, e sem ser visto? Existe uma ventilação ali e se você souber o caminho pode ir direto para o quarto de Sol. Da mesma maneira que existe uma ventilação no Laboratório de Lucas, o que torna inútil pensar que somente Wilson, Léo ou eu poderíamos ter acesso à roupa de proteção. Qualquer um pode ter usado as ventilações para... - a voz dela falha um pouco. - Para matar eles.

 - Foi assim que Wilson entrou na sala dos Escudos... - sussurrou Hugo. Sara o encara. - Mas Wilson parecia muito desconfiado do Exército, e muito confiante da NewSpace. Não acho que ele deixaria tão claro uma antipatia por nós se fosse a pessoa que estávamos procurando.

Sara anda pela sala.

 - Não... Léo pode ser rebelde, mas não tem uma causa. Por outro lado Wilson tem uma causa com a qual se  importa, e muito arriscada para dar tanto na cara... Não podemos pensar por esse ângulo, precisamos ver os fatos.

Hugo, que estava observando o mapa, levanta a cabeça.

 - A sequência de mortes. - diz. - Se o integrante do SINTESE precisa tomar a nave, não importa quais pessoas ele vai matar primeiro, contanto que mate todas elas. Mas nós sabemos que Sol morreu logo depois de receber uma mensagem do Alto Escalão. Lucas morreu depois dela porque também sabia da mensagem. Mas toda a equipe da NewSpace sabia de Lucas porque Léo contou para eles.

 - Sim. - Sara se aproxima de Hugo. - Sim, eles sabiam. Mas só uma pessoa sabia antes de todos eles, antes de Léo contar sobre a conversa. Uma pessoa sabia que Sol tinha recebido a mensagem...

Hugo baixa os olhos para o mapa, olhando diretamente para uma sala específica. Comunicação.

 - Tomas... - sussurra. Seus olhos se apertaram. - Ele forjou a queda da comunicação. Hackeou o sistema e acobertou isso com a queda de energia que ele mesmo fez acontecer! Sabia que Onyx tinha dado o sonífero para o Wilson e usou isso para despistar qualquer suspeita dele! Ele... Ele está com a Onyx.

Os dois se encaram. Hugo suspira e se encosta no armário e Sara grita, de raiva, esmurrando a mesa.

 - MAS QUE DROGA! - grita.

Ela deixa a cabeça baixa por alguns segundos, sentindo o sangue quente. Então se levanta.

 - Ruth. - diz. - Ela não sabe.

No Depósito, com certa dificuldade, Ruth abre a ventilação, se empurrando para fora dela. Aperta os olhos tentando acostuma-los à escuridão e então anda entre as caixas, abrindo-as. Suas mãos remexem no interior delas, até encontrar o que precisava: uma lanterna. Ela a acende.

- Oi? - chama, enquanto segue na direção da Comunicação. - Tem alguém aí?

Não há resposta. Ruth abraça o próprio corpo, seguindo pelo corredor. Onde estava todo mundo? Ela se aproxima da Comunicação, as portas abertas, e observa a sala vazia e as telas escuras.

- Mas o que... - sussurra.

E então ouve algo. Muito, muito baixo, mas ela consegue ouvir. Se aproxima dos controles, sendo guiada pelo seu ouvido, até um dos fones pendendo da mesa de controle. Parece uma voz falando através de um chiado forte. Ruth pega o fone e o coloca.

Quando ela sai da Comunicação, está animada. Anda rápido pelo corredor, um fulgor no rosto.

- Sara? - chama, enquanto avança. - Hugo?

Ela vê uma luz à frente e acelera o passo. A luz está parada, saindo da sala dos escudos. Ruth se aproxima, confiante de que encontrará alguém, e então para, quando finalmente vê.